Fotografia: Cadu Passos (@cadu_passos_)
No dia 31 de maio, manifestações em diversas capitais do Brasil trouxeram à visibilidade pública um movimento que data de várias décadas atrás, mas que ganha força não só em nosso país atualmente: o movimento Antifa.
Ao mesmo tempo em que vemos diversas pessoas levantando essa bandeira no Brasil, levando em consideração o atual contexto político e situações recentes — como o assassinato de João Pedro, no Rio de Janeiro, e a utilização de símbolos nazistas em manifestações pró-governo — nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump afirmou que irá classificar os ativistas Antifas como organização terrorista, tudo isso em meio a uma onda de manifestações após o assassinato de George Floyd.
Nossa, quanta informação, não é mesmo? Mas, afinal, o que é Antifa? Quais são as causas defendidas por esse movimento? Como ele surgiu? No artigo de hoje, vamos tirar as principais dúvidas sobre esse assunto. Continue a leitura para conferir!
O que é o movimento Antifa?
O Antifa — uma abreviação para Antifascista — é um movimento de esquerda descentralizado, ou seja, sem um líder ou uma organização estruturada, de pessoas com ideias em comum. Como o próprio nome diz, o movimento possui causas compartilhadas por quem se identifica como antifascista, como a luta contra o racismo, a homofobia, o machismo e a xenofobia, por exemplo. Além disso, o movimento também adere pautas anticapitalistas, envolvendo questões ambientais, trabalhistas e sociais.
Não é possível dizer sobre o movimento Antifa como um grupo ou organização estruturada, porque não existe sequer um manifesto em comum. Além disso, não é possível mapear todos os indivíduos que se entendem como Antifas. Trata-se de um movimento orgânico, envolvendo pessoas ao redor de todo o mundo que compartilham uma série de ideias que vão contra ideologias totalitárias e ultraconservadoras.
Mas isso quer dizer que o movimento Antifa fica apenas no campo das ideias? Não! A partir dessa identificação de ideias, as pessoas se organizam em células ou agem individualmente em defesa do que acreditam. É a partir disso que o movimento Antifa ganha vida.
Inclusive, é comum vermos cenas de manifestações em que acontecem destruição de patrimônios, como bancos, viaturas e etc, com o ícone do movimento Antifa. Isso acontece porque o movimento também se aproxima do conceito de ação direta — uma forma de ativismo, atrelada ao anarquismo, em que a teoria é colocada em prática, ou seja, os indivíduos e/ou grupos agem sem recorrer ao governo para resolver os seus problemas, como é o caso da realização de greves, boicotes, etc.
Mas as ações diretas não definem a atuação dos Antifas como um todo. É importante sempre retomar a ideia de que se trata de um movimento orgânico e descentralizado, que pode atuar de diferentes formas — inclusive, fora das ruas.
Quer um exemplo? Existem diversos hackativistas Antifas, ou seja, pessoas que utilizam seus conhecimentos sobre informática e computação para realizar ações virtuais em defesa de suas ideias.
Como você pôde perceber, trata se de um conceito amplo. Mas olhando um pouco para a história e os movimentos em que a bandeira Antifa veio à tona, fica um pouquinho mais fácil de entender esse movimento. Vamos lá?
Como surgiu o movimento Antifa?
O movimento Antifa surgiu na década de 1930, na Alemanha, como um grupo de pessoas com ideologia de esquerda com o objetivo de combater o nazismo. Porém, de acordo com o dicionário Merriam-Webster, a palavra “Antifa” foi usada pela primeira vez em 1946.
Ao longo do tempo, os Antifas estiveram presentes em diversos movimentos que tinham relação com as ideias defendidas. Em 2011, por exemplo, o movimento Antifa teve um papel importante no Occupy Wall Street, que protestava contra a desigualdade social, a corrupção e a influência das empresas no governo estadunidense.
Já em 2016 e 2017, durante a corrida presidencial que resultou na vitória de Donald Trump nos EUA, o movimento Antifa teve um papel muito importante no combate ao crescimento do grupo de extrema-direita denominado “Alt-Right”, que defende bandeiras como conter a imigração no país, dentre outras.
No Brasil, o movimento Antifa se fez presente em momentos importantes dos últimos anos, como as manifestações de junho de 2013 e o movimento “Não vai ter Copa” de 2014.
Porém, nos últimos dias a palavra “Antifa” tem sido cada vez mais presente em nosso dia a dia, tomando espaço em noticiários, redes sociais, etc. E isso aponta, mais uma vez, sobre como é importante entendermos que o movimento Antifa é descentralizado e não tem barreiras.
Vamos contextualizar?
Nos EUA
O assassinato de George Floyd, um homem negro asfixiado por um policial branco, levantou uma onda de protestos nos EUA contra o racismo institucional. Mesmo em meio à pandemia do Coronavírus, manifestantes colocaram em evidência, mais uma vez, o movimento Black Lives Matter.
O movimento, também integrado por Antifas, vêm ganhando força mundial com o passar dos dias, despertando a atenção do mundo todo. Foi nesse contexto que Trump publicou um tweet dizendo que o Antifa seria considerado organização terrorista na América do Norte.
The United States of America will be designating ANTIFA as a Terrorist Organization.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 31, 2020
As manifestações não diminuíram, pelo contrário. Os manifestantes exigem justiça e continuam a ir às ruas.
No Brasil
No Brasil, a palavra “Antifa” também tem entrado em evidência nos últimos dias, e diversos fatos corroboram para isso:
- no dia 18 de maio, João Pedro, de 14 anos, foi baleado e morto dentro de sua própria casa por um policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O acontecimento gerou muita revolta e manifestações contra o racismo;
- no dia 31 de maio, unindo-se às manifestações contra o racismo, torcidas organizadas de diversas capitais organizaram protestos com pautas antifascistas. Participaram dos protestos torcidas como a ala antifa da Gaviões da Fiel, em São Paulo, e a Resistência Alvinegra, em Belo Horizonte. Os protestos atuaram como linha de frente contra manifestações favoráveis ao governo Bolsonaro, que, por sua vez, exibiram símbolos e bandeiras neonazistas em algumas ocasiões.
- ainda no dia 31, o presidente Jair Bolsonaro publicou uma imagem contrastando as manifestações pró-governo e Antifa realizadas em São Paulo em associação ao tweet de Trump, afirmando que os Antifas seriam considerados organização terrorista nos EUA.
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#SomosANotaDeRepúdio ✊???️? _ (? @brunofigs )
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Ao longo da semana, imagens com o símbolo antifascista têm marcado as redes sociais e mais manifestações de caráter Antifa têm sido organizados por todo o país.
É em meio a esse momento de instabilidade política e a evidenciação de ações abusivas e de caráter preconceituoso que o termo “Antifa” volta a ser discutido. Porém, como você pôde perceber, o histórico desse movimento é longo e tem uma importância enorme para entendermos o conceito atualmente.
E aí, conseguiu entender o que é o movimento Antifa? Esperamos ter te ajudado a tornar todo esse contexto um pouco mais compreensível por aí! Aproveite para assinar a nossa newsletter e receber diretamente em seu email conteúdos como este, que irão te ajudar a manter em dia com as atualidades no Brasil e no mundo!