Você conhece estudantes assim?
Ela chega de mansinho, na infância. Persistente, se fortalece na pré-adolescência. Vitoriosa, explode na adolescência.
A criança que entra na escola encontra desde muito cedo um ambiente que reproduz a competitividade de nossa sociedade: padrões bem claros de comportamento, estética e valores vão sendo discretamente impostos, no convívio com os colegas. Ali começa a se estabelecer que o certo é ser “normal”: bom em todas as matérias, ser o melhor da turma, ser magro, bonito, ter cabelo “bom”, ser popular, querido por todos. Isso sim é ser uma pessoa de sucesso.
Embora a criança não compreenda racionalmente nada disso, devagar vão se incorporando em seu inconsciente todas essas “verdades”. Está plantada a semente da frustração. Porque ninguém consegue atender a todos esses padrões, a esse modelo “ideal” de existir. A criança aprende desde muito cedo a competir, comparar, buscar ser o que lhe parece certo. Cresce nesse meio engessado, em que não pode ser ela mesma, e aprende a camuflar sentimentos, a mascarar sua forma de ser e sentir, para se encaixar no modelo vigente – tudo para ser “normal”!
No período do Ensino Fundamental cada criança segue da maneira que dá conta, atendendo à pressão. Muitas são comunicativas por natureza e tornam-se populares. Outras, introspectivas, sentem que são inadequadas. Muitas têm facilidade com os estudos e sentem-se vitoriosas. Outras já manifestam não gostar dessa ou daquela matéria e vão apresentando dificuldades. Muitas sentem-se bonitas, bem-sucedidas, admiradas. E outras tantas totalmente inadequadas.
Como nessa época a escola é o local de maior socialização, é ali que vão se estabelecendo todos os paradigmas. No ambiente escolar a criança vai se sentindo bem ou mal. E os resultados dessas experiências vão se incorporando à sua personalidade: sucesso ou fracasso.
A pressão nos estudos aumenta. O currículo educacional rígido imposto pela realidade acadêmica atende ao perfil de alguns pré-adolescentes, mas agride a forma de ser de outros tantos. Porque não respeita a diversidade, não considera as individualidades, os talentos pessoais, os potenciais diferenciados. Existe um padrão único considerado ideal, e quem não se encaixa nele vai sentindo que é fracassado.
E chega o Ensino Médio! Carregado de expectativas e receios. Mostra-se ao aluno a necessidade de foco total, de garra, concentração e estudo, para a conquista do grande objetivo: entrar na Universidade. Uma época que necessita de um jovem seguro, tenaz, resiliente e que suporte tamanha pressão. Mas, como resultado de uma história que começou lá na infância, muitos se sentem exatamente ao contrário disso: incompetentes, inadequados, complexados, vulneráveis, frágeis.
Assim, no período fundamental da vida, em geral no terceiro ano do Ensino Médio, está preparado o terreno para a explosão da “Síndrome do Desânimo Existencial”. Forjada na história de vida que transformou muitas crianças com imensos potenciais em adolescentes que sentem-se incompetentes.“Síndrome do Desânimo Existencial” é um termo que criamos para designar um comportamento emocional que, em nosso trabalho de oito anos com adolescentes em fase de decisão profissional, detectamos ser cada vez mais frequente: jovens que chegam ao final do Ensino Médio com seu estado emocional totalmente comprometido.
Pressionado por tantas demandas, acadêmicas, sociais, pelas expectativas familiares, e sem perceber valor em tudo isso, o jovem, frustrado por sentir-se “desencaixado do modelo vigente”, começa a desanimar-se. Desiste do esforço dos estudos, muitas vezes tranca-se em seu quarto, deixa de socializar-se, isola-se. Muitos entram em depressão.
Pais e escolas, que trabalharam ao longo de anos para levar o jovem a ser bem sucedido nesta sua primeira decisão de vida, o caminho profissional, sentem-se impotentes para ajudá-lo. O que fazer?
Os resultados de nosso trabalho de orientação profissional não nos deixa dúvidas: é absolutamente fundamental oferecer aos estudantes destas novas gerações um sentido para seus estudos e para suas vidas. Eles precisam saber pelo que estão lutando. Precisam de uma missão de vida. Precisam dar significado a tanto esforço no Ensino Médio.
Então, surge a importância vital de oferecer ao estudante um processo em que ele descubra quem é, conheça seus potenciais, suas habilidades, seus pontos fortes e um caminho profissional que dê sentido aos seus estudos. Afinal, “se você não sabe pra onde ir, qualquer caminho serve”. E “qualquer caminho” é algo muito vago pra justificar tanto esforço.
As escolas estão cada vez mais envolvidas pelo desafio de cumprir o currículo acadêmico, a fim de levar o aluno a estar preparado para os vestibulares e ENEM. E paradoxalmente, cada vez têm menos condições de dedicar-se a orientar seus estudantes na questão da decisão profissional. Fica então um “buraco”, um vácuo que precisa ser preenchido por uma boa experiência: a escolha bem sucedida do curso universitário. É esse quesito que determina o sentido, ou a falta dele, na motivação para os estudos.
Tão importante quanto oferecer um excelente currículo acadêmico, é proporcionar a cada estudante uma oportunidade de reflexão sobre seu futuro profissional. Assim, sabendo onde quer chegar, o aluno pode se motivar para os estudos. E com certeza pode-se ajudar o jovem fragilizado pelo seu histórico de vida, a enfrentar e superar a “Síndrome do Desânimo Existencial”.