Você conhece o gênero textual crônica? Se não sabe muito sobre ele, provavelmente já se deparou com esse tipo de texto enquanto lia um jornal ou as redações de um portal de notícias.
Na prova de linguagens da prova do Enem é muito provável que você se depare com questões interpretativas relacionadas a alguma crônica. Além disso, pode ser que você depare com esse gênero na prova de redação de algum outro vestibular. Portanto, é muito importante conhecer bem as peculiaridades e um pouco da história desse tipo textual no Brasil.
Por isso, vamos te contar melhor sobre o que é a crônica, suas características e quais são os tipos. Assim, você mandará muito bem na sua prova de literatura! Bora lá?
Quais são as características de uma crônica?
A crônica é um texto que faz parte do grande grupo de gêneros literários e pode tratar sobre qualquer assunto. Costuma abordar questões cotidianas e possui uma linguagem mais leve, podendo ser informal e bastante subjetiva. Pode ainda ter uma pegada mais emotiva.
O uso das pontuações é bastante presente nas crônicas. Por isso, é comum ver o abuso do uso de exclamações, reticências, interrogações e fragmentações nesse tipo textual.
A tendência é que as crônicas sejam textos mais curtos e objetivos. Elas também podem apresentar traços de outros tipos textuais, como o narrativo e, contar com uma veia descritiva.
Adiante vamos te mostrar que existem tipos de cônica. Confira!
Quais são os tipos de crônica?
A crônica é um tipo textual bastante versátil, no entanto, é também desvalorizado dentro da literatura. Isso acontece porque se diz que a crônica é um texto de menor complexidade e que o fato de jornalistas a escreverem dá um tom de menor prestígio ao texto.
Isso é uma grandíssima bobagem, já que a crônica, ainda que seja mais curta e direta, pode sim apresentar complexidade, além de marcar épocas, já que comenta sobre temas pertinentes ao cotidiano, o que enriquece ainda mais o texto e história.
Vários autores consagrados, como Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Raquel de Queiroz produziram crônicas ao longo de sua carreira de escritores. E isso não os diminui em nada.
A cultura de escrever crônicas para jornais impressos era muito comum antes do advento da internet, o que não desmerece em nada esse tipo textual. As crônicas podem ser jornalísticas e/ou literárias.
A seguir vamos comentar sobre cada um dos tipos e ainda te mostrar alguns trechos de crônicas correspondentes a cada tipo. Vamos lá?
Crônica Jornalística
Como mencionado anteriormente, vários autores altamente consagrados escreveram crônicas jornalistas.
Os jornais impressos eram muito mais consumidos entre a população brasileira, já que a internet não estava presente.
Ainda que crônicas jornalísticas possam ter alguns recursos artísticos, elas não precisam, em regra, desempenhar esse papel. A principal característica delas é que elas trabalham com o cotidiano e podem ser de cunho político, econômico, esportivo etc. O aspecto cronológico é um forte traço desse tipo de crônica.
Para que você entenda melhor, vamos te mostrar um trechinho de uma crônica jornalística de Machado de Assis:
Crônica de 7 de agosto de 1892:
“Indiferença diz pouco em relação à causa real, que é a inércia. Inércia, eis a causa! Estudai o eleitor; em vez de andares a trocar as pernas entre três e seis horas da tarde, estudai o eleitor. Achá-lo-ei bom, honesto, desejoso da felicidade nacional. Ele enche os teatros, vai às paradas, às procissões, aos bailes, aonde quer que há pitoresco e verdadeiro gozo pessoal. Façam-me o favor de dizer que pitoresco e que espécie de gozo pessoal há em uma eleição? Sair de casa sem almoço (em domingo, note-se!), sem leitura de jornais, sem sofá ou rede, sem chambre, sem um ou dois pequerruchos, para ir votar em alguém que o represente no Congresso, não é o que vulgarmente se chama de caceteação? Que tem o eleitor com isso? Pois não há governo? O cidadão, além dos impostos, há de ser perseguido com eleições?
(…)
Que fazer? Aqui entra a minha medicação soberana. (…) O eleitor não vai à urna, a urna vai ao eleitor.”
Perceba como a questão cronológica é muito forte, as crônicas machadianas levavam o título do dia, mês e ano que saíam no jornal. Machado de Assis é marcado por sua criticidade e nesta crônica não foi diferente. Ele trata de um tema relacionado à política de maneira bastante ácida.
Crônica Literária
A crônica literária lida com a exploração de uma linguagem e um ideal artístico. Existem inclusives livros feitos apenas por crônicas. Veja a seguir um fragmento de crônica da Clarice Lispector:
Futuro Improvável
Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto – serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de “dois e dois são quatro” é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto.
Perceba como a cronista Clarice trata este tipo textual com o mesmo nível de profundidade que utiliza em seus romances. É importante lembrar que as crônicas de Clarice são consideradas mais literárias, mas também apareciam em jornais. Durante um tempo a autora escreveu para jornais de sua época.
Um fato é certo: a crônica é um gênero híbrido, um “entrelugar” (termo literário que indica algo intermediário) entre a literatura e o jornalismo e não há como dissociar um outro.
Bom, durante o post a gente comentou que a crônica faz parte do grupo dos gêneros literários. Se você quer saber mais sobre quais são os quatro gêneros literários, basta ler nosso artigo sobre eles! Certamente isso te ajudará e muito a estudar para a prova de literatura do Enem, que é um disciplina que deve estar em seu cronograma de estudos, ein?