De acordo com o um estudo de 2002, realizado pela Fundação Perseu Abramo e o Serviço Social do Comércio (Sesc), 1 em cada 4 mulheres no Brasil dizem ter sofrido abuso durante o parto.
Legislações que proíbem a violência obstétrica já existem em países como Argentina, Bolívia e Venezuela. No Brasil, o debate sobre o tema cresceu nos últimos anos. Enquanto os números apontam cada vez mais para a existência de violência durante o parto de grande parte das mulheres, algumas instituições discordam da utilização do termo violência obstétrica.
Mas, afinal, o que é isso? Como a violência obstétrica ocorre? Ela existe, de fato? Como enfrentá-la?
Convidamos Lívia Laudares, jornalista e pesquisadora pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de doula, para nos explicar tudo sobre o assunto no 7º episódio do podcast Dá Ideia.
Dá o play para ficar por dentro!
O que é violência obstétrica?
O termo violência obstétrica é muito recente, já que a humanização dos serviços de saúde tem sido muito questionada recentemente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta, como definição de violência obstétrica:
- o abuso, desrespeito, maus tratos e negligência durante a assistência ao parto nas instituições de saúde;
- a violação da confiança entre as mulheres e sua equipe de saúde;
- o desestímulo para as mulheres procurarem os serviços de assistência obstétrica;
- o desrespeito não só na gravidez, mas também no parto e no pós-parto, chamado de puerpério.
Porém, é importante ressaltar que a definição de violência obstétrica deve partir da mulher. Ou seja, com base em informações suficientes e em sua experiência, é a vítima da violência que sabe quando passou por um momento em que se sentiu violentada.
Mas, muitas vezes, a violência obstétrica é causada em meio à desinformação da mulher sobre o parto. Em uma situação em que a mulher está muito vulnerável (às vezes muito emotiva, estressada, etc) somada à falta de informação sobre o parto, existem diversas formas de um profissional fazer violência obstétrica.
Por isso, é muito importante entender os 3 pilares da humanização do parto para combater a violência obstétrica:
- medicina baseada em evidências;
- equipe multidisciplinar;
- protagonismo da mulher.
Garantindo que a mulher está informada o suficiente para fazer suas escolhas com consciência, que o cuidado de sua saúde passa pelos diversos profissionais necessários e que a medicina está sendo feita com base em evidências, as chances de ela sofrer algum tipo de violência obstétrica são reduzidas.
Quais são os exemplos de violência obstétrica?
Para você entender melhor o que é a violência obstétrica, separamos alguns exemplos comuns:
- violências verbais: como mentiras contadas pela equipe médica para acelerar o parto, dentre outras;
- episiotomia desnecessária: corte realizado na região do períneo. Atualmente, o índice de realização de episiotomias está muito acima do indicado pela OMS;
- “ponto do marido”: ponto extra realizado para “apertar” a entrada da vagina;
- subir em cima da barriga da mulher: muitas vezes, o bebê não está pronto para sair ainda quando a equipe médica tenta “forçar o parto”;
Ainda existem diversas outras intervenções que se tornam violentas, principalmente quando feitas de forma muito abrupta ou sem explicações para a mulher.
Por que os índices de violência obstétrica são tão altos no Brasil?
De acordo com Lívia Laudares, “as mulheres são muito ludibriadas para terem partos mais rápidos porque tempo é dinheiro.”. Isso quer dizer que a realização de partos mais rápidos resulta em uma maior quantidade de partos por período de tempo.
Porém, podem ser cometidas uma série de violências obstétricas para acelerar os partos. Esse é apenas um dos motivos de 1 em cada 4 mulheres no Brasil terem relatado ter passado por esse tipo de situação.
Como combater a violência obstétrica?
Como a definição de violência obstétrica vem da mulher, é importante garantir que as mulheres que vão passar pelo parto sejam informadas o suficiente para terem autonomia para decidir sobre o que querem e o que não querem.
Além disso, de acordo com Lívia Laudares, é importante que as mulheres que passaram por esse tipo de situação sejam acolhidas e tenham a denúncia encaminhada para os órgãos responsáveis. Também é fundamental a criação de uma legislação que coíba a violência obstétrica.
Por fim, é essencial que políticas públicas de humanização do parto sejam criadas, garantindo equipamentos e estruturas adequadas para os hospitais e formação na área para as equipes.
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