Você já pensou em trabalhar fora do país? Se sim, quais foram as suas principais motivações? Talvez você esteja em busca de uma melhor qualidade de vida, ou de um salário mais alto; talvez você queira integrar as maiores empresas do mundo; talvez você só não veja perspectivas no Brasil.
Seja qual for o seu motivo, você não está sozinho: o fenômeno da fuga de cérebros vem se tornando cada vez mais comum, dentro e fora do Brasil. E, para te ajudar a entender um pouco mais sobre ele, preparamos este conteúdo completo, com um exemplo de redação pronta sobre o assunto. Confira!
O que é a fuga de cérebros?
A fuga de cérebros é um fenômeno migratório caracterizado pela saída de profissionais qualificados de um país menos desenvolvido para outro, com melhores condições de emprego e salários mais altos.
Embora seja comumente associada à vida profissional, a fuga de cérebros também afeta pesquisadores e estudantes que buscam se qualificar ainda mais. Assim, é um evento que atinge um país de forma integral, em diferentes setores.
Existe fuga de cérebros no Brasil?
Sim. O Brasil é um dos países mais afetados pela fuga de cérebros na América Latina. Até os anos 2010, o Brasil era um polo que atraía pesquisadores externos, graças ao seu fortalecimento econômico e relevância no uso de novas tecnologias. No entanto, com as crises políticas e econômicas que atingiram o país a partir dessa década, o cenário mudou drasticamente.
No ramo acadêmico, nos últimos anos, o Brasil pode ter perdido cerca de 6,7 mil pesquisadores para países do exterior. As estimativas são do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, veiculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Hoje em dia, não só muitos profissionais ativamente deixam o país para trabalhar em outras empresas, mas também muitos trabalhadores optam pelo contrato com uma empresa externa atuando na modalidade de “home office”.
Embora esta segunda opção seja menos prejudicial ao Brasil, é uma maneira de aumentar a informalização do trabalho, uma vez que esses profissionais são, em geral, contratados na modalidade de pessoa jurídica, com poucos direitos e garantias trabalhistas.
Principais motivos
A fuga de cérebros é um fenômeno intimamente associado à falta de qualidade de vida profissional. Por isso, um dos principais motivos para que profissionais e pesquisadores optem pela saída do país é a busca por condições de emprego melhores e salários mais altos.
Da mesma maneira, a busca por mais possibilidades de crescimento na carreira também pode levar trabalhadores e pesquisadores a deixar o país. Isso porque a sensação de estagnação — profissional e/ou financeira — é uma fonte de desmotivação.
Outro fator que impacta negativamente a permanência desses trabalhadores em seu país de origem é a existência de instabilidades políticas. Em geral, essas crises desencadeiam consequências financeiras, que também impactam a oferta de empregos e os pagamentos.
Por fim, catástrofes de larga escala, como a pandemia da Covid-19 ou desastres ambientais, também podem estimular a saída de cérebros de um país. Isso porque as consequências desses eventos afetam também a estrutura social, política e, é claro, econômica dos países afetados, impactando a qualidade de vida da população e a segurança de seus empregos.
Quais são os países que mais recebem a fuga de cérebros?
De modo geral, países da América do Norte e da Europa são os mais visados quando o assunto é a fuga de cérebros. Dentre os principais, estão:
- Suíça
- Suécia
- Estados Unidos
- Irlanda
- França
- Dinamarca.
Além disso, sobretudo no caso brasileiro, Portugal também vem se tornando uma opção cada vez mais atraente. De acordo com os dados mais recentes da Fragomen, uma das principais agências de imigração do mundo, entre janeiro e novembro de 2022, apenas para Portugal, as requisições aumentaram 200% em relação ao mesmo período de 2021.
Iniciativas promovidas por países
Vale ressaltar que nesse contexto, diversos países promovem iniciativas e políticas para atrair mão de obra imigrante, como a facilitação de vistos de trabalho e até mesmo a oferta de vagas remotas. Nos últimos anos, com o “boom” de empregos relacionados à tecnologia, o movimento vem sendo percebido sobretudo em áreas desse campo, mas não apenas nelas.
Confira exemplos de quatro países que ilustram bem esse panorama:
Estados Unidos
De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o país norte-americano é o que possui a maior população imigrante brasileira, com 1,9 milhão de pessoas (mais detalhes no gráfico abaixo).
Nos últimos anos, com a escassez de mão de obra norte-americana em áreas como TI, engenharia, aviação, medicina, odontologia e enfermagem, o cenário vem proporcionando uma maior inserção de imigrantes no mercado de trabalho.
Empresários brasileiros também vêm expandindo seus negócios para os EUA: desde 2016, mais de 1400 startups e companhias foram abertas ou compradas por brasileiros no país. As informações são da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
Portugal
Quando o assunto é a presença de brasileiros em Portugal, os números são expressivos. No ano de 2022, os imigrantes contribuíram para a Previdência Social lusitana com 669 milhões de euros (cerca de R$ 3,7 bilhões), valor que representa um recorde. Os dados foram divulgados pelo Observatório das Migrações em outubro de 2023.
Para facilitar a entrada de imigrantes, o país adotou uma nova modalidade de visto em 2018: chamado de Tech Visa, o documento é menos burocrático em relação a outros vistos de trabalho. Ademais, ele pode ser obtido de maneira mais rápida, por proporcionar uma fila de espera mais veloz para a análise dos procedimentos necessários.
E quem pode ser selecionado para esse visto? Candidatos que já foram recrutados por “empresas tecnológicas e inovadoras, inseridas no mercado global, que pretendam atrair para Portugal quadros qualificados e especializados”, conforme consta no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país.
Reino Unido
No ano de 2023, a nação formada por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte possuía mais de 1 milhão de vagas abertas. A falta de mão de obra atingia vários setores, como saúde, educação, tecnologia, logística, serviços, hotelaria e gastronomia. Os dados foram divulgados pelo Office for National Statistics (Departamento Nacional de Estatísticas).
Diante desse cenário, muitas empresas passaram a recorrer à imigração, contratando profissionais estrangeiros qualificados. Ainda de acordo com o departamento de estatísticas do governo, 2022 representou o ano recorde de entrada de imigrantes no país, com cerca de 504 mil pessoas. Mais da metade desse contingente incluía pessoas com vistos de trabalho permanentes ou temporários.
Considerando os imigrantes nascidos no Brasil, o número também chama atenção: segundo estimativas do Consulado do Brasil em Londres, em 2024, cerca de 220 mil brasileiros moram no Reino Unido.
De acordo com a pesquisa “Brasileiros no Reino Unido”, publicada em 2020 pela pesquisadora Yara Evans, a maioria é branca (76%), com alto grau educacional (75%) e oriunda da região Sudeste do Brasil (57%).
Alemanha
Atualmente, o país possui cerca de 160 mil imigrantes brasileiros, e pode-se dizer que o governo está trabalhando para aumentar esse índice. Em junho de 2024, entrou em vigor um novo sistema de vistos de trabalho que visa atrair mão de obra de fora da União Europeia.
De acordo com as novas políticas, quem preencher os pré-requisitos poderá viver na Alemanha por no máximo um ano, enquanto procura oportunidades de trabalho. Além disso, esse contingente populacional poderá solicitar os Chancenkarte (“cartões de oportunidade”), que são proporcionados pelo governo a trabalhadores estrangeiros que possuírem, no mínimo, dois anos de treinamento para o emprego, ou diploma universitário válido no país onde foi emitido.
A política se deve em grande parte ao envelhecimento populacional do país. De acordo com o Ministro do Trabalho Hubertus Heil, em decorrência desse fator, sete milhões de trabalhadores qualificados precisarão ser substituídos até 2035. As principais áreas requisitadas pelo mercado de trabalho alemão: saúde, TI, arquitetura, educação e pesquisa em universidades.
Consequências do fenômeno
A principal consequência da fuga de cérebros está na escassez de profissionais qualificados no país de origem. A falta de trabalhadores capazes de realizar tarefas mais refinadas, por sua vez, impacta diretamente no desenvolvimento do país e na sua relevância em diferentes setores.
Pense, por exemplo, na área de tecnologia — uma das mais afetadas pela fuga de cérebros. Sem os profissionais com o conhecimento adequado, o Brasil acaba “ficando para trás” quando o assunto é inovação e novas ferramentas. Como consequência, somos obrigados a realizar mais importações, o que aumenta a nossa dependência de outros países.
O mesmo acontece quando pesquisadores e universitários levam suas pesquisas para instituições estrangeiras. Embora, por um lado, isso fortaleça o intercâmbio de conhecimento e os projetos de pesquisa, por outro lado, as descobertas e invenções levam reconhecimento e investimentos para universidades de fora.
Esse é, inclusive, um dos principais efeitos da fuga de cérebros a longo prazo: os prejuízos à economia e ao desenvolvimento externo. Em vez de o país de origem desses trabalhadores se tornar uma referência, o seu aspecto subdesenvolvido permanece.
Exemplo de redação sobre o tema: As consequências a longo prazo da persistência da fuga de cérebros no Brasil
Agora, para se inspirar, leia uma redação pronta sobre o tema:
“A Revolução dos bichos”, livro de George Orwell, conta sobre animais de uma granja que, ao buscarem melhores condições de trabalho, se rebelaram contro o proprietário da fazenda. Não distante da obra, atualmente no Brasil, a procura por circunstâncias mais favoráveis de emprego, tornou persistente a “fuga de cérebros”, gerando diversas consequências a longo prazo. Destarte, faz-se necessário um olhar crítico diante desse obstáculo, o qual tem a ineficiência estatal e o silenciamento como principais causas. [1] [2]
Nesse viés, nota-se uma ausência do Estado no que se refere à evasão de gênios. Consta na Constituição de 1988, [3] o dever do poder público [4] de garantir o desenvolvimento nacional. No entanto, com a crescente saída de cientistas do país, percebe-se o inverso da lei, ou seja, o desenvolvimento nacional tem a tendência a diminuir cada vez mais, uma vez que esses profissionais não encontram oportunidades de emprego que se adequem às suas qualificações. Logo, é mister que o Estado seja mais efetivo em suas obrigações. [5] [6]
Outrossim, a falta de debate configura-se como um entrave no cenário. Djamila Ribeiro, escritora e filósofa, explica que é preciso tirar uma situação da invisibilidade e atuar sobre ela para que soluções sejam promovidas. Nesse contexto, no que tange a [7] contínua saída de pesquisadores brasileiros para outros países, observa-se um silenciamento instaurado, visto que pouco se fala sobre isso nas mídias de massa, consequentemente, tornando o assunto desconhecido para o povo brasileiro. Assim sendo, urge tirar a situação do invisível e atuar sobre ela, como defende a pensadora. [8] [9]
Em síntese, são necessárias medidas capazes de mitigar a problemática. Para isso, o Estado deve, por meio de diretrizes de investimentos, criar novos e maiores polos de pesquisa, de maneira que aumente o número de concursos e contratações de pesquisadores qualificados, para que não haja a partida de cérebros inteligentes. Deve, ainda, propagar através de comerciais, a questão da “fuga de cérebros”, de modo frequente e detalhado nos horários nobres, a fim de inteirar a todos sobre o problema. Dessa forma, o governo cumprirá com a lei. [10]
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Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação.
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
Competência II: compreender a proposta
- [1] Você explicitou a tese que será defendida na introdução. Parabéns!
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
- [2] Não houve inadequação no uso de conectivos, nem repetição de palavras, o que contribuiu para a leitura fluida e agradável da redação. Muito bem!
- [6] Parabéns! A adequação no uso dos conectivos e a utilização de sinônimos, proporcionaram uma leitura agradável da sua redação.
- [9] Você utiliza adequadamente os conectivos e os sinônimos, e isso faz com que sua redação tenha uma leitura agradável. Parabéns!
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
- [10] Excelente! Você resolveu os problemas apresentados na argumentação e, ainda, compreendeu muito bem o que é necessário conter na proposta de intervenção.
Comentário final
Parabéns pela sua redação! Está coesa, coerente e com bons apontamentos. Apenas atente-se à grafia, ok? Um abraço!
Nota
960
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