Veja exemplo de redação do vestibular da Fuvest de 2015.
A queda da Casa Grande
“A ‘camarotização’ é uma nova palavra formada para identificar o processo de segregação socioeconômico atual, no entanto, apesar de se tratar de um neologismo o fenômeno não é recente e vem se construindo ao longo da história. No Brasil, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda já apontavam em suas obras as nuances que separam os mais privilegiados dos demais. Assim, a divisão de classes não beneficia a sociedade e pode representar uma afronta a existência da democracia.
De início, os grupos sociais eram demarcados pela etnia, religião e pelas relações trabalhistas. Porém, com a desigualdade econômica atingindo níveis alarmantes, o novo apartheid social lança mão do fator distintivo do capitalismo. Aliás, o princípio fundamental desse sistema é o de fomentar as diferenças. Contrariando essa ideia, Karl Marx já propunha uma luta de classes para a instauração de uma possível sociedade isonômica. Essa isonomia tem ficado cada vez mais distante, dada a recente política de cercamento e marginalização dos mais pobres.
Com isso, os efeitos dessa ordem elitista são sentidos em todas as esferas de convívio social, visto que, os que possuem maior poder aquisitivo não frequentam o mesmo sistema educacional, não se consultam nos mesmos hospitais, nem sequer costumam dividir os mesmos espaços públicos. Essa classe privilegiada, e que por consequência tem maior grau de instrução e maior visibilidade para fazer exigências, pouco faz pelos que realmente utilizam os degradados recursos públicos da saúde, educação ou transporte.
Dessa forma, o isolamento entre ricos e pobres acentuam as disparidades já construídas pelo poder monetário, uma vez que as condições necessárias para minimizar tais desigualdades estão inacessíveis. Essa estrutura impede até que a mais otimista meritocracia se desenvolva, indo de encontro aos princípios da Constituição Federal de igualdade perante a lei. Além de faltar igualdade nesse processo segregacionista, falta a equidade por parte do Estado, que é tratar com igualdade os iguais e com desigualdade os desiguais na medida necessária.
Fica evidente, portanto, que o embrião da sociedade dividida em Casa Grande e em Senzala, analisado por Gilberto Freyre, tornou-se, atualmente, mais distantes uma da outra. O camarote social que detém o poder político, econômico e cultural nada poderá mudar nos rumos que tomam o convívio social, ou a falta dele, por não ser conveniente, nem lucrativo. De fato, a luta de classes deve ocorrer no campo político, visando instaurar uma sociedade mais harmônica e democrática, proporcionando a equidistância para todos.”
Bons estudos!