Já faz alguns séculos que a humanidade vive no chamado Antropoceno: a era em que os impactos humanos se tornaram tão recorrentes que a natureza e todo o Planeta Terra foram permanentemente alterados. No entanto, nos últimos anos, alguns cientistas começaram a observar a substituição deste período por outro: o Piroceno.
Nessa nova fase, o fogo seria o protagonista das principais mudanças do planeta e das nossas vidas. Mas como esse novo período se consolidou? O fogo não era algo que os humanos conseguiam controlar? O que mudou nessa relação? Neste conteúdo, tiramos todas essas dúvidas. Continue lendo e saiba mais!
O que é o Piroceno?
O Piroceno é um conceito criado pelo professor e historiador Stephen Pyne, da Universidade Estadual do Arizona. Ele se dedicou a pesquisar a história da humanidade a partir da relação com o fogo e percebeu que, nos últimos anos, o que era harmônico se tornou desconcertado.
Para Pyne, a época em que a humanidade mantinha o controle sobre o fogo acabou. Hoje em dia, vivemos na era dos grandes e incontroláveis incêndios. Estes nem sempre são causados de forma natural, mas são possibilitados e intensificados pela maneira como a nossa sociedade se organiza e pela nossa relação com a natureza.
O professor observa uma espécie de “abandono” do uso do fogo de forma harmônica, para fins controlados e pontuais. Esse fogo, por ele chamado de “fogo bom”, era o responsável por modificar apenas parte da paisagem, cozinhar nossos alimentos e possibilitar a nossa evolução.
Hoje em dia, porém, lidamos principalmente com o “fogo ruim”, isto é, com as grandes queimadas, o desmatamento, e os incêndios que se alastram com facilidade graças a maneira como a natureza coexiste com a sociedade. Esse tipo de fogo não pode ser controlado e, se o cenário atual não mudar, tomará conta de todo o planeta.
Como a relação do homem com o fogo mudou?
O domínio do fogo pelo homem aconteceu no Paleolítico, há mais de um milhão de anos. Lá atrás, essa relação foi a que possibilitou o avanço da agricultura, o início da culinária e, consequentemente, a redução de doenças e a maior nutrição. Por conta dele, aumentamos a nossa expectativa de vida e até o tamanho dos nossos cérebros — o que ocasionou outras mudanças positivas para a nossa sobrevivência.
Muitos séculos depois, o domínio do fogo pelos homens também resultou nas Revoluções Industriais. A primeira delas foi responsável por desenvolver as nossas indústrias a partir das máquinas e motores à combustão, além de possibilitar a existência de novas revoluções, mais tarde.
Com a habilidade de queimar combustíveis fósseis, porém, passamos a ser uma sociedade que está constantemente queimando alguma coisa, o que desestabilizou a nossa relação com queimas saudáveis. Atualmente, o modo de lidarmos com o fogo é mediado não pela sensação de controle, mas pelo medo: ele já não é utilizado no dia a dia e, portanto, é visto como um vilão, responsável pela destruição.
Acontece, porém, que esse ponto de vista não é de todo verdadeiro: por um lado, sim, o fogo é responsável por “destruir” a vida natural e piorar o aquecimento global; por outro lado, porém, isso só acontece porque já não é usado de forma adequada, nem em uma escala menor. Hoje, ou não usamos o fogo, ou precisamos lidar com incêndios gigantescos: não há meio termo.
O perigo dessa relação de extremos é exatamente o que observamos no nosso cotidiano: a falta de habilidade de não só controlar o fogo, mas de usá-lo a nosso favor. Embora pareça que estamos adentrando a “Era do Fogo”, a verdade é que esse cenário é reversível.
Como sobreviver a essa era?
De acordo com o professor Stephen Pyne, o maior problema do piroceno é o desequilíbrio observado na relação entre homem e natureza. Porque, hoje, não interagimos com o nosso ambiente de maneira saudável, o modo como lidamos com o fogo também tende a ser prejudicial.
No entanto, existem algumas ações que podem ser tomadas para que esse cenário mude. São elas:
1. (Re)controlar o fogo
Controlar o fogo é fundamental para recuperarmos a relação outrora saudável que tínhamos com esse elemento. No entanto, para voltarmos a ter controle sobre o fogo e suas propriedades, devemos entender por que os incêndios de hoje são tão destruidores.
Por um lado, isso é um reflexo do desmatamento, da falta de cuidado ambiental e do uso indevido do fogo para atender aos interesses econômicos, como as queimadas para manter o preço dos alimentos ou para “limpar a terra”. Essas práticas geram queimadas descontroladas e fumaça tóxica, prejudicando a saúde de diferentes espécies.
Por outro lado, porém, essa falta de controle também é resultado de uma economia que se afastou de práticas ancestrais que entendiam o fogo como parte da nossa rotina. Antigamente, ele era mais uma ferramenta, que devia ser usada com cuidado e em momentos pontuais, mas que também era capaz de transformar a paisagem de forma positiva para a manutenção da vida humana.
Recuperar essa visão sobre o fogo e suas utilidades é fundamental para que a nossa sociedade encontre alternativas não só para lidar com os incêndios de forma saudável, mas também para se preparar para evitá-los. Algumas formas de fazer isso são:
- Recriando a dinâmica natural do fogo, introduzindo o fogo técnico, através de queimas de baixa intensidade. Neste caso, as queimadas não prejudicam o meio ambiente, uma vez que são causadas com o auxílio de obras de engenharia baseadas em princípios ecológicos e são feitas de forma controlada;
- Desenvolvendo firewalls verdes. Com eles, a parte periférica dos ambientes urbanos passa a incluir faixas largas, de grande extensão, desprovidas de vegetação ou com árvores, responsáveis por retardar o avanço do fogo.
2. Repensar nossa relação com a natureza
Mais do que repensar o modo como controlamos o fogo hoje em dia, porém, é indispensável repensar a maneira como nos relacionamos com a natureza como um todo. Esse exercício implica a análise da nossa sociedade em termos econômicos, sociais e ambientais, investigando possíveis espaços de melhoria.
Práticas mais sustentáveis, como o turismo sustentável e a criação de novas tecnologias que não se baseiam no consumo de combustíveis fósseis são ótimos exemplos. Elas partem do princípio de que estamos todos ocupando um espaço no mesmo ecossistema e, por isso, devemos nos esforçar para cuidar dele.
Como falar do Piroceno na redação?
Por ser um conceito recente, o Piroceno talvez não seja um dos temas de redação de vestibular por enquanto — mas isso não significa que ele não pode ser um importante aliado da sua escrita.
Afinal, ele se relaciona diretamente com outros eixos temáticos importantes para as bancas de redação, como a preservação da natureza ou a relação entre homem e meio ambiente. Ou seja: estudar sobre o assunto é uma maneira de se preparar para temas afins.
Ler mais sobre o Piroceno e entender melhor esse conceito também pode te ajudar a usá-lo no seu repertório sociocultural, citando o conceito para exemplificar ou embasar a sua tese. Desse modo, você mostra para a banca que está a par das discussões atuais, o que pode te ajudar a garantir uma boa nota.
E aí, tirou as suas dúvidas sobre o piroceno? Então agora é hora de colocar a mão na massa: conheça o banco de temas de redação da Imaginie e comece a praticar!
Para ter as suas redações corrigidas em até 24 horas, acesso ilimitado a monitorias para tirar dúvidas e até imersões temáticas completas, você também pode conferir os nossos planos. Comece agora mesmo a se preparar e garanta a sua redação nota mil!
Foto do post: Reprodução/pvproductions/Freepik