George Floyd, de 46 anos, foi contido pelo policial Derek Chauvin, em Minneapolis Estados Unidos, de maneira agressiva, no dia 25 de maio de 2020. O policial pressionou seu joelho contra o pescoço de Floyd por longos minutos, ainda que testemunhas filmassem o ocorrido e ainda a George tenha repetido várias vezes que não conseguia respirar.
George Floyd foi declarado morto algum tempo mais tarde.
Este episódio de clara violência ostensiva, que faz parte de um racismo estrutural, trouxe à tona manifestações a favor de vidas negras e retomou um movimento que teve início em 2014: Black Lives Matter.
As manifestações americanas persistem, o movimento também tem sido discutido em redes sociais e se relaciona com o racismo estrutural no Brasil. Entender o Black Lives Matter é entender o que é o racismo estrutural e a motivação de policiais agirem de maneira tão violenta quanto o assunto são vidas negras.
Sabendo da relevância e importância desse assunto, neste post vamos abordar como e por que surgiu o movimento Black Lives Matter no Estados Unidos e como ele se relaciona às manifestações brasileiras que reivindicam o fim do racismo. Vamos lá?
O que é o movimento Black Lives Matter?
Black Lives Matter significa, em português, vidas negras importam. Esse é um movimento que surgiu com o objetivo de denunciar e mostrar a maneira agressiva que policiais americanos tratam vidas e corpos negros, reivindicando por justiça, para que esses policiais sejam acusados e respondam aos crimes que cometeram.
Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, o preconceito racial existe e, infelizmente, persiste forte, sendo reproduzido não apenas por frases e atitudes racistas, como por políticas que tratam vidas negras como meros números.
Todo esse racismo estrutural é reproduzido pela polícia americana que é por várias vezes acusada de ostensividade e agressividade absurda quando se trata de negros e negras.
A seguir vamos te contar um pouquinho melhor sobre como surgiu o movimento black lives matter no Estados Unidos. Acompanhe!
Como surgiu o movimento Black Lives Matter?
Foi depois de um outro ato de extrema violência e que também levou um cidadão americano negro à morte que surgiu o movimento Black Lives Matter.
Em 2014, a vítima de extrema violência policial foi Eric Garner. Garner foi contido por um policial branco com um mata leão. Exatamente como George Floyd, Eric gritava que não conseguia respirar, e toda ação foi filmada por testemunhas.
Ainda assim, o policial, Daniel Pantaleo, não afrouxou o golpe, causando uma crise de asma que levou Eric à morte.
O Black Lives Matter surge então neste contexto. O objetivo era expor a desmedida violência quando pessoas negras são abordadas pela polícia dos Estados Unidos. Hoje, 6 anos depois, o movimento volta às ruas para reivindicar a importância de mais uma vida negra.
Em pleno contexto pandêmico e com o perigo de mais uma onde de contágio do coronavírus, várias pessoas têm ido às ruas nos últimos dias manifestar em nome do Black Lives Matter. A frase: I can’t breath (eu não consigo respirar) que foi proferida por Eric e George tem sido usada como grito de protesto por manifestantes que têm ido às ruas.
De acordo com os dados da Folha de São Paulo, os atos de manifestantes ocorreram em, pelo menos, 75 cidades, com registro de 4 mortes e cerca de 4.000 prisões.
Houve toque de recolher em vários lugares e a guarda nacional foi convocada para conter manifestações violentas.
As manifestações começaram pacíficas, mas alguns incidentes aconteceram, como queimadas de símbolos e locais públicos, o que levou o presidente Donald Trump a acusar os manifestantes de bandidos e também a atribuir culpa ao grupo Antifa (abreviação para Antifascistas, movimento de esquerda que luta contra o racismo, sexismo, xenofobia e homofobia, entre outras causas) e aos anarquistas.
Não se deve relativizar a violência. Mas será mesmo que a depredação de símbolos públicos, se compara à violência contra milhares de vidas negras causadas por policiais?
Essa é uma reflexão que deve ser feita, levando em consideração o contexto das manifestações e ainda que o conceito de protesto pacífico se diverge de protesto passivo.
Pois bem, ainda que o movimento Black Lives Matter tenha surgido apenas em 2014, o racismo de policiais contra negros possui raízes muito mais profundas. A seguir vamos te contar um pouquinho melhor sobre isso.
Qual a história entre as atitudes da polícia e o racismo estrutural?
De acordo com Thiago Amparo, advogado, professor de políticas de diversidade da FGV e colunista da Folha de São de Paulo, a violência contra negros e negras nos Estados Unidos não é desvio de conduta, mas sim uma forma de manutenção e controle de populações negras. Ele ainda ressalta que há similaridade entre o que acontece no EUA e no Brasil.
É claro que há bastante diferença entre as polícias dos Estados Unidos e do Brasil, mas o fundamento, a gênesis central, é bastante similar.
Em ambos os países a polícia atuava na patrulha e captura de escravos que fugiam. Portanto, os policiais da época eram ensinados a conter de maneira ostensiva e agressiva escravos negros.
A história de uma polícia estruturada, pública e que vem para manter a ordem social e proteger todos de maneira igual é bastante moderna.
Hoje em dia, o que ainda acontece, resquício da escravidão nos dois países, é uma desvalorização das vidas negras. A ideia de que peles e corpos negros podem e devem sofrer mais violência ainda persiste arraigada em instituições, como a polícia.
Portanto, a necropolítica, que é o ato de matar pessoas ou deixar que negros e negras morram sem consideração por suas vidas, é uma prática constante entre polícias brasileiras e americanas.
A partir dessa breve leitura é possível perceber algumas similaridades entre o racismo estrutural que acomete Brasil e Estados Unidos. A seguir vamos te contar como as manifestações americanas impactaram a realidade brasileira.
Como as manifestações nos Estados Unidos impactaram a realidade brasileira?
Enquanto nos Estados Unidos o Black Lives Matter tem enchido as ruas de manifestantes, no Brasil esse movimento também impactou e levou manifestantes às ruas. Veja um pouquinho deste contexto de manifestações no país.
Pessoas foram às ruas para reivindicar por justiça em relação a João Pedro, adolescente de 14 anos, que foi baleado e morto dentro de sua própria casa por um policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia 18 de maio.
Ainda unindo-se às manifestações contra o racismo, no dia 31 de maio, torcidas organizadas saíram às ruas para protestar com pautas antifascistas. Participaram dos protestos torcidas como a ala antifa da Gaviões da Fiel, em São Paulo, e a Resistência Alvinegra, em Belo Horizonte.
Os protestos das torcidas organizadas foram chamadas democráticas e atuaram como linha de frente contra manifestações favoráveis ao governo Bolsonaro. Em contrapartida, partidários bolsonaristas, que também protestaram, exibiram símbolos e bandeiras neonazistas em algumas ocasiões.
Percebe-se que assim como a população americana, os brasileiros têm reagido ao racismo estrutural que acomete o país. Veja a seguir alguns mitos sobre as diferenças e semelhanças entre racismo estrutural entre o Brasil e os Estados Unidos.
Quais os mitos que rondam o racismo estrutural brasileiro e norte-americano?
Há muitas similaridades e também diferentes entre o racismo estrutural que acomete o Brasil e os Estados Unidos.
Porém, ainda hoje há alguns mitos que rodeiam Brasil e Estados Unidos, tratando o racismo no nosso país como algo mais brando, em decorrência da nossa miscigenação. Vamos desmistificar esses mitos?
- Mito 1: No Brasil o racismo foi mais brando, há democracia racial em decorrência da miscigenação. De acordo com historiadores, o racismo no Brasil não foi nada mais brando. Inclusive, a expectativa de vida de escravos norte-americanos era maior que a de escravos brasileiros.
- Mito 2: Nos Estados Unidos houve segregação de raças, no Brasil não. Este é um outro mito. O Brasil, de acordo com historiadores, abriu suas portas e dava condições a imigrantes brancos, como os italianos, enquanto dificultava a entrada de imigrantes negros. Isso mostra que houve sim uma tentativa de embranquecimento da raça brasileira.
- Mito 3: Manifestantes brasileiros são passivos, enquanto manifestantes americanos são mais mais ativos. Isso também é um mito. Durante toda a história a população brasileira se postou e reinvidicou por direitos, desde a década de 30 até os dias atuais de maneira muitíssimo ativa.
Todos esses mitos nos mostram que, claro, há diferenças entre o racismo estrutural que acomete Brasil e Estados Unidos. Mas que também há muitas similaridades e que o racismo no Brasil pode ser mais velado, mas em nada perde para o norte-americano em termos de força e violência.
O que precisamos é não fazer do Black Lives Matter um movimento efêmero e passageiro, devemos, todo dia, dar ouvido aos chamados de vozes negras que lutam por seus direitos, pelo direito de terem a cor da pele preta e por terem os mesmos direitos que qualquer branco.
Bom, esperamos que você gostado de conhecer melhor o que é e o porquê do surgimento do movimento Black Lives Matter. Assine nossa newsletter e receba em seu email conteúdos superrelevantes como este, que vão te ajudar a se manter antenado as atualidades que têm movimentado o Brasil e o mundo!