A redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) representa uma das principais notas para a obtenção de uma vaga em um curso superior, principalmente quando este curso é oferecido por uma universidade pública, através do SiSU (Sistema de Seleção Unificada).
O estudante que presta a prova realizada anualmente pelo MEC em parceria com o INEP, deve demonstrar mais do que conhecimento nas competências exigidas nas provas de múltipla escolha, mas também precisa mostrar domínio da norma escrita formal. Este domínio é avaliado através da redação, que deve se apresentar de acordo com as regras estabelecidas por cinco critérios e competências obrigatórias.
As competências exigidas na redação do ENEM são:
1 – Domínio da norma padrão da língua escrita; 2 – Compreensão da proposta; 3 – Capacidade de organizar e relacionar informações; 4 – Construção da argumentação e 5 – Elaborar proposta de intervenção ao problema exposto. Cada uma destas competências pode receber uma nota variável entre 0 e 200, totalizando até 1000 pontos em uma redação que siga todos os critérios propostos com perfeição. Porém, a tão sonhada nota 1000 não é tão simples de ser obtida, e muitos candidatos caem em erros comuns e semelhantes.
Confira os erros mais comuns cometidos pelos estudantes em cada uma das 5 competências.
Erros mais comuns no Domínio da norma padrão da língua escrita
Zerar a primeira competência significa demonstrar total desconhecimento da língua portuguesa em sua norma escrita, o que pode ser feito com erros constantes e repetitivos de gramática ou ortografia. Mas, mesmo que o estudante não cometa erros o bastante para que esta competência seja zerada, pequenos erros sugam parte da nota e diminuem o total obtido na redação.
Entre os erros mais comuns cometidos pelos alunos estão:
• Erros de ortografia
As pequenas pegadinhas da ortográfica figuram como o primeiro colocado entre os erros mais cometidos na primeira competência. Ortografia é o domínio da forma correta de escrita das palavras, e é neste ponto que muitos estudantes tropeçam. Quando confundem palavras com grafia semelhante, ou se confundem na aplicação do S, SS ou Ç.
Os maiores vilões da ortografia entre os estudantes são: S, SS e Ç; CH e X; além do clássico Z e S. Mas também é possível encontrar outros vilões como acentuação errada, não adequação às novas regras da ortografia como palavras com e sem hífen entre outros.
• Erros na utilização dos verbos
Outro ponto comum de erro na demonstração de domínio da Norma Padrão Escrita está na utilização dos verbos, o que vai muito além da conjugação, ponto fraco de muitos alunos, até a regência verbal, utilização de verbos auxiliares e até mesmo gerundismo.
A conjugação do verbo está sempre atrelada ao uso de algum pronome e ao tempo verbal da frase, portanto, pequenos deslizes como “A gente íamos”, ou casos em que o candidato se esquece que “mim” não conjuga verbo podem ser fatais em uma redação.
Outro grande erro cometido por estudantes, está na utilização do particípio de verbos auxiliares, que são divididos entre particípios regulares e irregulares. Em sua forma regular, os verbos auxiliares, que são aqueles acrescentam informação ao verbo principal. Cada verbo auxiliar deve utilizar uma forma de particípio, apenas com exceção aos verbos abundantes que utilizam os dois particípios.
O uso errado da forma regular e irregular do particípio também está entre os erros mais comuns, em que temos a aplicação do particípio irregular em verbos como chegar ou trazer, gerando expressões incorretas como “ter chego” ou “ter trago”.
Outro erro comum na utilização de verbos ganhou até nome próprio: Gerundismo. O que nada mais é do que a utilização exagerada e equivocada do gerúndio, o verbo em meio a sua execução. “chegando”, “falando”, “correndo” e “escrevendo” são exemplos de verbos no gerúndio, que demonstram uma ação enquanto é executada. O uso equivocado desta forma verbal tem se mostrado um dos principais erros do brasileiro nas últimas décadas.
• Excesso ou falta de pontuação
Por mais que os professores batam constantemente nesta tecla, ainda assim a pontuação continua sendo um ponto fraco na escrita do brasileiro.
Excessos ou faltas de virgulas, traços, pontos e até mesmo o desconhecimento de como utilizar pontuações menos usuais, como os dois pontos, reticências, aspas e ponto e vírgula são hábitos que tem derrubado muitos candidatos nas redações, não apenas do ENEM, mas em concursos e vestibulares concorridos como a FUVEST ou Unicamp.
Para corrigir erros comuns na primeira competência, a solução é a leitura e a escrita, pois através da leitura observamos a Norma Escrita Formal em ação e nos acostumamos com ela, enquanto na produção textual, colocamos esta norma em ação.
Erros mais comuns na compreensão da proposta
A segunda competência avaliada na redação do ENEM está na compreensão da proposta de texto. Esta compreensão vem através da leitura e interpretação de texto, sendo que para zerá-la é necessário demonstrar a ausência de qualquer capacidade interpretativa, mas pequenos deslizes e também costumam gerar alguns erros comuns, que derrubam as notas dos candidatos.
Os erros mais comuns nesta competência são:
• Interpretação literal do texto
Toda proposta vem acompanhada de um texto, que deve ser lido e compreendido, a proposta apresentada, geralmente tem como base os argumentos apresentados nos textos de referência, e estes textos devem ser compreendidos.
Muitos textos apresentam não apenas a interpretação clara e literal, mas um subtexto, encontrado através da compreensão de figuras linguísticas. Muitos brasileiros demonstram dificuldade em compreender e interpretar o subtexto.
• Apresentação de textos que não atendam a proposta ou fujam dela
A proposta deve ser compreendida e seguida. Uma redação que apresente a proposta de analisar o problema da violência contra a mulher, como visto no ENEM de 2015, não admitirá que o candidato defenda atos de violência ou machismo, pois já estabelece o assunto como um problema.
É preciso não apenas ler, mas compreender e interpretar a proposta, para então elaborar uma redação de acordo com o tema apresentado.
Para problemas de leitura e interpretação de texto, a solução ideal está na pratica constante da leitura, tanto de livros, quanto de textos críticos que aumentem a capacidade do estudante de compreender o que é passado.
Erros mais comuns na capacidade de organizar e relacionar informações
A terceira competência trata do desenvolvimento do texto em suas ideias e estrutura. Uma redação com nota zero na terceira competência demonstra total incapacidade de apresentar ideias em um texto organizado e coerente, com informações que se relacionem.
Mesmo que muitos candidatos não zerem nesta competência, algumas vezes suas notas ficam prejudicadas por falta de ligação entre os pensamentos, ou pela dificuldade de iniciar um raciocínio e dirigi-lo até um ponto de conclusão. Os erros mais comuns na terceira competência são:
• Erro na ligação de ideias
Este erro acontece quando os pensamentos não se unem em uma linha clara de raciocínio. Como se o candidato deixasse pedaços desconexos de texto perdidos em meio a redação.
O candidato não consegue, desta forma, organizar as ideias de maneira que elas se tornem um texto único, e deixem de ser apenas fragmentos.
• Redações muito prolixas
Textos prolixos são aqueles que falam muito, mas dizem muito pouco. Alguns candidatos tropeçam ao tentar escrever de maneira mais “bonita” e estendem demais um parágrafo ou pensamento, tentando torná-lo mais plausível pelo excesso de palavras.
Este tipo de erro demonstra a incapacidade de apresentar ideias sintetizadas e claras, o que diminui a nota do estudante no final.
• Ausência de uma linha clara – Começo – Meio – Fim
A organização das ideias em um texto deve seguir sempre uma estrutura básica aprendida ainda nos primeiros anos de aula. Ou seja, uma boa redação deve apresentar, de maneira concatenada e clara, um início, uma introdução ao tema e às ideias abordadas na produção do texto. Um meio, que representa o desenvolvimento do pensamento. E por último, um fim, onde o texto é encerrado.
É comum que, perdidos em seus próprios pensamentos, a proposta de intervenção seja abordada apenas nas últimas linhas da redação, mas o fim de uma redação não deve ser usado para apresentar a proposta de intervenção e sim para fechar o pensamento de maneira concreta e definitiva, sem deixar margem para continuações.
Erros mais comuns na construção da argumentação
A base da construção de uma redação, seja para o ENEM ou para um grande vestibular, é a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo. O que significa a exposição de uma ideia com a argumentação de um ponto de vista defendido.
Uma redação pode receber nota zero nesta competência caso apresente argumentos ilógicos ou impossíveis, além de ideias que se oponham aos direitos humanos, com a defesa de propostas cruéis e desumanas. Um exemplo de argumentos ilógicos ou impraticáveis está na “defesa da diminuição da criminalidade com a criação de colônias penais em marte, porque não existe criminalidade no espaço”.
Mas não é necessário que seus argumentos sejam ridículos para que sua nota seja prejudicada, ou até mesmo zerada na quarta competência. Entre os erros mais comuns nessa competência, estão:
• Argumentos contraditórios
A apresentação de argumentos que se contradigam no decorrer do texto demonstra a incapacidade de apresentar uma ideia de maneira bem fundamentada. A contradição pode ser encontrada na afirmação de que algo ocorre por determinado motivo, e em algumas linhas a negação do mesmo motivo.
Ou a defesa de uma ideia que, ao longo do texto é derrubada pelo próprio candidato.
É necessário prestar atenção à concordância das ideias para não acabar se contradizendo ao longo da redação.
• Argumentos falhos, ultrapassados ou derrubados cientificamente
Conforme o conhecimento humano cresce, argumentos novos nascem e antigos são derrubados. Enquanto era comum, no século XV, se afirmar que a terra era chata e o centro do universo, com o desenvolvimento do conhecimento científico ficou provado que a terra é redonda e gira ao redor do sol, que é apenas um corpo celeste em meio a uma galáxia.
Da mesma forma como este argumento foi derrubado, argumentos como os meios de transmissão de vírus, ou até mesmo questões de renovação ambiental devem ser tratadas de maneira atual e com embasamento científico, para que não sejam considerados argumentos falhos.
Portanto, é importante estar sempre atualizado para não errar na hora de argumentar.
Para corrigir estes problemas de argumentação, participar de grupos ou clubes de debate pode ser uma solução efetiva, além de manter-se sempre atualizado e bem informado.
Erros mais comuns na apresentação de proposta de intervenção
A proposta de intervenção é a quinta e última competência do ENEM, e muitas vezes o grande vilão das redações, pois muitos candidatos se enrolam com a apresentação desta competência.
Uma proposta de intervenção, nada mais é do que a apresentação de uma solução para o problema apresentado com a propositura do tema, e uma redação pode ser zerada nesta competência caso não apresente uma proposta de intervenção, ou apresente uma que vá contra a lógica, a lei ou os direitos humanos, e isso é mais comum do que se pensa.
Esta competência também pode sofrer perdas de nota caso não seja bem explorada. Erros comuns entre os candidatos, neste quesito são:
• Elaboração de proposta de intervenção apenas no final
Deixar a proposta de intervenção apenas para a conclusão do texto é um erro comum entre os estudantes que prestam o ENEM.
O ideal é que a proposta de intervenção seja introduzida no texto logo após o início da exposição de ideias, para que não pareça que a solução foi apresentada apenas no final. A proposta deve ser trabalhada junto com os argumentos, aumentando a solidez da redação, demonstrando posicionamento e desenvolvimento do tema.
• Proposta contraria ou diversa ao tema exposto
Um motivo para zerar a redação, a apresentação de uma proposta de intervenção oposta à ideia do tema é um problema recorrente entre os candidatos do ENEM.
É importante prestar atenção ao tema, e elaborar uma proposta de intervenção coerente com o que foi proposto. Se o tema da redação trata sobre o problema da violência contra a mulher, na proposta de intervenção o candidato não deve defender atos de violência, ou abordar assuntos como poluição ou leis de trânsito.
Qualquer proposta de intervenção deve estar de acordo com as leis do país, apresentando soluções ao problema e não aumentando ainda mais o problema, além de se ater ao proposto.
Para solucionar este problema, o candidato pode ler textos dissertativos-argumentativos e praticar a escrita, através de redações propostas por professores ou até mesmo por programas de apoio ao candidato, como a Imaginie, que oferece a oportunidade de corrigir sua redação de acordo com os critérios utilizados pelo MEC.
Mas para todos os problemas, é importante sempre ter em mente que é preciso ler conteúdos relevantes, com um português correto. Livros, revistas e artigos científicos e filosóficos são as melhores fontes de língua portuguesa e produção textual que um estudante pode consultar.