No segundo episódio do Dá Ideia, o podcast da Imaginie, nós falamos sobre feminismo: o que é, qual é a sua história, conceitos importantes, como esse tema pode cair na redação do Enem e como você pode abordá-lo por lá.
E, para falar sobre isso, convidamos a professora Jana Rabelo, que nos ajudou a entender o assunto de forma fácil e divertida em um papo super legal!
O programa está cheio de indicações importantes para você estudar o tema e aumentar o seu repertório sociocultural. Então, está esperando o que para dar o play e conferir o nosso artigo?
O que é feminismo?
Para ficar mais fácil, vamos utilizar uma definição feita pela professora Jana Rabelo no Dá Ideia #02: feminismo é o conjunto de lutas políticas, sociais, econômicas e culturais que buscam promover a igualdade entre homens e mulheres nas mais diversas esferas da vida.
O que não é feminismo?
Algumas pessoas acreditam que feminismo é o machismo ao contrário, mas isso não é verdade. Afinal, o que o movimento feminista deseja é uma política de afirmação da igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Portanto, feminismo não é uma proposta de superioridade ou dominação feminina, uma imposição diminuição ou fragilização dos homens. O movimento feminista tem o objetivo de alcançar a igualdade de direitos.
Ele também não é a imposição de obrigatoriedades às mulheres. Não é porque você é feminista que, necessariamente, você tenha que odiar homens ou não se depilar. Ao contrário, feminismo é sobre escolhas. Portanto, é sobre você decidir se você pode não se depilar, ter uma carreira ou ter filhos, por exemplo.
O que isso quer dizer?
Para entendermos a história e as pautas do movimento feminista, é importante conhecermos alguns conceitos que estarão sempre presentes nessas discussões. Confira alguns deles agora!
O que é patriarcado?
Patriarcado é uma organização social baseada na afirmação do poder do homem, metonimicamente, do pai. Então, as grandes decisões do patriarcado passam pela figura masculina.
Ao homem caberia, por exemplo, o protagonismo econômico e as decisões políticas. E para você ter uma ideia, as mulheres ocupam apenas 11,2% dos cargos parlamentares no Brasil, de acordo com dados de janeiro de 2018.
Em uma estrutura patriarcal, mulheres devem ficar no ambiente doméstico e o espaço público cabe aos homens.
Então, patriarcado é a afirmação da superioridade do masculino sobre o feminismo sobre a figura do pai, o patriarca.
O que é machismo?
Enquanto o patriarcado é a estrutura social, fundada no protagonismo masculino, o machismo seria o conjunto de crenças que servem de base para o patriarcado.
É a crença de que o macho da espécie humana seria necessariamente mais forte, mais esperto, mais desinibido.
Em resumo, o machismo seria o conjunto de crenças que sustenta a estrutura social, política e econômica, conhecida como patriarcado.
O que é interseccionalidade?
Interseccionalidade é uma metodologia de abordagem do feminismo que leva em consideração não apenas a questão da construção social do gênero, mas outras formas de análise do mundo.
Então, em geral, quando a gente fala de interseccionalidade, estamos abordando um feminismo que considera a questão da origem étnico-racial, classe social, orientação sexual, identidade de gênero, migrações e etarismo.
Qual é a história do feminismo?
Aqui, vamos falar sobre a história do movimento feminismo a partir de suas ondas. Para você entender melhor, as ondas do feminismo são momentos da história em que a gente consegue entender quais eram as principais pautas do movimento, já que elas se destacaram em diversos lugares.
Pré-feminismo
Em teoria, a gente não fala de feminismo antes de haver um movimento político organizado. Portanto, antes da primeira onda do feminismo, que se iniciou por volta do fim do século XIX, estamos falando de pré-feminismo.
Nesse período não haviam movimentos organizados de fato, e sim algumas lutas individuais mais pontuais. É o caso, por exemplo, de Artemisia Gentileschi, uma pintora barroca italiana que foi apagada durante muitos anos por ser mulher. Nesse cenário, ela reivindicava a igualdade em suas obras e textos.
Porém, como não havia um movimento organizado, não falamos que ela era uma feminista, e sim que possuía textos e obras de afirmação feminista.
1ª onda
A primeira onda do feminismo acontece de por volta do fim do século XIX até meados do século XX. Nessa época, dentro do movimento dos trabalhadores começa a surgir questionamentos como: por que as mulheres ficam no ambiente doméstico ou, quando trabalham, são ainda mais exploradas?
Nesse primeiro movimento, as feministas estavam preocupadas com direitos bem básicos. A existência civil das mulheres, por exemplo, o direito ao voto. A primeira onda é muito marcada pelo movimento sufragista: as mulheres ao redor do mundo que vão exigir o direito ao voto e uma representação política direta.
Portanto, a primeira onda do feminismo é marcada pela tentativa de ganhar direitos específicos: direito ao voto, direito a gerir o próprio dinheiro. É interessante ter em mente, porém, que esse primeiro movimento é muito marcado pelo feminismo branco, porque as mulheres negras, trabalhadoras, estavam preocupadas com questões muito mais básicas, como a sobrevivência.
2ª onda
Uma frase que podemos utilizar para sintetizar a segunda onda do feminismo é: “o pessoal é político”. Esse feminismo da segunda onda, que, em teoria, começa nos anos 50, na verdade vai atingir o seu máximo ali nos anos 60 e 70.
As feministas dessa fase estão preocupadas com as relações domésticas e como se dão as dinâmicas de poder dentro de casa, com esses assuntos que são considerados privados: sexo, sexualidade, divisão do trabalho.
E aí, nos anos 60 e 70 emergem pautas que até hoje achamos muito polêmicas, como, por exemplo, o direito à questão da reprodução, do controle de natalidade e do aborto.
Por conta disso, a pílula anticoncepcional é um marco histórico para a promoção da independência sexual feminina.
Outras pautas que se destacam nesse momento é a divisão do trabalho doméstico e o papel da mulher na luta política. As mulheres começam a questionar a forma como os homens oprimem as oprimem mesmo nos grupos de reivindicação de igualdade e como eles tomam a palavra, impedindo-as de falar, por exemplo.
3ª onda
Na virada dos anos 80 para os anos 90, começamos a discutir não apenas esses aspectos universais, questões do sexo e da sexualidade. Houve uma explosão das chamadas pautas identitárias.
Portanto, na terceira onda o feminismo vai passar por uma expansão do seu escopo de discussão. Vamos discutir as opressões com base em classe, em gênero e grandes migrações, por exemplo. Há uma pulverização das pautas feministas.
Esse momento é interessante porque temos um feminismo mais plural. Porém, por outro lado um problema começando a surgir: essa pulverização pode fazer com o que o feminismo perca um pouco de sua combatividade. Em alguns casos exige um individualismo extremo e a perda de contato com outros grupos.
4ª onda
Embora não seja consenso, alguns teóricos já falam sobre uma quarta onda do feminismo. Em teoria, ela começaria a partir de meados dos anos 2000, com a popularização da internet.
O feminismo da quarta onda é marcado não pelas pautas propriamente ditas, mas por seu instrumento. Seria o feminismo pós popularização da internet, quando os discursos passaram a entrar em espaços nos quais não tinham entrado ainda.
É nitidamente um feminismo influenciado pelo feminismo interseccional, e o que a gente observa é a utilização de novas ferramentas de luta, como as hashtags.
Quem aqui não se lembra da popularização das #metoo e #meuamigosecreto utilizadas para denunciar casos de abuso contra as mulheres? Nesse momento, as pautas feministas conseguem chegar a outros locais por conta do uso da internet.
O que são vertentes feministas?
Vertentes do feminismo tem a ver com identidade e forma de abordagem das questões feministas. Quer ver alguns exemplos?
- Feminismo radical: vai à raiz da sociedade patriarcal e tenta entender como que o aspecto da reprodução da mulher determina as estruturas sociais patriarcais.
- Feminismo liberal: afirma a necessidade do direito individual da mulher, fala sobre as mulheres terem liberdades. Porém, não questiona, por exemplo, o capitalismo como mais um elemento de opressão.
- Feminismo negro: a ideia de que não tenho que discutir apenas ser mulher, mas ser uma mulher negra em uma sociedade machista e racista. Com isso, surgem questões como: a solidão da mulher negra, por que as taxas de estupro são mais altas em relação às mulheres negras, a violência obstétrica é mais frequente, etc.
Há ainda o transfeminismo, o anarcofeminismo, o ecofeminismo, o feminismo marxista, o lesbofeminismo, dentre diversas outras vertentes.
Ufa! Já deu para entender bastante sobre o feminismo, certo? Se você gostou do conteúdo, aproveite para seguir o nosso podcast e ficar por dentro de outros assuntos importantes. Estamos no Spotify, Deezer, Apple Podcasts e Google Podcasts!