Nos últimos 30 anos, o Brasil contabilizou 384 mortes causadas por violência nos estádios de futebol. O número, embora pareça pequeno (cerca de 12 mortes por ano), é, na verdade, bastante assustador: para um país cuja cultura é parcialmente baseada na beleza desse esporte, como tantas pessoas podem ter perdido a vida em um momento que deveria ser de celebração?
Esse tema articula diversas questões sociais, culturais e econômicas e, por isso, pode ser cobrado na redação de vestibular. Para te ajudar a entender como abordá-lo, preparamos um conteúdo completo sobre o assunto. Confira!
O que gera a violência no futebol?
A principal causa para brigas e violência dentro do futebol é a rivalidade entre torcidas. No Brasil, ela se manifesta sobretudo a partir das torcidas organizadas, cujos membros costumam ocupar camadas mais marginalizadas da sociedade.
Não raro, esses membros também integram grupos criminais, e a rivalidade entre torcidas acaba associada à rivalidade entre membros de diferentes gangues. Nesse sentido, a violência no futebol se torna uma nova roupagem para a violência que já presenciamos no cotidiano, em outros setores da sociedade.
Por isso, poderíamos argumentar que o que leva à violência dentro dos estádios é um somatório de fatores socioculturais que faz com que torcedores enxerguem aquele espaço como um espaço de guerra e de combate.
Uma questão de gênero?
Outro argumento importante para a discussão da violência no futebol está no fato de este ser um esporte majoritariamente masculino e com frequência associado a valores também masculinos, como a força bruta, a resistência física etc.
Pesquisas na área da sociologia vêm mostrando que o espaço do estádio pode ser visto, por alguns torcedores, como um espaço similar ao de um campo de batalha. Assim, quando uma partida é “perdida”, é preciso reafirmar a masculinidade de outras maneiras — em geral, através da violência e do domínio físico.
Este debate importa porque lança luz sobre a maneira como a nossa sociedade educa pessoas do sexo masculino e sobre como o machismo pode afetar também os homens.
A violência no futebol é um problema brasileiro?
Não. A violência nos estádios acontece ao redor do mundo, e o fenômeno recebeu inclusive um nome específico: hooliganismo. O termo, adaptado do inglês, faz referência ao comportamento destrutivo e desregrado assumido pelos torcedores, e que, em geral, leva aos casos de violência.
Os “hooligans” são, em geral, ingleses, mas, no Brasil, seriam equivalentes aos torcedores que integram as torcidas organizadas.
Os casos de brigas associadas a esportes também não são recentes: o primeiro deles teve lugar na antiga Constantinopla, entre dois times de corridas de bigas. Esse fato contribui para a noção de que a violência no futebol está menos associada ao esporte em si, podendo ser um reflexo de uma cultura igualmente violenta em outros aspectos.
Violência no futebol brasileiro: conheça alguns dados
O portal Trivela realizou um raio-x das mortes ligadas ao futebol no Brasil. De acordo com os dados, a violência atinge principalmente homens jovens e adultos. Além disso, os estados mais atingidos são São Paulo, Rio Grande do Norte e Goiás.
Na tabela a seguir, apresentamos o perfil das vítimas:
Perfil das vítimas | Nº de mortes | |
Gênero | Masculino | 372 |
Feminino | 12 | |
Idade (em anos) | 1 a 19 | 124 |
20 a 29 | 171 | |
30 a 39 | 66 | |
40 ou mais | 23 |
Também chama a atenção o aumento no número de mortes: na década de 1990,
Também chama a atenção o aumento no número de mortes: na década de 1990, foram relatados 15 casos; já nos anos 2000, o número aumentou para 99. Nos anos 2010, houve outro aumento: foram registrados 234 casos.
As causas para as mortes também variam: a maior parte (272) foi causada por uso de armas de fogo; as demais (112) incluem agressão física, uso de bombas, facadas, garrafadas e até atropelamentos.
Por fim, observou-se que o mais comum é que os casos de violência que levam a óbito aconteçam fora do estádio e em dias de jogo. Por isso, é fundamental a atenção também ao que os torcedores fazem antes e depois de cada partida.
Como solucionar a violência nos estádios de futebol?
Como explicamos, as causas para a violência nos estádios são variadas e podem ser influenciadas por uma série de outros problemas socioculturais. Por isso, encontrar uma solução para esse problema não é tão simples quanto parece.
Por um lado, é fundamental que a segurança pública seja uma prioridade. Isso significa, em primeiro lugar, um maior número de políticas públicas para o controle da violência e um maior acompanhamento da população dos jogos antes, durante e depois desses eventos.
Por outro lado, também é importante que as próprias torcidas organizadas reconheçam o seu papel nos casos de violência. Um maior controle dos seus membros — como o estabelecimento de limites para integrantes e a checagem de antecedentes criminais — pode ajudar a diminuir casos de violência que não são motivados por eventos dos jogos, mas por outras questões econômicas e sociais, como as brigas entre gangues.
Por fim, é indispensável que haja uma comunicação direta entre os estádios, os agentes de segurança e as torcidas. Desse modo, os casos de violência podem ser mitigados com mais facilidade.
Punições mais severas são a solução?
O Projeto de Lei (PL) nº 517/2024 sugere uma alteração na Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597, de 14 de junho de 2023) que prevê prisão de até 15 anos para quem promover, praticar ou incitar violência física ou moral contra atletas e treinadores profissionais. Organizações esportivas também podem ter que arcar com uma multa de até R$5 milhões. Mas será que ele resolveria o problema?
A violência nos estádios vai muito além do futebol em si: ela é um sintoma de uma sociedade que já se manifesta de forma violenta em diferentes setores. Embora uma punição mais severa pareça ser uma solução eficaz, é preciso pensar em quais cenários ela realmente se tornaria uma alternativa positiva.
Isso porque os agentes de segurança pública não são, em geral, treinados para atuar em situações como as de violência em estádios, nas quais muitos civis estão envolvidos e é mais difícil saber como a confusão começou. Também é importante pontuar que uma maior violência policial e medidas de punição mais agressivas podem resultar em um aumento da violência por parte do público, piorando o problema.
Além disso, o PL não protege quem é comumente mais afetado pela violência nos estádios: o torcedor comum, que foi até lá para assistir uma partida do seu time de futebol. Quem estaria atento a essas pessoas? Como evitar que elas também se machuquem?
Lembre-se: elaborar uma proposta de intervenção na redação não é uma tarefa tão simples quanto parece. Por isso, tente pensar fora da caixa e traçar soluções mais específicas, mantendo em mente os agentes responsáveis por colocá-las em prática.
Aumente o seu repertório sociocultural sobre violência no futebol
Um dos aspectos mais importantes na hora de escrever qualquer redação é a marca de autoria, em geral apresentada ao longo do texto de formas distintas. Uma delas é o repertório sociocultural do candidato, isto é, as informações que ele insere em seu texto para comprovar ou desenvolver o seu ponto de vista.
Para te ajudar a aumentar o seu repertório sociocultural sobre violência no futebol (e nos esportes em geral), separamos algumas recomendações. Confira!
1. Violência Máxima (2004)
O filme Violência Máxima (no original, The Football Factory) conta a história de Tommy Johnson, um jovem que costuma se envolver em brigas entre torcidas, até que ele se encontra em uma situação que põe em risco a sua vida.
2. Hooligans (2005)
Neste outro filme, acompanhamos Matt Bruckner, um jovem expulso injustamente de Harvard que decide passar um tempo na casa da sua irmã, em Londres. Lá, faz amizade com seu cunhado, que o apresenta ao mundo das brigas entre torcidas e transforma totalmente a sua vida.
3. Fútbol Violencia (2009-2010)
Este documentário argentino se propõe a investigar as causas da violência no futebol e os motivos pelos quais ela não parece poder ser erradicada. Além de abordar o contexto das torcidas organizadas, o filme aborda também questões sociais e econômicas, aproximando a realidade argentina da brasileira.
4. Campo Minado
O Globo Esporte é responsável pela série de reportagens conhecida como Campo Minado, que investiga a violência no futebol gaúcho — dentro e fora dos estádios. Sob comando do repórter Bruno Halpern, temos acesso a arquivos, entrevistas e personagens importantes da história do futebol, podendo, assim, criar um panorama do esporte e entender como ele pode ser afetado pela violência.
Proposta de redação: “O problema da violência nos estádios de futebol brasileiros”
Agora que você já entendeu a violência nos estádios de futebol do Brasil, que tal praticar a escrita de uma redação com esse tema?