O Brasil tem dimensões continentais e possui grande diversidade e riqueza cultural. Porém, o país ainda enfrenta diversos desafios para garantir que seus mais de 200 milhões de cidadãos possam participar e desfrutar dessas expressões culturais.
Mas como escrever uma redação acerca do assunto? Para te ajudar, iremos fazer uma breve contextualização do assunto e também te daremos um exemplo de redação pronta sobre o tema “Os desafios para democratizar o acesso à cultura no Brasil”.
O que dificulta o acesso à cultura no Brasil?
Alguns obstáculos atingem diversas camadas da população, e podem acabar impedindo-as de desfrutar da cultura em suas regiões. A falta de políticas públicas corrobora para o agravamento do cenário. Entenda:
Distribuição geográfica
A maioria dos equipamentos culturais (museus, teatros, cinemas e centros de cultura, por exemplo) está concentrada em grandes centros urbanos, o que pode dificultar o acesso para os moradores de regiões periféricas e/ou rurais.
Para se ter uma ideia, no ano de 2021, aproximadamente 31% da população brasileira habitava municípios sem museus. Em cerca de 14,9% dos municípios, os habitantes precisavam se deslocar por pelo menos uma hora para a localidade mais próxima que dispunha de um museu. Em contrapartida, no Rio de Janeiro, por exemplo, essa média é de 16 minutos.
Entre as regiões do país, a desigualdade é mais discrepante: enquanto na região Norte, os moradores de 70% dos municípios teriam que passar por esse deslocamento de no mínimo 1 hora, na região Sul, esse índice era de apenas 1,3% da população.
Além disso, os cinemas estavam presentes em apenas 9% das cidades do país, e esses estabelecimentos ficavam mais concentrados no Sudeste, em comparação a outras regiões.
Os dados compõem o Sistema de Informações e Indicadores Sociais (SIIC) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Desigualdade social
Muitas vezes, o acesso a eventos culturais pagos pode afastar camadas da população que possuem renda mais baixa. Isso ocorre em peças de teatro, cinemas, e até em jogos de futebol, por exemplo.
Adentrando na realidade do esporte mais popular do país, sobretudo desde a reforma e construção dos grandes estádios brasileiros para a Copa do Mundo de 2014, houve um aumento considerável no preço médio dos ingressos para os jogos dos principais clubes do país.
De acordo com dados da Pluri Consultoria, em 2023, o preço da modalidade inteira do ingresso mais barato em um jogo da Série A era, em média, cerca de R$ 72. O valor corresponde a aproximadamente 5,4% do salário mínimo vigente no ano (R$ 1.320,00), um montante considerável no dia a dia de grande parte da população brasileira.
Agora, um exemplo ainda mais “extremo”: custava R$ 400 (pouco mais de 30% do salário mínimo) o ingresso mais barato do primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 2023, que foi disputada entre Flamengo e São Paulo no Maracanã, Rio de Janeiro. A entrada mais cara tinha o preço de R$ 4.500,00.
Gastos vão além dos ingressos
Além disso, vale ressaltar que os valores dos ingressos de acontecimentos culturais não representam as únicas despesas incluídas em uma ida a esses eventos.
Também é preciso levar em conta as quantias gastas com transporte, alimentação e possíveis emergências que possam ocorrer. Ademais, muitas pessoas costumam levar suas famílias, acarretando gastos ainda maiores.
O que fazer para melhorar o acesso à cultura no Brasil?
Dessa forma, em linhas gerais, otimizar e facilitar o acesso à cultura no Brasil requer uma série de ações que podem envolver políticas públicas, investimentos privados e iniciativas da sociedade. Confira algumas sugestões:
1. Investimento e políticas públicas
A fim de ampliar o acesso de mais pessoas aos eventos culturais, é preciso fomentar a cultura nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal.
Algumas medidas – que, inclusive, já são aplicadas com sucesso em algumas cidades – são a criação de editais e programas de incentivos fiscal para empresas que apoiam projetos culturais.
A descentralização de centros culturais também pode ser benéfica, já que facilita o deslocamento das populações que vivem em áreas mais distantes dos grandes centros.
2. Garantia de preços mais acessíveis
Os produtores de eventos podem destinar ao público parcelas de ingressos a preços gratuitos ou reduzidos. Uma iniciativa já muito conhecida é a meia entrada social mediante doação de alimentos, por exemplo.
No âmbito do transporte público, uma boa iniciativa seria promover o passe livre aos finais de semana, em dias que concentram muitos eventos.
3. Aumento no consumo cultural
Apesar das dificuldades estruturais, dados de uma pesquisa sugerem que o país pode estar melhorando no acesso à cultura, em diversas esferas e proporções.
No ano de 2023, mais pessoas tiveram contato com atividades culturais no país em comparação a 2022. Confira os principais números:
Atividade cultural | Porcentagem de pessoas em 2022 | Porcentagem de pessoas em 2023 |
Ouvir músicas em plataformas de streaming | 80% | 82% |
Assistir produtos audiovisuais de maneira online | 70% | 74% |
Ouvir podcasts | 42% | 48% |
Ler livros online e e-books | 30% | 42% |
Ir a apresentações de música, dança e teatro | 18% | 45% |
Outros segmentos de destaque na população em 2023 foram: cinema (33%), exposições e museus (26%) e centros culturais (19%).
As informações são do levantamento Hábitos Culturais, conduzido pela Fundação Itaú e pelo Datafolha. Foram coletadas respostas de 2.405 pessoas, de 16 a 65 anos, em todas as regiões do Brasil, durante o mês de setembro de 2023.
Fique por dentro: criação do novo Plano Nacional de Cultura
Em março de 2024, o Ministério da Cultura (MinC) e o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) promoveram a 4ª Conferência Nacional de Cultura: Democracia e Direito à Cultura (CNC), que foi realizada em Brasília.
A conferência teve o objetivo de “promover o debate sobre as políticas culturais para o fortalecimento da democracia e a garantia dos direitos culturais, de maneira transversal com as políticas públicas sociais e econômicas do Brasil.”
Durante o evento, foram debatidas 140 propostas entre 12 grupos de trabalho e seis eixos temáticos. A finalidade do encontro foi estabelecer as diretrizes para um novo Plano Nacional de Cultura (PNC), a partir das 30 propostas de políticas públicas que foram aprovadas.
Entre um dos eixos debatidos na conferência, por exemplo, estava o de “Democratização do Acesso à Cultura e Participação Social”, ressaltando a necessidade de ampliar o acesso da população brasileira às diversas expressões culturais existentes no país.
De acordo com a Agência Brasil, até outubro de 2024, o texto final da proposta do novo PNC deverá ser enviado para apreciação do Congresso Nacional. Depois de tramitar no Poder Legislativo, caso haja aprovação, a lei seguirá para sanção presidencial para se tornar o próximo Plano Nacional de Cultura, que terá vigência de 10 anos.
Leia também: Democratização do acesso ao cinema no Brasil: como discutir o tema?
Exemplo de redação sobre o tema
Agora, para se inspirar, leia um exemplo de redação sobre o tema “Os desafios para democratizar o acesso à cultura no Brasil”:
No advento do processo histórico brasileiro, a criação do Ministério da Cultura, em 1985, durante o governo de José Sarney, foi um marco para conceder a liberdade de expressão e a difusão cultural. Entretanto, sua criação não consolidou de forma igualitária o acesso à cultura no Brasil, tendo, assim, uma desigualdade sociocultural. Nesse contexto, a falta de integração e acessibilidade, em conjunto à mercantilização cultural são os desafios para uma eficiente democratização.
Hoje, o Brasil está inserido em um contexto de “apartheid cultural”, ou seja, as regiões periféricas estão mais distantes dos museus e teatros. Nessa perspectiva, a falta de integração e acessibilidade impossibilita o acesso de grande parte da população. Isso deve-se, principalmente, ao não incremento dos subsídios aos municípios, de maneira a deixar as ferramentas culturais restritas aos grandes centros urbanos. Logo, esse processo de restrição tem como característica o elevado preço do acesso cultural, que criou uma segregação nessa área, visto que a maioria da população não tem renda suficiente para sua inserção.
Ademais, conforme elucida o filósofo Theodor Adorno, em sua teoria da “indústria cultural”, a arte passou a ser instrumento industrial com a finalidade lucrativa. Desse modo, por meio dos veículos de comunicação a sociedade está sendo moldada culturalmente, tendo uma sobreposição de suas origens. Nesse sentido, esse processo erradica a essência brasileira de característica regional, na busca pela incorporação de uma cultura capitalista. Dessa forma, toda produção artística regional que não seja lucrativa, por exemplo, folclore, frevo e outras produções imateriais são esquecidas, o que causa desigualdade de acesso.
Portanto, cabe ao Ministério da Cultura, em conjunto ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a criação de uma plataforma digital com acessos culturais e imateriais de diferentes regiões brasileiras, mediante a parcerias com as empresas do ramo que, como benefício, herdariam isenções fiscais. Além disso, é necessário ampliação dos programas já existentes, por exemplo o vale-cultura, com o fito de garantir um acesso mais efetivo, pois a cultura é essencial para a cidadania. Ademais, o Ministério da Educação, em conjunto com as escolas, devem promover a integração da cultura brasileira em âmbito escolar, por meio de palestras, seminários, projetos culturais e viagens aos lugares históricos, para que a cultura brasileira seja preservada, visto que ela é fundamental na consolidação histórica brasileira.
Competência I – Demonstrar domínio da norma culta:
Bom domínio da norma culta.
Competência II – Compreender a Proposta:
Compreendeu a proposta de forma satisfatória e desenvolveu bem o texto, contextualizando o tema e o ponto de vista.
Competência III – Selecionar e relacionar argumentos:
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma organizada, com indícios de autoria, em defesa de um ponto de vista.
Competência IV – Conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação:
O texto não apresenta inadequações e tem excelente progressão. O aluno articula de forma satisfatória e usa conectivos diversificados.
Competência V – Elaborar a proposta de solução para o problema:
Concluiu bem o texto e apresentou uma boa proposta de intervenção, possível de ser realizada e que respeitou os direitos humanos.
Nota: 1000
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Bons estudos!
Foto do post: Reprodução/Pixabay
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