A correção da prova de redação do ENEM avalia cinco competências: domínio da norma padrão da língua escrita; compreensão do tema proposto; capacidade de selecionar, organizar, relacionar e interpretar fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção do texto e elaboração de uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecionamos um exemplo de uma boa redação sobre a persistência do racismo na sociedade brasileira. O estudante dominou bem as cinco competências cobradas pelo ENEM. Compreendeu a proposta, não fugiu ao gênero dissertativo-argumentativo e selecionou bons argumentos. Além disso, é bem estruturado, escrito na norma culta da língua e possui coesão e coerência.
“Teorias filosóficas equivocadas, como o darwinismo social, ajudaram a desenvolver o eurocentrismo e o etnocentrismo europeu. Ainda hoje, no século XXI, o Brasil não conseguiu superar os “muros invisíveis” entre a população branca e os negros. Além do preconceito racial, estes sofrem uma marginalização social – seja por fatores históricos, políticos, socioeconômicos ou culturais. Portanto, urge a necessidade de medidas em prol de uma maior inclusão dos afrodescendentes.
A segregação no país tem causas históricas e culturais. Desde a implementação da colônia portuguesa, os negros eram escravizados nessa parte da América Latina. Assim, tornou-se algo endêmico: isso contagiou as relações sociais e, sobretudo, a mente dos brasileiros. Ainda, na literatura quinhentista, vemos obras que legitimam essa escravidão, por vezes tentando amenizá-la: algumas enalteciam o sofrimento do negro, comparando-o à Cruz de Cristo. Apesar da abolição da escravatura em 1888, essa sociedade escravista deixou marcas profundas no conceito do afrodescendente em sociedade: a imagem deste como um ser inferior. Será mesmo verdade?
Além do histórico de escravidão, têm-se políticas públicas ineficazes ou insuficientes na inclusão do negro na sociedade. Assim, o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo – claramente visto no contraste entre favelas e prédios suntuosos, às vezes localizados nos mesmos bairros. Programas sociais, como o Bolsa Família e o Fome Zero e as cotas para entrada em universidades, são apenas medidas paliativas. Estas medidas, por exemplo, não podem resolver o problema da educação, que vem da raiz: o ensino público defasado e as bolsas governamentais que não são suficientes para pagar uma escola privada, por exemplo. Dessa forma, tem-se o negro pobre, com ensino defasado, o impedimento de crescer profissionalmente. Consequências são o aumento da violência, da criminalidade, do tráfico de drogas e o baixo percentual de negros nas universidades.
Portanto, a nação brasileira ainda não conseguiu vencer a segregação social e racial, que tem diversas causas e muitas consequências. Além das medidas paliativas precisarem de reestruturação, o governo deverá atuar para que maior parte da verba pública seja destinada a educação, ou, se não for possível, fazer associação e parcerias com escolas privadas, para torna-las viáveis a todos com subsídios, seria outra opção. A mídia também tem um papel fundamental no processo de valorização do negro, afirmando a identidade afrodescendente por meio de campanhas e propaganda. Só assim o darwinismo social e semelhantes serão combatidos.”
Agora que já viu um exemplo, comece a praticar!