A ressocialização das pessoas privadas de liberdade é um processo que vai muito além da saída da prisão: ela envolve oportunidades reais de reinserção social, educacional e profissional, mudança de percepção pública, apoio institucional e políticas bem estruturadas. A sociedade, em seus diferentes segmentos (governo, iniciativa privada, organizações da sociedade civil, comunidades locais), representa um papel essencial nesse processo.
Para te ajudar nos estudos e na escrita acerca dessa temática que pode cair nos vestibulares, confira sugestões de abordagem e uma redação pronta nota 960 sobre o tema “O papel da sociedade na ressocialização de pessoas privadas de liberdade”. Ao final do conteúdo, também incluímos o feedback completo do corretor especialista!
Qual o panorama da ressocialização no Brasil?
Abaixo, listamos alguns dados atuais sobre a ressocialização de pessoas privadas de liberdade no Brasil.
Investimento público insuficiente
Um estudo de 2023 da organização Justa mostra que os estados brasileiros destinam em média 0,001% do orçamento estadual para políticas específicas que atendem pessoas que deixaram o sistema prisional, enquanto 1,8% vai para o sistema prisional em si e cerca de 7% para as polícias civil e militar.
Dificuldade de inserção no mercado de trabalho
Após analisar os estados brasileiros, uma pesquisa publicada em 2025 pelo CNJ e feita com apoio técnico do Veredas descobriu que muitos presos e egressos enfrentam grandes desafios para encontrar trabalho formal. Os principais motivos são: falta de programas de qualificação adequados e a pouca articulação entre setores públicos, privados e sociedade civil.
Além disso, outros estudos mostram que uma parcela minoritária de egressos consegue emprego, enquanto muitos permanecem em situação de vulnerabilidade econômica.
Escassez de dados sobre ações de ressocialização
Ainda há pouco conhecimento a respeito da efetividade e dos resultados dos programas voltados a egressos do sistema prisional. Um levantamento recente do Instituto Igarapé, que buscou examinar avaliações de 83 iniciativas, trouxe um dado alarmante: das 128 publicações analisadas, somente 21 incluíam avaliações, e, entre elas, apenas nove apresentavam análises consistentes sobre impacto.
Essa falta de evidências mostra a inexistência de um processo contínuo e estruturado de avaliação das ações de reinserção social, articulado ao ciclo das políticas públicas, o que reforça a urgência em fortalecer essa área.
Repertórios socioculturais sobre a ressocialização de pessoas privadas de liberdade
Agora, confira algumas sugestões de repertórios socioculturais para citar na sua redação sobre o tema:
1. Livro Vigiar e Punir (1975) – Michel Foucault
Analisa historicamente o sistema prisional e denuncia como as prisões, muitas vezes, reforçam a exclusão em vez de promover a reintegração.
2. Música Diário de um Detento (1997) – Racionais MC’s
A canção dos Racionais MC’s denuncia a violência carcerária e expõe como a marginalização social impacta diretamente a vida de quem está ou esteve preso.
3. Projeto Baqueart (Pernambuco)
Iniciativa que utiliza a música e a produção artesanal de instrumentos como forma de ressocialização de presos no Agreste de Pernambuco. O projeto garante capacitação profissional, promove remição de pena e dá novas perspectivas de vida, mostrando como arte e trabalho podem contribuir para a reintegração social.
4. Documentário De|cisões
A produção reúne depoimentos de detentos, egressos e representantes da sociedade civil em São Paulo. O filme mostra como o trabalho pode ser uma ferramenta poderosa de reinserção, oferecendo dignidade e um caminho para romper com a criminalidade.
Redação pronta sobre o tema ‘O papel da sociedade na ressocialização de pessoas privadas de liberdade’
Agora, confira uma redação pronta sobre o tema “O papel da sociedade na ressocialização de pessoas privadas de liberdade”:
No documentário “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, é evidenciada a forma como indivíduos em situação de vulnerabilidade são marginalizados, sendo tratados como menos dignos que os demais cidadãos. Essa lógica de exclusão também pode ser observada na realidade brasileira quando se analisa a situação de pessoas privadas de liberdade: apesar de cumprirem pena, enfrentam preconceito e ausência de apoio social no processo de inserção. Nesse sentido, é necessário discutir o papel da sociedade na ressocialização desses indivíduos, visto que a negligência coletiva perpetua a criminalidade e compromete a cidadania.
Sob esse viés, observa-se que a estigmatização dos egressos do sistema prisional é um dos principais entraves à ressocialização. De acordo com o sociólogo Erving Goffman, em sua teoria sobre o estigma, a sociedade tende a reduzir a identidade de certos indivíduos a um atributo negativo, desconsiderando suas demais características. No Brasil, isso se traduz na dificuldade que ex-presidiários encontram para conseguir emprego ou retomar vínculos comunitários, uma vez que são vistos unicamente como “criminosos”. Tal postura social, ao invés de contribuir para a superação de erros passados, reforça um ciclo de exclusão e reincidência.
Ademais, a ausência de iniciativas coletivas que fomentem oportunidades de reintegração agrava esse cenário. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o índice de reincidência criminal no país ultrapassa 40%, em grande parte pela falta de programas eficazes de capacitação e acolhimento social. Em contrapartida, experiências bem-sucedidas, como projetos de oficinas profissionalizantes e parcerias com empresas dispostas a contratar ex-detentos, demonstram que a colaboração da sociedade civil é essencial para transformar trajetórias individuais e reduzir a criminalidade de forma estrutural.
Diante desse contexto, é imperativo que a sociedade brasileira compreenda seu papel na ressocialização de pessoas privadas de liberdade. Para tanto, organizações não governamentais, em parceria com a mídia, devem promover campanhas de conscientização que combatam o estigma social contra egressos do sistema prisional. Além disso, empresas precisam adotar políticas de inclusão no mercado de trabalho, oferecendo vagas específicas para esse público. Assim, será possível consolidar um ambiente de acolhimento que permita a verdadeira reintegração cidadã, rompendo com o ciclo de exclusão que hoje marca o país.
Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação.
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
- Seu texto apresentou precisão vocabular e obedeceu às regras gramaticais. Parabéns! O domínio da norma culta será fundamental para construção de sua nota no exame do ENEM.
Competência II: compreender a proposta
- Parabéns, você não se limitou a ficar colocando inúmeras informações sem que fossem produtivas. É exatamente isso que o ENEM espera de você: repertório sociocultural produtivo. Menos é mais! Qualidade é muito mais importante do que quantidade de citações.
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
- Ao final do 2º parágrafo, você retomou a sua tese. Isso é essencial em uma boa redação, pois sempre lembrará ao leitor leigo o seu posicionamento.
- Muito bem! Os dados apresentados deram credibilidade a seu argumento.
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
- Não houve inadequação no uso de conectivos, nem repetição de palavras, o que contribuiu para a leitura fluida e agradável da redação. Muito bem!
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
- Sua proposta ficou interessante, mas atenção: lembre-se de desenvolvê-la melhor, abordando mais sobre como a sua sugestão deve ser executada.
Nota final
960
Parabéns! Trabalhou bem, continue assim. Peço que continue dissertando a respeito de diversos temas, isso lhe ajudará a se preparar melhor para o Enem, já que não sabemos o tema que cairá na prova. Até a próxima!
Foto do post: Divulgação/Davi Pinheiro/Governo do Ceará