É uma tendência comum colocarmos em nosso discurso escrito aquilo que cotidianamente proferimos — as marcas de oralidade. É o caso, por exemplo, de expressões coloquiais como “fulano não é flor que se cheire”.
Mas, afinal, o que significa não ser “flor que cheire”? Essa expressão é um tanto abstrata e pode não ser adequada para certos gêneros textuais.
Por isso é tão importante que você entenda, de fato, o que são as marcas de oralidade, por que elas não são adequadas a determinadas situações e como evitá-las em suas redações. Confira neste artigo!
O que são marcas de oralidade?
As marcas de oralidade nada mais são do que traços das nossas falas cotidianas que podem aparecer em nossos textos. Gírias,expressões comuns em diálogos (como: “né?”, “tá”, “viu?”), ditados regionalistas, dentre outros, são bastante presentes em nossas conversas do dia a dia, mas não se encaixam nas normas cultas da língua portuguesa.
Tratam-se de palavras e expressões utilizadas de modo pessoal e que, muitas vezes, possuem significados subjetivos que não podem ser compreendidos por quem não mora em determinada região, por exemplo.
Portanto, podemos entender as marcas de oralidade como transcrições de nossas falas cotidianas. Elas são muito comuns em crônicas e contos, por exemplo, onde os autores trabalham diálogos entre os personagens e com o próprio leitor ao longo do texto.
Por que evitar as marcas de oralidade?
Em alguns tipos de redação, as marcas de oralidade são bem-vindas e até necessárias para transmitir o que o autor está querendo dizer. Como você já pôde ver, é o caso da crônica, por exemplo, um tipo de texto mais pessoal, em que é comum encontrarmos um autor que busca dialogar com o seu leitor.
Porém, algumas situações e gêneros textuais exigem que as marcas de oralidade sejam evitadas. É o caso da redação dissertativa-argumentativa exigida no Enem e em outros vestibulares, por exemplo.
Além de demonstrar que você não compreende que se trata de um gênero que deve ser escrito de modo impessoal, as marcas de oralidade nesse tipo de redação apontam uma falta de conhecimento sobre as normas cultas da língua portuguesa. Sendo assim, você poderá ter a sua pontuação prejudicada caso não tome cuidado com certas palavras e expressões.
Você não pode pressupor que o leitor (que, neste caso, é universal) compreenderá determinados modismos da língua falada. É por isso que se espera, do candidato de provas como o Enem, a adequação do texto aos moldes da norma padrão, a qual grande parte da população tem acesso e entendimento.
Como evitar marcas de oralidade na redação?
Agora que você já entendeu o que são as marcas de oralidade e por que é importante evitá-las em determinados tipos e gêneros textuais, vamos entender, de fato, como fazer isso?
Separamos 3 dicas para você. Confira!
1. Fuja das interjeições
As interjeições expressam sentimentos e emoções por meio das palavras, justamente as características que são inadequadas ao gênero dissertativo-argumentativo.
Por isso, evite demonstrar ao leitor que você sente alegria, alívio, desejo ou reprovação por algo. Descarte, inclusive, palavras que denotam sentimento, como “infelizmente”, “dolorosamente”, ou generalizações, como “inegavelmente” e “definitivamente”.
Aquilo que é uma lástima para você, doloroso demais, que não se pode negar ou que é definitivo, pode não ser para outra pessoa. Você pode mostrar o seu ponto de vista através da sua tese e de uma boa argumentação, o que ainda trará credibilidade para a sua redação.
2. Não use verbos no modo imperativo
Nos textos dissertativos-argumentativos, é inadequado conversar diretamente com o leitor.
Nesse caso, o imperativo verbal não deve ser utilizado, já que expressa o desejo ou ordem do interlocutor ao cumprimento de uma ação, um pedido, um convite ou uma súplica.
Como já apontamos, seu papel é convencer o leitor com seu argumentos, não exprimindo o comando de uma ação. Dessa forma, observe a conjugação verbal na hora de escrever e não dialogue com o leitor diretamente.
3. Evite expressões coloquiais
Ao conversar com amigos, geralmente usamos algumas expressões abstratas para representar um pensamento. Consequentemente, às vezes reproduzimos isso na escrita.
Essa também é uma das marcas de oralidade que devem ser evitadas! Por isso, comece a praticar a tentativa de transformar essas expressões informais em colocações claras, concretas e formais.
Veja os exemplos:
- você pode trocar o “não é flor que se cheire” por “não é confiável ou honesto”;
- ao invés de falar que algo “pegou mal”, você pode falar que algo “passou uma impressão errada, gerou embaraço ou foi desagradáve”l;
- “deixar rolar” pode ser trocado por “permitir que continue acontecendo”, “não impedir que tome seu curso natural;
- “pegar no pé” quer dizer “importunar, ser insistente”;
- ter um “ganha pão” é o mesmo que “ter uma renda fixa, uma forma de sustento”;
- “quebrar um galho” diz sobre “um improviso para resolver uma situação”.
E aí, deu para entender o que são as marcas de oralidade e o que você pode fazer para evitá-las em seus textos? Aproveite para conferir o nosso artigo com o passo a passo sobre como fazer uma redação!