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Século 21: desafios das plataformas educacionais

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De acordo com pesquisas recentes, mais de 250 milhões de crianças provenientes de países em desenvolvimento não estão matriculadas em escolas. Muitas das que estão, por outro lado, são incapazes de aprender os ensinamentos que deveriam ser transmitidos nesses ambientes. De acordo com estudos realizados em 7 países africanos, alunos de escolas públicas recebem menos que duas horas e meia de aula por dia, devido à alta taxa de ausência dos professores. O resultado dessa situação é que, de todos os formandos do sistema escolar público, apenas um quarto consegue atingir resultados satisfatórios em testes internacionais de avaliação escolar.

Não há dúvida de que o sistema de ensino precisa ser remodelado. Desde que Aristóteles foi contratado para ser o tutor de Alexandre, o Grande, pais vêm buscando maneiras de obter vantagens para seus filhos em relação às oportunidades futuras. O acesso ao ensino de qualidade é escasso, enquanto o que é facilmente acessível vem sendo alvo de críticas fundamentadas sobre sua qualidade. O contexto, nesse caso, facilita o aumento das diferenças entre os que podem arcar com os custos de escolas privadas em relação àqueles que não possuem alternativas.

No entanto, com a criação de novas tecnologias, como também a democratização do acesso a elas, novas soluções vêm sendo identificadas para problemas antigos. A tecnologia já transformou diversos aspectos da sociedade como um todo, seja no setor financeiro, hospitalar, como muitos outros. No âmbito acadêmico, porém, novas tecnologias vêm sentindo a resistência e dificuldade em se consolidar no mercado. Grande parte da força que essas barreiras representam tem a ver com a mentalidade conservadora dos métodos de ensino e profissionais da área. A outra, do potencial ainda não comprovado das tecnologias presentes.

Para os investidores em tecnologias educacionais, o ambiente está começando a se demonstrar mais aberto para inovações. Aportes de investidores como Mark Zuckerberg e Bill Gates facilitam a aceitação de inovações focadas em aprendizado adaptativo. Isso poderia ajudar milhões de alunos presos em sistemas precários educacionais – mas apenas se a tecnologia for criada para os alunos, e não para o mercado.

O sistema presente foi criado na Prússia, no século 18. Alternativas, até hoje, tem falhado em atender às necessidades de alunos de maneira eficiente. Salas de aula, hierarquias etárias e currículos padronizados têm sido a normativa para os mais de 1.5 bilhões de alunos atualmente. Muitos deles acabam não realizando todo o potencial que possuem. Em países em desenvolvimento, apenas um quarto dos alunos adquirem conhecimentos básicos sobre matemática, leitura e ciências. Mesmo em países desenvolvidos pertencentes ao OCDE, 30% dos adolescentes não conseguem atingir proficiência em um desses três pilares acadêmicos.

Esses dados permaneceram estáticos nos últimos 15 anos, enquanto bilhões foram gastos em infraestrutura tecnológica para escolas. Desde 2012, existe em média um computador a cada dois alunos em diversos países desenvolvidos – apenas na Austrália, existem mais computadores do que alunos nas escolas. O cenário delineia o paradoxo dessas inovações em sala de aula: mais importante do que volume ou inovação é saber utilizar e equilibrar as tecnologias disponíveis. Exemplificando, em 2010 um estudo português identificou que escolas com internet limitada e restrição de acessos a sites de entretenimento, como o Youtube, demonstraram melhores resultados do que escolas com forte apelo tecnológico.

A maneira que vem demonstrando os melhores resultados na utilização de tecnologias educacionais é a de educação assistida. Mesmo com avanços na educação adaptativa, os países ainda em desenvolvimento possuem sistemas públicos de ensino demasiadamente sobrecarregados e precários para demandar de professores a atenção e educação necessárias para a implementação de recursos tecnológicos mais avançados. Até porque, para que eles sejam devidamente utilizados, tanto o sistema de ensino quanto os profissionais da área teriam que passar por uma remodelação, focada na integração de novidades dentro dos processos educativos. Na Índia, alunos que utilizaram MindSparks, um programa voltado para o reforço escolar, tiveram os maiores ganhos no que diz respeito à proficiência em matemática e leitura. Isso, para um país cuja metade dos alunos se formam na escola primária sem saber ler, representa avanços significativos.

Inovações como essas são sempre bem-vindas. No entanto, para tirar o maior proveito de tecnologias educacionais, é necessário acabar com alguns truísmos que permeiam essa área da tecnologia. Antes de tudo, ensino personalizado precisa, para funcionar, seguir padrões de análise de dados devidamente fundamentados, utilizando os que são gerados pelos próprios alunos durante as lições, ao invés de arquétipos de estilos de aprendizagem. Segundo, a tecnologia não irá substituir os professores – pelo menos não no futuro recente. Muito se diz sobre o formato de memorização das escolas, tanto sobre não precisar de professores para ensiná-los, como também de como esse formato acaba com a criatividade do aluno. Diversos exemplos demonstram como essa falácia não se sustenta, desde a formação de Da Vinci até os estudos em latim de Shakespeare.

O objetivo dessas inovações precisa ser, invariavelmente, o afunilamento, e não a expansão das desigualdades na educação. Nos Estados Unidos, sistemas de ensino assistido e adaptativo, como Achievement First e Summit, demonstraram resultados importantes para a aceitação no sistema educacional tradicional. O Summit, que foca em alunos de baixa renda em distritos menos favorecidos, conseguiu inserir 99% dos alunos formados em faculdades.

No Brasil, a utilização do Geekie em escolas públicas já demonstra avanços na qualidade de ensino e retenção de aprendizado. Isso só foi possível após comprovar resultados positivos dos alunos inscritos. Para os próximos anos, escolas devem demonstrar mais interesse em abrir as portas para esses complementos tecnológicos. Contudo, é necessário provar que elas funcionam para os alunos, e não para finalidades de marketing.

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