A infância é uma das mais importantes fases do nosso desenvolvimento. É nela que passamos a nos entender como indivíduos dotados de características, e onde aprimoramos o nosso comportamento social — aspectos que nos acompanharão ao longo da vida. Por isso, é importante que ela seja vivida de forma plena.
Com o avanço da tecnologia, porém, estamos cada vez mais diminuindo o tempo da infância nas crianças. Esse processo, chamado de adultização infantil, pode trazer uma série de consequências para o desenvolvimento — e pode, inclusive, colocar nossas crianças em risco.
Para entender melhor o que é a adultização infantil, como ela pode impactar a vida das crianças e como esse tema pode ser abordado na redação de vestibulares, basta continuar lendo. Vamos lá?
O que é?
A adultização infantil diz respeito ao processo de aceleração das fases da vida, atribuindo às crianças mais tarefas do que o recomendado para a infância. Afinal, é nesta fase da vida que devemos ter mais tempo livre para brincar e viver experiências de autoconhecimento.
Nesse sentido, a adultização pode se manifestar tanto através de uma agenda lotada de atividades, quanto por meio do consumo de mídias sociais sem supervisão. Em ambos os cenários, a criança é exposta a um mundo “adulto”, cheio de responsabilidades, que destoa da realidade mais “tranquila” que ela deveria estar vivendo.
Quais são os efeitos da adultização infantil nas crianças?
Os impactos da adultização infantil podem ser observados sobretudo a nível emocional e cognitivo. Uma vez que as crianças ainda não estão psicologicamente preparadas para entender e lidar com as cobranças a que são submetidas quando lidam com o mundo “dos adultos”, elas podem:
- apresentar níveis mais altos de estresse;
- ter problemas de autoestima e de aceitação, uma vez que são “elogiadas” apenas quando dão conta de muito mais responsabilidades do que deveriam;
- ter mais dificuldades para lidar com a vida adulta, já que não passaram pelo processo adequado de amadurecimento;
- apresentar dificuldades para reconhecer e manifestar suas próprias emoções.
As consequências psicológicas não são, porém, as únicas atreladas à adultização. Isso porque esse comportamento — que se manifesta, por exemplo, no uso de roupas curtas, de maquiagem e mesmo de salto alto — pode fazer com que crianças sejam vistas como adultas inclusive (e principalmente) por predadores sexuais, colocando-as em risco físico.
Sobretudo nos casos em que as crianças adultizadas têm acesso sem supervisão a conteúdos midiáticos, como redes sociais, elas se tornam alvos mais fáceis para pedófilos e outros criminosos. Nesse contexto, eles tendem a se aproveitar da (errônea) noção de que aquela criança é “muito madura” para a sua idade e, portanto, poderia participar de outras atividades consideradas “adultas”.
Adultização e erotização infantil são a mesma coisa?
Não. Como explicamos, a adultização é um processo associado ao encurtamento do período da infância e à percepção desses indivíduos como capazes de realizar tarefas mais complexas do que o adequado para o momento da vida em que se encontram.
A erotização infantil, por sua vez, está ligada ao estímulo ou exposição da criança ao mundo sensual — e configura crime. Esse estímulo é, em partes, cultural, e se manifesta através de comentários aparentemente inocentes, como quando elogiamos um menino por ter “namoradinhas” na escola ou quando dizemos que uma menina vai “dar trabalho” por ser muito bonita.
Por outro lado, a erotização infantil também pode acontecer através de atitudes incentivadas pelos pais ou outros parentes, como o uso de roupas mais curtas, de maquiagem e até de salto alto; a realização de dancinhas em redes sociais; a exposição indevida da criança em situações ou com objetos que, para adultos, podem assumir um significado constrangedor; etc.
É importante ter em mente que a adultização infantil pode levar à sexualização e erotização de crianças por parte de outras pessoas. Assim, pode ser um comportamento facilitador para a atuação de predadores sexuais.
- Leia também: Violência infantil: como garantir os direitos da criança e do adolescente? [Redação pronta]
Como evitar a adultização infantil?
Embora pareça um problema simples, a adultização infantil é, na verdade, um sintoma de uma sociedade focada na produtividade. Afinal, quanto mais cedo começamos a realizar certas atividades, mais cedo nos tornamos cidadãos que contribuem economicamente para a sociedade.
Por um lado, portanto, podemos evitar a adultização infantil a partir de atitudes cotidianas:
- evitar que as crianças tenham uma agenda muito lotada;
- supervisionar o uso das redes sociais;
- evitar comentários sobre o corpo e as roupas das crianças;
- estimular amizades da mesma faixa etária;
- conversar de forma transparente com as crianças sobre a adultização; etc.
Por outro lado, porém, é preciso compreender como esse processo pode ser reforçado pela nossa sociedade como um todo. Para isso, é importante fazer alguns questionamentos, como: por que é esperado que crianças se comportem como adultos? Quais medidas podem ser tomadas para que essas crianças tenham acesso aos seus direitos básicos, como tempo para brincar e crescer?
Como se preparar para uma redação com esse tema?
O tema da adultização infantil envolve diferentes agentes: por um lado, é um reflexo da sociedade; por outro, pode ser evitado a partir de condutas específicas assumidas pelos pais e responsáveis.
Devido à sua complexidade e ao impacto que esse processo pode ter no desenvolvimento infantil, portanto, ele pode ser cobrado na redação de vestibular. Pensando nisso, preparamos 3 dicas simples para te ajudar a se preparar para abordar esse tema. Confira:
1. Aumente o seu repertório sociocultural
O uso de exemplos e de situações reais em temas como o da adultização pode ser benéfico na hora de defender a sua tese na redação. Por isso, que tal pesquisar alguns filmes, séries e documentários sobre o tema? Aqui vão algumas dicas para aumentar o seu repertório sociocultural:
O poderoso chefinho (2017)
A animação nos leva a acompanhar a vida de um bebê que tem, de fato, a vida de um adulto: ele usa terno, vai trabalhar e ainda se preocupa com as contas no fim do mês. Mais que isso, ele precisa se unir ao seu irmão para impedir que os planos de um vilão se concretizem. Apesar do tom engraçado, o filme trata da questão da adultização de maneira bastante séria.
Criança, a alma do negócio (2008)
O documentário investiga como a publicidade e as mídias afetam as crianças. Ao debater efeitos negativos da exposição às propagandas, podemos expandir a conversa sobre adultização infantil para as redes sociais.
Pequena Miss Sunshine (2006)
O filme acompanha Olive, uma criança que decide participar de um concurso de beleza infantil. Ao contrário das outras competidoras, no entanto, Olive não se veste como uma “pequena mulher” – e nós acompanhamos o impacto dessa pressão em sua vida.
Lindinhas (2020)
Filme francês sobre Amy, uma menina de 11 anos que entra em um grupo de dança e precisa confrontar os valores de sua família e a sua posição no mundo.
2. Conheça dados relevantes
O tema da adultização infantil está relacionado à proteção das crianças na sociedade. Por isso, conhecer alguns dados gerais sobre o assunto pode ser interessante. Alguns exemplos são:
- O direito de brincar, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e fortalecido pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989;
- Casos de crianças influenciadoras, que praticamente já nascem lidando com a exposição da sua imagem na internet.
Lembre-se: utilizar dados na redação te ajuda a construir uma argumentação mais completa!
3. Pratique muito
A melhor forma de garantir que você vai conseguir desenvolver uma boa redação com o tema da adultização infantil é praticar pelo menos duas vezes na semana. Para isso, separamos alguns temas relacionados ao assunto:
- Crianças sem infância: o aumento da adultização infantil;
- Adultização infantil: uma realidade que deve ser combatida?
- Possíveis causas para a adultização de crianças;
- Os perigos da adultização infantil para o desenvolvimento da criança;
- Desafios no combate ao abuso sexual infantil no Brasil;
- As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil;
- Publicidade infantil em questão no Brasil.
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