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Atualidades: identidades digitais no século 21

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Com o crescimento e desenvolvimento exponencial das tecnologias, a cada dia que passa novos usos para ferramentas das quais já dispomos são criadas. O reconhecimento facial, por exemplo, vem ganhando força com a melhoria das câmeras, tanto móveis quanto estáticas. A qualidade da imagem, junto com o refinamento dos mecanismos de reconhecimento facial, fez com que o uso dessas tecnologias crescesse em diversos âmbitos do dia a dia. O algoritmo utilizado nessas tecnologias é o que faz a maior diferença, junto à integração dele ao banco de dados onde se encontram as imagens.

Essas tecnologias usam padrões que existem nos nossos rostos para verificar a identidade da pessoa em questão. Quanto maior for o número de traços e métricas analisados, mais confiável é o sistema. Desde analisar a distância entre os olhos, a largura da boca, e o relevo das bochechas, as possibilidades de análise são inúmeras. Isso porque, além de existirem diversos traços faciais que ajudam a nos diferenciarmos uns dos outros, a maneira como eles interagem para demonstrar emoção é ainda mais complexa. Identificar um sorriso é uma coisa, saber quando o sorriso é falso é outra.

Mas, quando falamos sobre o tema de reconhecimento facial e suas aplicações, as questões mudam. Por mais individuais e pessoais que os rostos possam ser, os meios pelos quais transitam são públicos, e as ferramentas utilizadas para captá-los e analisá-los não são consideradas invasivas. Nos Estados Unidos, o reconhecimento facial é utilizado por igrejas para acompanhar o comparecimento de fiéis, assim como em escolas, em que a presença de alunos nos cursos está sendo verificada dessa forma; na Inglaterra, ela é utilizada por lojistas para rastrear visitantes com antecedentes por furto. Em 2017, policiais do país de Gales a utilizaram para encontrar um suspeito em uma partida de futebol. Na China, seu uso é mais intensivo: com ela, a identidade de motoristas de aplicativos de corridas é comprovada; turistas são liberados em atrações turísticas e pagamentos são confirmados com um sorriso.

Mesmo não parecendo intrusivas, a capacidade dessas tecnologias de captar, guardar e analisar, de maneira rápida e barata, e também em escala, mudarão a maneira como as pessoas e a sociedade se relacionam. Em termos de privacidade, justiça e confiança, o reconhecimento facial é algo que tem muito a agregar para a discussão, visto que qualquer pessoa com um telefone consegue tirar uma foto para alimentar programas de reconhecimento facial. FindFace, um aplicativo russo, possui uma taxa de acerto de 70% entre as fotos tiradas por e de desconhecidos com fotos compartilhadas no VKontakte, uma rede social.

Não são todas as redes sociais que permitem o uso de seu banco de dados para o desenvolvimento dessas tecnologias. O Facebook é um desses que impedem outros aplicativos de buscarem e analisarem a grande quantidade de conteúdo que existe na rede. Mas, por outro lado, mesmo que a empresa por trás da rede social não permita essa integração, desenvolvedores podem buscar o auxílio de governos para melhorarem o software que estão desenvolvendo. Governos possuem o maior banco de dados populacional, com fotos e informações precisas em bancos de dados físicos ou digitais Só o FBI já tem guardado os rostos de metade da população adulta americana. Mesmo sendo um grande aliado na segurança pública, ajudando na localização e rastreamento de suspeitos, essa tecnologia possui grande potencial de ferir a privacidade do resto da população.

O rosto de alguém não é apenas uma credencial, ele revela muito mais do que apenas a identidade da pessoa – e programas conseguem ler isso também. Algumas empresas estão analisando faces para entregar diagnósticos automatizados de condições genéticas raras, como a síndrome de Hajdu-Cheney, com maior agilidade que métodos tradicionais. Por outro lado, softwares que interpretam emoções podem dar a indivíduos com autismo uma maneira de interagir no nível emocional. Já pesquisadores da universidade de Stanford demonstraram que, quando apresentadas fotos de um homem heterossexual e outro homossexual, algoritmos conseguiam atribuir a sexualidade da pessoa corretamente em 81% das vezes, enquanto humanos acertavam apenas 61%. Em países onde a homossexualidade é criminalizada, esse tipo de software demonstra perspectivas alarmantes. O uso dessa tecnologia em bancos de dados públicos dos governos que criminalizam a opção sexual de um indivíduo pode levar tanto à perseguição pública, como também a falsas acusações, baseadas nos resultados desses programas.

Em democracias, pelo menos, a legislação pode alterar e influenciar o equilíbrio de boas e más repercussões e aplicações dessa tecnologia. Reguladores europeus já criaram uma lista de princípios pelos quais o futuro da proteção de dados deve se pautar. Nela, as informações biométricas, incluindo reconhecimento facial, pertencem ao dono, e seu uso necessita de consentimento. Fornecedores de programas de reconhecimento facial podem ser submetidos a auditorias, para comprovar que seus sistemas não estão disseminando preconceitos involuntariamente. Já as companhias que utilizam esses programas devem ser tidas como responsáveis.

No Brasil, por outro lado, tecnologias de reconhecimento facial estão sendo usadas para evitar abusos de benefícios. A aplicação dessa tecnologia na frota de ônibus foca na prevenção de fraudes no uso do cartão que dá acesso aos transportes, analisando a foto pertencente ao proprietário do cartão com a imagem de quem o está usando. Isso é feito com a instalação de câmeras dentro do ônibus, integradas com softwares que puxam informações biométricas da base de dados. Apenas no Distrito Federal, durante a fase de testes, foram realizados 2 mil bloqueios, enquanto em Porto Alegre, das 10 mil suspeitas geradas por essa tecnologia, 500 já foram confirmadas, resultando no bloqueio de cartões.

Leis, no entanto, não conseguem alterar a direção na qual essas tecnologias irão penetrar no âmbito social. Câmeras só serão mais comuns com a difusão de aparelhos utilizáveis no dia a dia, como o Google Glass. Produtos focados na dissuasão de sistemas de reconhecimento facial já estão sendo superados, desde maquiagens a óculos criados para alterar a estrutura dos rostos. Pesquisas realizadas na Universidade de Cambridge demonstram que, mesmo com partes do rosto cobertos, programas de inteligência artificial são capazes de reconstruir as estruturas faciais de pessoas disfarçadas.

O Google, indo na contramão, rejeitou a utilização ou desenvolvimento de tecnologias de reconhecimento facial por temer o uso dela em países não democráticos. Outros gigantes da tecnologia, como Amazon e Microsoft, já não são tão conscientes. Ao oferecer serviços de reconhecimento facial na nuvem, essas companhias ativamente permitem que essas tecnologias sejam utilizadas independente dos limites territoriais ou fronteiriços, sempre que os contratantes estão dispostos a pagar. Por outro lado, governos provavelmente focarão nos benefícios dessas tecnologias mais do que em seus malefícios.

Quando se fala sobre reconhecimento facial, você saberia dizer onde essas tecnologias já são usadas no dia a dia? E para o futuro delas, o que você acha necessário? Vamos discutir!

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