A mobilidade urbana é um dos assuntos que podem cair no Enem deste ano. Você sabe o que é isso e como abordá-lo na redação?
No 6º episódio do podcast Dá Ideia, convidamos Letícia Birchal, do coletivo Tarifa Zero, para falar sobre o assunto. Dá o play aí!
O que é mobilidade urbana?
Mobilidade urbana diz respeito às condições que permitem que as pessoas se desloquem em uma cidade. E isso não quer dizer apenas sobre o meio de transporte! A mobilidade urbana também envolve outras questões, como a organização do território, os fluxos de transporte, os profissionais envolvidos, dentre outros.
De acordo com a Política Nacional de Mobilidade Urbana, esse conceito envolve “o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município.”.
Pare para pensar em seu trajeto para a escola ou para o trabalho. Não importa se você vai de carro, a pé, de bicicleta ou de ônibus, por exemplo. Mesmo que você não perceba em seu dia a dia, existem pessoas, construções, equipamentos, veículos e planejamento envolvidos.
Desde as ruas, calçadas, semáforos, placas, ciclovias, cobradores de ônibus, até a organização do quadro de horário dos transportes coletivos: tudo o que está relacionado ao deslocamento em um município forma o que chamamos de mobilidade urbana.
Qual é o problema da mobilidade urbana?
Se você usa algum tipo de transporte coletivo, anda de bicicleta, faz caminhadas ou precisa lidar com o trânsito diariamente, já sabe das dificuldades relacionadas à mobilidade urbana que enfrentamos em nosso dia a dia.
Tarifas altas, congestionamentos, ruas e avenidas esburacadas, poluição do meio ambiente, falta de segurança para pedestres e ciclistas, acidentes… enfim. Tudo isso implica em uma bola de neve de problemas que dificultam o deslocamentos das pessoas na cidade.
Quer um exemplo?
De acordo com uma pesquisa apresentada em 2015 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 25% da população utiliza ônibus diariamente para as atividades cotidianas, como ir ao trabalho ou à escola.
Porém, o número de pessoas que usa transporte coletivo vem caindo cada vez mais. Um levantamento feito pela Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostra que a quantidade de pessoas que usam o ônibus caiu 9,5% em 2017 em comparação a 2016. E este foi o 4º ano seguido de queda!
De acordo com especialistas, essa queda é favorecida pelas tarifas altas e pela baixa qualidade do serviço.
O problema é que quando o uso de transporte coletivo diminui, pode significar que a quantidade de carros nas ruas aumenta.
Em Belo Horizonte, por exemplo, 45% dos deslocamentos eram feitos por transporte coletivo e 26% eram realizados por meios individuais em 2002 (carros e motos, por exemplo), de acordo com a pesquisa Origem e Destino da Região Metropolitana de BH.
Porém, 10 anos depois essa situação se inverteu: 37% das viagens passaram a ser realizadas em carros e motos e 28% delas em ônibus e metrô.
O resultado? Mais congestionamento e mais tempo no trânsito. Ainda de acordo com a pesquisa de BH, o tempo de viagem passou de 36,2 para 59,3 minutos nesses 10 anos.
Além disso, a diminuição de pessoas utilizando o transporte coletivo é usada como motivo para mais aumentos da tarifa, o que retorna o ciclo para o seu início.
Mobilidade urbana e meio ambiente
Os problemas relacionados à mobilidade urbana afetam não apenas os deslocamentos das pessoas nas cidades, mas até mesmo a nossa saúde e o meio ambiente.
Segundo um relatório apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2018 (COP 24), os ônibus são responsáveis por 5% dos gases de efeito estufa emitidos por transportes em geral, enquanto os carros são responsáveis por 45% deles.
Sendo assim, quando aumentamos o número de transportes individuais nas ruas, significa que também estamos aumentando consideravelmente o número de gases do efeito estufa emitidos. Estamos, então, prejudicando o meio ambiente e, consequentemente, a nós mesmos.
Quais são os desafios da mobilidade urbana?
Já deu para entender todas as dificuldades que enfrentamos em relação à mobilidade urbana no Brasil atualmente, certo?
Portanto, os desafios dessa área estão relacionados:
- à garantia de transportes públicos de qualidade, sustentáveis e acessíveis para toda a população;
- à melhor integração entre os diferentes meios de transporte;
- à promoção de segurança para os usuários de diferentes meios de transporte, dentre outros.
É claro que, para superar esses desafios, precisamos pensar em soluções conjuntas e integradas. Assim, conseguiremos propor soluções realmente possíveis e efetivas, que conseguem resolver os problemas da mobilidade urbana.
O que pode ser feito para melhorar a mobilidade urbana?
Letícia Birchal, do coletivo Tarifa Zero, abordou diversas propostas de intervenção relacionadas à melhoria da mobilidade urbana no Brasil.
Confira algumas delas abaixo:
1. Criação de políticas de promoção do uso de bicicleta
O aumento do uso de bicicletas ajudaria não apenas a melhorar o trânsito, diminuindo a quantidade de carros e motos nas ruas, mas também impactaria positivamente no meio ambiente.
E como fazer isso? Construindo boas estruturas cicloviárias, incentivando o compartilhamento de bicicletas e fazendo a integração entre bicicletas e transportes coletivos, por exemplo.
Esses são alguns mecanismos criativos, que não envolvem necessariamente a utilização de muitos recursos, para aumentar o uso de bicicletas no município.
Medidas como essas foram adotadas em Fortaleza, por exemplo. Os investimentos na área realizados pela Prefeitura Municipal impactaram positivamente na mobilidade da cidade, de acordo com Letícia Birchal.
2. Repasse de subsídios tarifários
Além de diminuir o custo da tarifa, o que poderia resultar em mais pessoas usando o transporte coletivo, o repasse de subsídios tarifários pelo governo poderia trazer impactos positivos para a qualidade desse tipo de transporte.
Isso aconteceria porque, quando o Estado opta por fazer esse repasse, ele também pode optar por ter mais controle sobre a operação do sistema.
De acordo com Letícia Birchal, “a tarifa é uma discussão política. A partir do momento que o Estado opta por colocar o dinheiro nesse sistema, ele pode optar junto por ter mais controle dele: saber o que está sendo operado, dizer se vai ampliar linha. Quando pensamos nessa forma de subsídio, estamos pensando junto em um maior controle político e social do sistema.”.
3. Implementação da “tarifa zero”
Outra solução apresentada por Letícia Birchal seria a implementação da Tarifa Zero, ou seja, a gratuidade universal no momento de utilização do transporte coletivo. Isso acontece porque todos os beneficiários pagam por ele de antemão.
De acordo com Letícia, isso seria justo porque “não só o usuário do ônibus é seu beneficiário. Toda a cidade se beneficia por um transporte público de qualidade, pois aumento a eficiência no trânsito, diminui o número de carros, diminui a emissão de gases do efeito estufa.”.
Porém, para não ficarmos nas especificidades dos municípios que já têm recursos suficientes para garantir a gratuidade do transporte público, é necessário pensar em uma política nacional do transporte coletivo.
Sendo assim, pensaríamos em uma contribuição da União, dos estados e dos municípios para financiar o transporte. Segundo Letícia, isso deveria ser pensado em uma ideia de justiça tributária junto à proposta de tarifa zero para não prejudicar a população com menor renda.
E aí, deu para entender mais sobre a mobilidade urbana, seus desafios e possíveis soluções? Siga o Dá Ideia no Spotify ou no Deezer para saber sobre mais assuntos da atualidade!