Nos últimos anos, os debates sobre a consciência ambiental vêm ganhando destaque na mídia e em diferentes setores da sociedade. Por conta disso, os direitos dos animais também passaram a ser mais discutidos, trazendo à tona uma das principais questões no mundo atual: os zoológicos.
O hábito de manter animais em cativeiro não é uma prática nova. No entanto, o que começou como uma demonstração de poder e riqueza, hoje pode ser entendido como uma forma de violência. E há quem diga, ao contrário, que os zoológicos são uma maneira de preservar diferentes espécies — sobretudo aquelas em extinção.
Independentemente do ponto de vista assumido, fato é que o assunto abrange diferentes questões, o que o torna um possível tema para a redação de vestibulares. Pensando nisso, a equipe do Imaginie elaborou um conteúdo completo para te ajudar a construir uma tese embasada e saber como defendê-la. Vamos lá?
Uma breve cronologia
Os zoológicos — ou a prática de cercear animais exóticos em espaços privados — surgiram na Antiguidade, como uma forma de demonstrar poder e riqueza. Não raro, animais considerados exóticos eram exibidos em jardins privados, que pertenciam à monarquia ou ao império.
Com o passar dos anos, no entanto, a pressão social fez com que os zoológicos passassem a se preocupar com a saúde e o bem-estar dos animais. Esse foi um movimento mundial — e, no Brasil, resultou na criação de inúmeros projetos de conservação.
Em 2018, por exemplo, a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZZAB) assinou um Termo de Compromisso com o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente. Nele, foram selecionadas 25 espécies de animais que deveriam ser cuidadas pelas instituições brasileiras. Cada instituição aderiu ao Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção e passaram a ser totalmente responsáveis pelo seu cuidado e reprodução.
- Leia também: 10 modelos de introdução para redação
Qual é o papel dos zoológicos na preservação de animais?
Os zoológicos, atualmente, são responsáveis por diferentes projetos de preservação de vida selvagem. Isso porque contam com institutos de pesquisa focados em entender melhor as necessidades desses animais, bem como em elaborar possíveis ações para a melhoria da sua qualidade de vida.
Um dos casos mais conhecidos é o do mico-leão-dourado. No final da década de 1990, estimava-se que existiam apenas 200 desses animais na natureza, o que fazia com que a espécie estivesse à beira da extinção. Diante desse cenário, diferentes zoológicos do mundo, órgãos ambientais, ONGs e pesquisadores, portanto, formaram uma “força-tarefa” para salvar a espécie. Cerca de 30 anos depois, havia mais de 3.200 indivíduos em vida livre.
O mesmo processo se observa, em diferentes zoológicos do país, com outras espécies de animais, como os muriquis, diferentes tipos de papagaios e araras, e mesmo a onça pintada.
Conheça o trabalho de preservação de alguns zoológicos do Brasil
Para ilustrar melhor o papel dos zoológicos na preservação de diferentes espécies, separamos algumas das principais instituições nacionais com esse foco. Confira!
Zoológico da Quinta da Boa Vista
O zoológico da Quinta da Boa Vista é, hoje, o mais antigo do país. Localizado na antiga residência da família real no Rio de Janeiro, o espaço hoje é dedicado ao cuidado de diferentes espécies.
Em 1985, deixou de ser apenas um espaço para a exibição de animais e se transformou na Fundação RioZoo, um local para pesquisa e educação ambiental. A mudança também possibilitou um processo de modernização de práticas e estruturas que, junto à iniciativa privada, resultou na criação, em 2020, do BioParque do Rio, com foco na preservação da vida selvagem.
Fundação Zoológico de São Paulo
A Fundação Zoológico de São Paulo é a responsável por desenvolver a reprodução de uma das aves mais raras do mundo, a Arara-azul-de-lear, quase dizimada pelo tráfico de animais. É a única instituição do mundo que conseguiu sucesso na reprodução da espécie.
Para que o trabalho dê certo, porém, é necessária uma ação conjunta de diferentes zoológicos do mundo. A formação de casais reprodutores pode envolver o envio ou o recebimento de machos e fêmeas, aumentando as chances de uma reprodução saudável.
Outros animais sob o cuidado do Zoo de São Paulo são o mico-leão-preto e a onça pintada, além de aves, répteis e anfíbios. O espaço também conta com animais nativos e com risco de extinção, que são mantidos em uma área sem visitação pública, cuja finalidade é apenas a conservação das espécies.
Zoológico de Curitiba
O Zoo de Curitiba é um dos principais zoológicos do Brasil quando o assunto é a preservação de animais e o seu retorno para a vida selvagem. A instituição já trabalha com a reprodução de papagaios ameaçados há mais de duas décadas.
Depois da reprodução segura das aves, elas passam por um processo de adaptação para serem devolvidas à natureza. Nele, aprendem a comer com base no que está disponível, a fugir de predadores (inclusive humanos) e a aperfeiçoar o voo em liberdade.
- Leia também: Por que e como utilizar dados para redação?
Como o zoológico pode ajudar em casos de acidentes climáticos?
A atuação dos zoológicos, hoje, é uma maneira de preservar sobretudo espécies ameaçadas — mas não só.
No Brasil, o número de acidentes climáticos, como as queimadas, vêm aumentando exponencialmente, um resultado direto das mudanças climáticas. Os prejuízos para os seres humanos são muitos, mas, para os animais, podem ser ainda maiores.
A falta de alimentos e de locais seguros para reprodução são apenas dois dos diversos fatores que podem levar à extinção. Somados ao desmatamento, à caça e ao tráfico ilegal, torna-se praticamente impossível para esses animais sobreviver.
Nesse cenário, a atuação dos zoológicos é imprescindível. É importante pontuar, inclusive, que muitos dos animais “recebidos” por essas instituições advêm de apreensões de tráfico silvestre ou são espécies que sofreram algum acidente e que, em geral, não podiam ser recebidos por outros espaços de pesquisa e preservação.
Quais os lados negativos desses locais?
Apesar do trabalho para a preservação de espécies em extinção, os zoológicos ainda são alvo de várias críticas, sobretudo dos defensores dos direitos dos animais. Os argumentos variam, mas, em geral, podem ser resumidos em dois grandes grupos: o cuidado com esses animais e o caráter financeiro dos zoológicos.
Entenda melhor cada um desses argumentos a seguir!
Consequências dos cativeiros para animais
Os animais criados em cativeiro têm mais chance de sofrer de estresse e tédio. Sobretudo quando são mantidos isolados e em pequenos espaços, não é incomum que eles sintam os efeitos negativos, ficando mais deprimidos ou, em outros casos, mais agressivos.
As brigas entre diferentes espécies nos zoológicos não é incomum. Para alguns, isso pode ser um reflexo do que acontece na natureza, mas a verdade é que animais em confinamento ficam mais propensos a tensões e estranhamentos, mesmo entre a sua própria espécie.
O mesmo acontece com animais deprimidos, sobretudo nos casos em que filhotes são separados dos pais. Além de quebrar laços de gerações, esses indivíduos podem ser vendidos ou trocados, sendo, então, enviados a outros zoológicos. A separação permanente pode ter efeitos negativos para os bichos.
Também é importante pontuar que animais criados em cativeiro podem ter uma expectativa de vida mais baixa, a depender do tipo de tratamento que recebem.
Além disso, o seu retorno à natureza, se não for feito de maneira adequada, pode comprometer a espécie selvagem, já que os animais são menos diversificados geneticamente e podem ter mais dificuldades para encontrar parceiros.
O olhar mercadológico dos zoológicos
Embora atuem com a preservação de espécies ameaçadas, os zoológicos ainda são grandes centros de exposição de animais silvestres e exóticos. Por isso, adotam algumas medidas para atrair mais público e, consequentemente, vender mais ingressos.
Uma dessas medidas, frequentemente apontadas pelos defensores dos direitos dos animais, é o incentivo para a reprodução. Isso acontece porque os filhotes costumam atrair mais visitantes e, por isso, geram mais dinheiro. A consequência, no entanto, é o excedente de animais — que podem ser vendidos a outros zoológicos, mas também há casos de vendas para circos ou comércios exóticos. Em alguns zoológicos, esses animais são mortos.
Outras decisões focadas em ganhos financeiros também podem impactar a vida desses animais, como a exposição forçada, a adaptação a ambientes muito diferentes daqueles em que nasceram, o racionamento de alimentos e água, a falta de fontes frescas, de exercícios e de estímulos etc.
Evidentemente, nem todos os zoológicos adotam práticas prejudiciais aos animais. No entanto, não são poucas as denúncias de maus tratos. Desse modo, é fundamental que haja uma fiscalização recorrente e atenta das práticas adotadas nesses espaços.
É importante pontuar, ainda, que o argumento da preservação de espécies em extinção também deve ser entendido com cautela. É verdade que a ação humana prejudica uma série de animais e que essa postura deve ser punida e revista, mas o desaparecimento de certas espécies é natural e faz parte do processo de evolução. Nesse sentido, devemos nos perguntar se a sua reprodução forçada deve ser defendida, ou se bastaria adotar ações mais sérias de combate ao desmatamento e às práticas ilegais em áreas de mata fechada.
Legislação
No Brasil, o estabelecimento e funcionamento dos zoológicos é determinado com base na Lei nº 7.173, de 1983.
O seu artigo 7º define que essas instituições “deverão atender aos requisitos mínimos de habitabilidade, sanidade e segurança de cada espécie, atendendo às necessidades ecológicas, ao mesmo tempo garantindo a continuidade do manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e conforto do público visitante”. No entanto, não há nenhuma exigência para a instauração de projetos de pesquisa e preservação nesses espaços.
Outra lei importante para os zoológicos é a Lei nº 5.197, de 1967, que dispõe sobre a proteção à fauna. Esta é a lei que proíbe a caça profissional e o comércio da fauna silvestre, além de permitir aos cientistas uma licença especial para a coleta de material destinado a fins científicos.
Em relação ao direito dos animais, a legislação brasileira foca em animais domésticos, sendo poucas as referências aos animais silvestres. Isso pode apontar para a necessidade da criação de leis orientadas à vida dessas espécies, focando na sua proteção.
Aumente seu repertório sociocultural sobre o tema
Para entender ainda mais sobre os lados positivos e negativos dos zoológicos, que tal conhecer alguns filmes e documentários sobre o assunto? Desse jeito, você aumenta o seu repertório sociocultural e ainda se familiariza com dados sobre o tema. Confira!
Blackfish: Fúria Animal (2014)
O documentário acompanha a vida de Tilikum, uma baleia usada em apresentações que matou várias pessoas quando ainda estava em cativeiro. Ele investiga o tratamento que esses animais recebem durante o treinamento e as consequências dessas ações — tanto para a espécie, quanto para os visitantes.
Além disso, são levantadas questões sobre o olhar mercadológico e focado em lucros desses espaços.
Virunga (2014)
Neste documentário anglo-congolense, conhecemos a luta de conservação do parque nacional de Virunga, da República Democrática do Congo. O filme acompanha a atuação dos guardas do parque, que arriscam a própria vida para proteger os animais em risco de extinção.
Os segredos do zoológico (2018)
Nesta série documental, o espectador é levado ao Zoológico e Aquário de Columbus, um dos maiores e mais populares dos Estados Unidos. A partir das histórias contadas, podemos conhecer a equipe responsável por cuidar da preservação dos animais e entender melhor o seu papel na manutenção da vida selvagem aquática.
Máfia dos tigres (2020)
A série documental acompanha a história real de Joe Exotic, o dono de um zoológico obcecado por felinos de grande porte e capaz de tudo para ficar famoso. Quando uma ativista animal ameaça os seus negócios, Joe se torna o principal acusado de encomendar um assassinato.
Mission Blue (2022)
O documentário foca na atuação da oceanógrafa Sylvia Earle e na sua missão de salvar os oceanos do mundo de diferentes ameaças, como a pesca abusiva e os resíduos tóxicos. Para isso, acompanha uma equipe de mais de 100 pessoas, sob o comando de Earle, que viaja para as Ilhas Galápagos e idealizam parques subaquáticos que protegem o ecossistema.
- Leia também: Como fazer um esqueleto para produção de redação?
Confira uma redação pronta
Agora, para se inspirar, leia uma redação pronta sobre o tema “Debate sobre os zoológicos: ambientes de preservação ou de desrespeito aos animais?”.
A música “Zoológico”, escrita pela cantora Xuxa, traz premissas como [1], por exemplo, a “Vem brincar no zoológico”, assim remetendo a importância educativa do espaço destinado aos animais. Por analogia, é visualizado, na realidade, um debate sobre estes ambientes, os quais podem ter funções de preservação ou de desrespeito ao depender de diversos panoramas. Nesse sentido, é inferido como conjunturas do tema a emissão da conservação e a desnaturalização dos animais. [8]
Em primeira análise, a ficção “Jurassic Park” enuncia as práticas para a criação de espaços para os dinossauros, ao possuir como motivo principal da realização [2] o retorno financeiro e negligencia as estruturas [9], ademais o bem-estar dos répteis. Nessa óptica, os centros de conservação tem o papel original de resguardar os animais, porém por óbices, como a falta de investimento ou verbas, é inviável a representação adequada, dessa forma, a administração é precária e a animalia é acometida pela inviabilidade de ações, como eludir a extinção de espécies e zoológicos mais estruturados. Desse modo, faz-se imprescindível a dissolução dessa problemática.
Em segunda análise, o filme “Madagascar” exibe bichos animados que fogem do Zoo [3] de Nova York para os seus ecossistemas, haja vista, que jamais tiveram contato com áreas naturais e não conseguem habituar-se. Nesse contato [11], a limitação da natureza presente nos zoológicos é prejudicial [10], pois, ao serem mantidos como domésticos [4] perdem o senso nativo e tornam-se despreparados para a reabilitação no seu habitat, sendo assim, estes seres, em casos [5], não portam de uma vida digna. Portanto, indubitavelmente, os animais são donos dos bens ecológicos e merecem soluções efetivas.
Dado o exposto [6], cabe a iniciativa privada, em conjunto com ONGs, por intermédio da estimulação da participação de empresas voluntárias, fomentar a realização de mutirões de doações monetárias e revistas nos zoológicos em muitos países, a fim de aumentar o cumprimento das funções ecológicas [7] e a diminuição de lugares impróprios, com isso, visar o amparo aos animais, a priori em nações desfavorecidas. Feito isso, o conflito analisado na música da cantora Xuxa será um fato.
Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação com base nas 5 competências do Enem!
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
[2] Insira uma vírgula.
[3] É usual, quando se cita uma sigla pela primeira vez, descrever o que ela significa. Apesar de haver discordância entre professores, pois se trata também de estilo, é melhor evitar perda de pontos por algo tão simples.
[4] Acrescente uma vírgula aqui.
[5] Esta palavra deve ser retirada.
[9] A construção ficou confusa, refaça-a.
Competência II: compreender a proposta
[8] Muito bem! Explicitou logo na introdução a tese a ser defendida.
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
[10] Ótimo argumento, muito bem!
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
[1] Evite os pleonasmos.
[6] Introduza um conectivo para indicar a conclusão do texto.
[11] Bom uso do conectivo!
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
[7] Apresentou a finalidade da proposta. Parabéns!!
Comentário final
Sua redação contém alguns detalhes a serem retomados, mas está no caminho certo. Continue praticando!
Nota: 960
Agora é a sua vez! Depois de ler bastante sobre o tema, que tal escrever uma redação? E, para receber uma correção completa em até 24 horas, além de ter acesso a monitores e até imersões temáticas, você pode conhecer os planos da Imaginie e se inscrever!
Foto do post: Reprodução/wirestock/Freepik