A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apresenta algumas particularidades no que diz respeito à prova de redação. Nesse sentido, para ter o melhor desempenho possível na sua produção discursiva, é importante que você conheça exemplos de redação Unicamp.
Na segunda fase desse vestibular, os estudantes aprovados precisam escrever uma redação cujo gênero textual não é anunciado de antemão. Enquanto o Enem sempre exige a produção de um texto dissertativo-argumentativo, a universidade em questão pode solicitar os mais variados gêneros textuais.
Por esse motivo, decidimos trazer exemplos de redação Unicamp desde o vestibular 2015 até a edição de 2025, para você aprender a desenvolver seus argumentos, independente do gênero textual solicitado. Aproveite a leitura para entender as características de cada gênero e qual linguagem utilizar para cada proposta!
Como funciona a redação Unicamp?
O objetivo da Unicamp é que os estudantes sejam capazes de desenvolver argumentos em diferentes contextos que fazem parte da nossa realidade. Por isso, é importante que os jovens tenham habilidades em diferentes gêneros textuais.
Todos os formatos exigidos, desde carta à postagem em rede social, são parte das nossas práticas cidadãs. Isso significa que ter capacidade para adequar diferentes eixos temáticos a diferentes gêneros textuais proporciona habilidade para atuar na vida pública.
Mas não se preocupe! Os textos bem-sucedidos em edições passadas do vestibular podem te ajudar a preparar uma excelente redação nos moldes da Unicamp. Por isso, agora, vamos aos exemplos de redação que você precisa conferir!
Quais gêneros textuais caem na Unicamp?
Para você ter uma ideia da multiplicidade de gêneros textuais que podem ser exigidos na prova da Unicamp, confira quais foram os gêneros das redações dos últimos anos:
- 2025: texto de apresentação de um Projeto de Lei (PL) e comunicado;
- 2024: carta denúncia e discurso;
- 2023: depoimento sigiloso e convocação;
- 2022: post para redes sociais e manifesto coletivo;
- 2021: discurso político e diário;
- 2020: roteiro de podcast e crônica;
- 2019: abaixo-assinado e postagem em fórum;
- 2018: palestra e artigo de opinião;
- 2017: carta argumentativa e texto de apresentação;
- 2016: resenha e texto de divulgação científica;
- 2015: síntese e carta-convite.
Bastante diverso, né? Portanto, além de conhecer diferentes eixos temáticos, já que o tema da redação não é divulgado antes da prova, é importante que você conheça as características de diferentes gêneros textuais para fazer a segunda fase da Unicamp.
Confira exemplos de redação Unicamp
Para te ajudar a conhecer bons textos sobre as propostas cobradas na Unicamp, vamos inserir alguns exemplos de redações acima da média! Os conteúdos foram fornecidos pela Comvest.
Vestibular 2025: apresentação de projeto de lei
A proposta 1 consistia na “elaboração de um texto de apresentação de um Projeto de Lei em defesa da igualdade de gêneros nas cadeiras do Congresso Nacional. A situação de produção determinava que a ideia de concepção do texto teria partido da iniciativa de um coletivo e que ele deveria ser escrito para ser lido na Câmara dos Deputados”.
Leia um texto acima da média:
Estimadas e estimados parlamentares,
Gostaria, primeiramente, de agradecer pela atenção e dizer que é uma honra inestimável me dirigir às senhoras e aos senhores. Represento, orgulhosamente, o coletivo Juntas, mas mais do que uma representação política, venho hoje em nome da população brasileira – homens e mulheres – que, acredito, poderão se beneficiar de uma maior igualdade de gênero nas cadeiras do Congresso Nacional. Trago, nesse sentido, um Projeto de Lei, elaborado por iniciativa popular, para fortalecer a equidade de gênero na política de nosso país. Gostaria de elencar, brevemente, as razões que tornam esse PL tão urgente.
Em primeiro lugar, não é novidade alguma que a desigualdade de gênero no Parlamento prejudica a sociedade brasileira. Segundo o levantamento feito pela revista AzMina, de 2020, os parlamentares homens são responsáveis por, aproximadamente, ¾ dos projetos desfavoráveis aos direitos das mulheres. Em quatro anos, infelizmente, pouca coisa mudou: sabemos que há, a cada dia, mais projetos que oprimem as mulheres, com o PL 1904/24, que equipara o aborto após 22 semanas de gestação a um homicídio simples. O que podemos esperar de uma Câmara dos Deputados composta, aproximadamente, por 420 homens (quase 80% do total de cadeiras)? Pessoas do gênero masculino não são acometidas, na pele, pelas injustiças que se abatem sobre nós, mulheres. Por isso, o PL elaborado por nós, e reiterado pela população brasileira, prevê um aumento da fiscalização de candidaturas, evitando as candidaturas “laranja”, além de aumentar a reserva de 30% para 50% de candidaturas femininas.
Em segundo lugar, é evidente que uma maior paridade de gênero, tanto aqui, na Câmara, quanto no Senado, traz benefícios em termos de justiça social. É certo que a população de nosso país é composta por pouco mais da metade de mulheres, que, no entanto, seguem sendo minoria nos cargos de liderança – tanto na esfera pública quanto na privada. Isso se deve, em boa parte, a uma perpetuação da cultura machista em nossa sociedade. Uma maior equidade na composição de gênero do Parlamento de nosso amado país pode, nesse contexto, servir de exemplo para outras organizações, que poderão, a partir disso, aumentar a paridade em seus cargos, inspirados pelo espelho do Congresso. Além disso, a renovação do olhar para campos como a saúde e educação, com a maior presença de mulheres na política representativa, podem ajudar a melhorar esses campos, tão combalidos em nosso país.
Por isso, senhoras e senhores, peço que votem com consciência, em busca do avanço de nossa nação como um todo – e para todas e todos. Pelo tempo e atenção, muito obrigada.
2024: discurso
A proposta 2 solicitava que o candidato “assumisse o papel de um(a) estudante de uma escola participante do MONUEM (Modelo de Simulação da ONU para o Ensino Médio) e que representasse a delegação brasileira em uma rodada de negociações com os países das Nações Unidas”.
Confira uma redação acima da média:
Em primeiro lugar, agradeço ao “bureau” por ter-me concedido a palavra. Caro delegado da Hungria: no que pese o respeito à soberania nacional de cada país, não posso, na posição de representante do Brasil, apoiar sua infeliz oposição à política de acolhimento de refugiados. De fato, devemos recordar a crítica situação na qual se encontram essas pessoas: não são terroristas; pelo contrário, fogem do terror. Não perseguem; pelo contrário, são perseguidos. Não são bárbaros; fogem da barbárie. Todos eles buscam viver em um país onde possam prosperar, sem discriminação, e viver seguros. Portanto, se escolhem juntar-se à sua nação, a postura a ser adotada não é de braços cruzados, mas de braços abertos, prontos para um abraço de satisfação em ter as qualidades de seu país reconhecidas. Assim, reiterando e respeitando as inúmeras resoluções do ACNUR – do qual somos ambos parte –, devemos acolher essas pessoas. Numa palavra: dar refúgio aos refugiados.
É natural que o senhor delegado, como parte dos aqui presentes, tenha ressalvas e temores quanto ao influxo de pessoas de origens diferentes. Asseguro a vocês e a seu país: nada é mais belo do que um “povo mestiço”. Primeiramente, porque refugiados trabalham e contribuem para a sociedade. Ainda que exijam assistência e adaptações no início de sua estadia, a boa aplicação destas garante que eles não tardem a dar retornos e frutos muito maiores. Além disso, refugiados não apagam culturas, mas constroem-nas. A cultura húngara, muito longe de ser reduzida, seria enriquecida com a contribuição de pessoas tão diversas. Em resumo, convido a Hungria e todos os demais presentes a deixarem de temerem as ilusões de “raças diferentes” ou “pessoas incivilizadas” para contemplar e aderir à beleza da harmonia e do acolhimento, em respeito aos Direitos Humanos comuns a todos.
Nesse sentido, apresento o exemplo do Brasil: somos uma nação aberta à recepção de refugiados. No passado, acolhemos milhões de italianos e japoneses que fugiam de guerras. Recentemente, demos asilo para milhares de sírios e venezuelanos, em coerência com nossos princípios e com as normas internacionais. Como resultado, ao invés de rejeitarem a política de acolhimento, nossos cidadãos mostram-se mais abertos do que a média global à causa dos refugiados. Refugiados constroem famílias e empresas; comunidades e histórias. Refugiados constroem o Brasil. Por isso, sugiro a todos os países aqui representados – incluindo a Hungria – que cessem de assistir navio após navio de refugiados naufragar em suas costas, afundando sonhos e diplomas. Sejam a boia sobre a qual uma nova vida possa respirar, nadar e ancorar-se. Agradeço a atenção e a disposição das delegações deste comitê para construir um mundo melhor, e desejo um excelente debate a todos. Encerro meu discurso.
2023: convocação
Os alunos que optassem pela proposta 1 deveriam “se colocar na situação de alguém que toma a iniciativa de escrever um texto de convocação para uma reunião com a associação de moradores do seu bairro, cuja pauta deveria focar nas providências a serem tomadas com relação à abertura de um clube de tiro na vizinhança”.
Aqui está uma redação acima da média:
Prezados vizinhos, aos que ainda não me conhecem, meu nome é Júlia e moro na casa 255 com meus pais desde quando nasci. Agora, aos 18 anos, quando me foi permitida a participação na associação de moradores, decidi convocá-los a uma reunião para discutirmos e tomarmos providências sobre um recente evento que tem me preocupado muito: a inauguração do Clube de Tiros “Guns” na área de convivência do bairro.
Não sei se as possíveis consequências às nossas vidas que a instalação desse estabelecimento poderá trazer são do conhecimento de todos, mas preciso alertá-los. As facilitações ao porte de armas, conferidas por legislações do governo Bolsonaro, provocaram um aumento vertiginoso de 474% no número de cidadãos possuidores do Certificado de Registro: os CACs – Caçadores, Atiradores e Colecionadores. Esses indivíduos, potenciais clientes do “Guns”, têm a permissão para transitar com as armas no percurso entre suas casas e o clube, o que significa que nós estaremos expostos a conviver com a livre circulação de armas de fogo nessas ruas tão pacíficas. Cresci brincando, nas calçadas, com as crianças da vizinhança (essencial para minha infância), mas acredito que com essa mudança só seria seguro que vocês mantivessem seus filhos reclusos em casa, privando-os dessa vivência enriquecedora, visto que os disparos acidentais são mais do que imaginamos. Eu mesma ainda sofro com a morte evitável de uma amiga da escola, vítima desse tipo de acidente.
É de meu conhecimento que alguns moradores possuem interesse nas atividades do clube, porém acredito que muitos não estão cientes de como a posse e o porte de armas podem ser prejudiciais à sociedade. Após as facilitações na política dos CACs, organizações criminosas como o PCC foram beneficiadas na compra de armamentos, tanto por meio de “laranjas”, como através de criminosos, fato preocupante para nossa segurança. Além disso, o discurso convincente de que arma é sinônimo de defesa pessoal é um mito. Comprovadamente, o acesso mais fácil ao armamento somente contribui com maiores taxas de suicídio e de mortes violentas, especialmente de crianças e de mulheres, logo, não se enganem com essa falácia, até mesmo porque questões de segurança pública são de responsabilidade do Estado.
Desse modo, os Decretos Federais de 2019 e de 2021, responsáveis pelo crescimento dos clubes de tiro, são um erro do poder público. O Instituto de Segurança Pública comprova que a posse de uma arma de fogo não é suficiente e nem eficiente no combate à criminalidade, mas sim que ações de inteligência realizadas por profissionais e estruturas oferecidas à polícia são um caminho nessa luta. Assim, essa péssima tentativa de política de segurança pública, que eleva o contingente de CACs, é completamente ineficaz e, ainda, é prejudicial a nós, que agora devemos discutir sobre uma decorrência dessa falha estatal: a instalação do “Guns” em nosso bairro.
Espero que eu os tenha convencido da gravidade da situação a que estamos sendo submetidos e que isso os preocupe o suficiente, assim como tem me afetado, para que compareçam impreterivelmente à reunião da associação. Encontro vocês lá!
2022: post para redes sociais
Os vestibulandos que optaram por fazer a Proposta 1 deveriam “se imaginar um/a digital influencer adolescente, que se tornou rapidamente famoso/a, chamando assim a atenção de pais, familiares e amigos que passaram a opinar sobre a atuação dele/a nas redes: alguns, por exemplo, se posicionaram contra, alegando se tratar de um tipo de trabalho infantil; já outros se posicionaram a favor da monetização de seu perfil nas redes”.
“Os candidatos deveriam vestir a máscara discursiva desse/a adolescente para escrever um extenso post (“textão”) em uma de suas redes, narrando sua trajetória até se tornar um/a digital influencer, a fim de relatar suas impressões acerca dessa experiência, assumindo um posicionamento sobre crianças e adolescentes atuarem como digital influencers“.
Leia uma redação acima da média:
Oi galera! Depois de quase 1 semana sumida, o que na internet é traduzido como 300 anos, eu me senti na obrigação de dizer o que está rolando para vocês. Bom, como a maioria que me acompanha sabe, eu fiz 15 anos semana passada, juntamente com o aniversário de 2 anos deste instagram, que contabiliza mais de 200 vídeos sobre empoderamento feminino publicados, além de 30 lives sobre gordofobia e autoestima, as quais me orgulho muito. Apesar destes números e de quase 1 milhão de seguidores que acompanham meu conteúdo, tenho recebido nas últimas lives comentários extremamente violentos em relação ao meu corpo, que se tornaram gatilhos responsáveis por novas dietas malucas e por episódios recorrentes de compulsão alimentar tão temida pelos meus pais.
Dito isso, vocês podem pensar “Nossa, a Vi é insegura assim?” ou “Ela não amava seu corpo acima da opinião alheia?” Pois é, nem sempre foi assim. A garotinha de 13 anos, insegura e vítima do bullying dos “amigos” da sala por ser considerada gorda e feia era minha realidade antes de virar digital influencer. Antes deste instagram como veículo para ensinar o autoamor e o respeito, eu navegava na deep web em busca da dieta do ovo e de métodos bulêmicos eficazes, lembranças que retornaram depois desses comentários hostis. Falei para minha mãe que eram apenas “haters” sem importância fazendo seu cyberbullying diário, mas ao esconder a verdade sobre como estas contas anônimas me afetavam, mais eu mostrava meu medo em relação ao número crescente destes haters proporcional à minha exposição na internet. Diante dessa situação e, com toda preocupação e influência de diversos familiares, meus pais consideraram o fechamento deste perfil, pensando, principalmente, na minha saúde mental.
Apesar de preocupados, meus pais entendem que o diálogo é fundamental em situações como esta e medidas extremas não iriam me fazer compreender como o acompanhamento familiar é fundamental para lidar com a pressão virtual. Esta nova era de adolescentes, vulgo “nós”, que domina as redes sociais, também é influenciada pela grande presença de violência virtual, erotização infantil e inúmeros crimes que podem se transformar em gatilhos e acarretar posturas cada vez mais violentas sobre si mesmos e sobre os outros. Dessa forma, acredito que um suporte familiar e um amparo terapêutico seriam de grande valia para essa nova juventude influencer, de maneira a mostrar como a internet é um meio sumário para a troca cultural e a sociabilidade, ao mesmo tempo que conscientiza os indivíduos acerca dos riscos da superexposição, ensinando como denunciar e bloquear comentários extremistas em vista de um pensamento mais tolerante, assim como meus pais fizeram comigo ao decidir não fechar esta conta.
Depois deste post enorme, gostaria de ressaltar o apoio terapêutico, dos meus familiares e de vocês, é claro! Já estou melhor e pronta para mais posts sobre positividade corporal feminina, que virão em breve. Obrigada pelo carinho!
2021: discurso político
A Proposta 1 “sugeria que o/a vestibulando/a assumisse o papel de um/a candidato/a a vereador/a que deve escrever um texto a ser proferido em uma assembleia estudantil da escola em que teria estudado no passado. O discurso político tem o propósito de discutir uma situação polêmica: a retirada ou não de duas estátuas erguidas no pátio do colégio (fundado em 1965), a do bandeirante Anhanguera e a do jesuíta Padre Anchieta”.
Leia uma redação acima da média:
Bom dia a todos e todas presentes nessa assembleia hoje. Antes de tudo, gostaria de agradecer a presença de vocês, e o empenho que apresentam em tornar essa tão querida escola em um ambiente cada vez melhor para a convivência e aprendizado. Como devem saber, sou A, ex-aluno dessa escola e candidato a vereador de São Paulo, e me chamou a atenção a questão da derrubada das estátuas no pátio do colégio. Por isso estou aqui, como prometido, para expor minhas visões.
Fico feliz em ver a sala da assembleia reformada, quase não a reconheço, apesar de ter passado muito tempo aqui na juventude. Mas a mudança em questão hoje se refere às estátuas do pátio: do Bandeirante Anhanguera e do Padre Anchieta, importantes figuras históricas. Parece-me que as opiniões estão muito divididas, sendo que alguns pensam que a derrubada dessas estátuas é vandalismo de símbolos nacionais ou apagamento da história, e outros pensam que é questionamento da celebração de racistas e genocidas.
Ao meu ver, a derrubada de estátuas seria mais um passo para a modernização da escola. Devemos nos lembrar que as estátuas foram erguidas em contexto de valorização dessas figuras. Apesar de suas contribuições históricas para o país, a manutenção das estátuas para celebração destas pode ter um valor simbólico de opressão frente aos seus crimes cometidos, como escravização e genocídio. O questionamento desses valores, trazido por movimentos como o Black Lives Matter, é necessário. Não há sentido em celebrar o desbravamento dos bandeirantes enquanto latifundiários queimam a Amazônia, ou em celebrar a proteção jesuíta dos indígenas enquanto conflitos de terra matam milhares de indígenas todo ano. Não há porque preservar a escravidão como lição, enquanto um homem negro não pode ir ao mercado sem medo de morrer, como aconteceu com João Alberto. Em uma sociedade tão retrógrada e tão permeada por racismo e destruição ambiental, as estátuas não preservam a história nem valorizam o progresso, mas reforçam e legitimam ideais que levam às atrocidades contemporâneas.
Isso é tudo o que eu tinha para falar, e está de acordo com minhas visões políticas e sociais que pretendo levar como vereador. Muito obrigado pela atenção, e quero dizer que não é um dilema simples, e que enche-me de orgulho vir de uma escola pública com alunos engajados como vocês. Até a próxima!
2020: crônica
A proposta 2 solicitava a produção de uma crônica. “Nela, os candidatos deveriam narrar, em primeira pessoa, um episódio de micromachismo baseado em uma das atitudes listadas na matéria do El País reproduzida na prova. A situação comunicativa simulava que o(a) narrador(a)-personagem havia passado por um episódio micromachista que, inicialmente, considerou comum e trivial. Porém, após ler a matéria do El País, ele(a) tomaria consciência de que aquela experiência era, na verdade, um exemplo repudiável de micromachismo profundamente enraizado na estrutura patriarcal da sociedade”.
Confira um texto acima da média:
Título: O Tratado Absoluto das Roupas Femininas
Na semana passada, uma grande amiga me convidou para acompanhá-la a um evento muito prestigiado: um show de sertanejo no clube da cidade. Haveria tudo aquilo que nós — mulheres que eu acreditava serem progressistas — supostamente adoramos: bebida, diversão até tarde e, principalmente, respeito e tolerância. Como recusar? Assim que recebi o convite, corri para escolher uma roupa (“look”, para os mais íntimos) adequada à nobre missão de cantar Jorge & Mateus até ficar rouca.
No dia do evento, chegamos cedo para garantir uma mesa. Eu, minha amiga e algumas conhecidas fomos nos acomodando e conversando animadamente. Foi então que avistamos outra conhecida — vamos chamá-la de Gabriela — usando uma saia de veludo vermelho, botas de salto alto e argolas douradas. Hoje percebo que ela estava impecável, mas naquele momento simplesmente congelamos. Observamos sua chegada como se ela tivesse acabado de aterrissar em Júpiter. Lançamos olhares silenciosos, porém inquisidores.
Gabi se aproximou, sentou-se conosco e conversamos por alguns minutos, até que decidiu ir ao banheiro — sozinha, porque nenhuma de nós se ofereceu para acompanhá-la. Mal ela saiu e minha amiga já sentenciou: “Nossa, que roupa provocante! Totalmente exagerada. Ela devia ter mais bom senso”.
Todas concordamos. Algumas até reforçaram: “ela só quer atenção”, “não sei como tem coragem”. E eu, envergonho-me ao admitir, não percebi nenhum problema no julgamento que fizemos. O tribunal da roupa é um velho conhecido de toda mulher.
Somente hoje, ao ler uma matéria do El País sobre micromachismo, percebi o quanto foi terrível classificar a roupa de Gabi como “provocante”. Eu, que me julgava progressista, ainda carregava a ideia de que mulheres “não devem” usar saias curtas. Eu, feminista autodeclarada, reproduzi um código silencioso que dita o que é considerado “decente” para uma mulher. Que leis são essas que tentam controlar o corpo feminino? Respondo: o código machista que cresci ouvindo e, sem perceber, repeti tantas vezes. Esse foi o “tratado” que usei, como instrumento de opressão, contra Gabriela.
Com vergonha — e indignação comigo mesma — reconheço que percebi tarde demais o micromachismo do qual fui agente. A lição que aprendi é clara: estivesse Gabi usando uma saia curta ou um vestido comprido, a justiça machista a condenaria de qualquer forma, simplesmente por ser mulher.
Deixo registrado aqui o triunfo de Gabi, que enfrentou um código que, enquanto existir, continuará limitando a liberdade feminina e julgando todas nós.
2019: abaixo-assinado
A proposta era fazer um abaixo-assinado a favor de uma professora que foi acusada de doutrinação ideológica em sala de aula, com as seguintes exigências: a) reivindicar um posicionamento público da escola em defesa da professora; b) reivindicar a manutenção das aulas; c) justificar as reivindicações.
Veja abaixo um exemplo de redação acima da média fornecida pela Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest):
Título: Abaixo-assinado à direção da Escola Estadual “Liberdade”
Venho, em nome de todos os estudantes da Escola Estadual “Liberdade”, que assinaram o presente documento, reivindicar o posicionamento público das senhoras e dos senhores, diretores desta instituição, em defesa da professora de Filosofia do Ensino Médio, vítima de ameaças e ofensas anônimas após nos ministrar o texto “Teócrito e o pensamento” durante o curso sobre as origens da Cidadania e dos Direitos Humanos modernos.
O episódio de intolerância ocorreu sobre o viés falacioso de que nossa docente havia nos doutrinado politicamente, ou tentado fazê-lo, após a leitura referida acima. O texto – do filósofo grego Teócrito de Corinto – expressa a importância do direito ao pensamento, sendo a sua suspensão o maior dos crimes e o caminho para a instauração de governos tirânicos e opressores.
Desse modo, sob nossa perspectiva, não há qualquer tentativa de “doutrinação” ; pelo contrário, a docente ganhou ainda mais admiração por cumprir o papel principal de sua profissão e dos estudos: nos ensinar a pensar de forma autônoma. Além disso, essas aulas permitem o diálogo acerca dos Direitos Humanos, um tema que deve ser conhecido por todos – especialmente na diversa sociedade brasileira – afinal, ele aborda princípios fundamentais relacionados à liberdade, ao respeito e à tolerância, constituindo o pilar para a formação cidadã democrática.
Portanto, por meio deste abaixo-assinado, também reivindicamos a manutenção das aulas de Filosofia cujo tema aborda os Direitos Humanos, pois acreditamos que reprimir esse assunto é uma espécie de censura, a qual se opõe à educação vigente em países – desenvolvidos, como a Suécia – cujo viés libertador aborda questões de cidadania, diversidade e educação sexual.
Assim como a filósofa Hannah Arendt, valorizamos a ideia de um mundo comum, plural e diverso, capaz de valorizar a liberdade e impedir o totalitarismo e outras opressões; e temos convicção de que as classes de Filosofia são essenciais para tanto, assim como a atuação da própria escola. Com isso, esperamos que as reivindicações aqui presentes, clamadas pelos estudantes, sejam atendidas.
2018: palestra
A proposta era escrever um texto sobre o fenômeno da pós-verdade, que seria apresentado em uma palestra, contemplando as seguintes questões: a) o que é pós-verdade e sua relação com as redes sociais; b) exemplos de fake news que circularam nas redes sociais e se tornaram pós-verdade; c) consequências da pós-verdade.
Veja abaixo um exemplo de redação acima da média fornecida pela Comvest:
Título: sem título
Boa tarde, pessoal!
Primeiramente, uma boa tarde a todos os meus colegas do Ensino Médio. Já agradecendo ao Grêmio Estudantil, pelo convite, venho apresentar a vocês o tema da palestra que preparei: a pós-verdade. O que exatamente significa este termo, cada vez mais em evidência? Como a pós-verdade se expressa no cotidiano, e como ela afeta a sociedade do século XXI? Isso é o que tentarei explicar hoje.
Em termos gerais a palavra “pós-verdade” se refere a um fato mentiroso que determinado grupo de pessoas encara como verdadeiro – simplesmente porque essa versão da realidade favorece seus interesses ideológicos. Para entender melhor esse fenômeno, é preciso antes reconhecer o que possibilita essa situação: o ritmo frenético das redes sociais, que para nós já é algo quase natural. Afinal, com tantas informações simultâneas nos 140 caracteres do Twitter, é impossível confirmar tudo o que é publicado – e assim as pessoas passam a acreditar apenas nas notícias que já confirmam sua visão de mundo.
Há inúmeros exemplos da propagação de pós-verdades em larga escala. O mais famoso é o de Donald Trump nas eleições dos EUA em 2016: enquanto rechaçava as supostas “notícias falsas” da imprensa, fazia acusações infundadas – como a de que Barack Obama fundara o Estado Islâmico. Outro importante, e que muitos aqui devem acompanhar, são os debates sobre a Reforma da Previdência Social – em que bilhões de reais somem ou surgem, dependendo da pessoa que compartilha a publicação. Tanto o exagero do déficit quanto sua negação são frutos de uma pós-verdade inescrupulosa – e cuja desinformação representa grave perigo para nossa sociedade.
Terminando a palestra, quero ressaltar que o maior problema da pós-verdade não é meramente enganar a população – mas prendê-la nas chamadas “bolhas sociais”. Incentivadas pelas próprias redes sociais, que manipulam o aparecimento das publicações, essas pessoas tornam-se incapazes de reconhecer o ponto de vista do outro. Assim, não há debate, nem democracia, nem cooperação para melhorar nosso país. Alguma dúvida ou comentário?
2017: carta
A proposta era escrever uma carta para a Seção do Leitor da Revista Rio Pesquisa e discutir questionamentos levantados pela publicação do artigo “A volta de um Rio que faz sonhar”.
Veja abaixo um exemplo de redação acima da média fornecida pela Comvest:
Título: sem título
À revista Rio Pesquisa.
O artigo “A volta de um Rio que faz sonhar” de Lená Medeiros de Menezes traz, em minha opinião, uma discussão importantíssima para o Brasil atual. Em meio a um contexto global de crises econômicas, conflitos civis e embates socioculturais, analisar o papel e o comportamento do brasileiro frente aos imigrantes que se instalaram e se instalarão no país torna-se uma discussão delicada, porém necessária.
Concordo plenamente com a autora sobre a falsidade do conceito de Brasil cordial. A ideia de um Brasil acolhedor de estrangeiros se desfaz ao observamos a existência de clara de discriminação do imigrante, seja ela direta, como o preconceito quanto aos trabalhos dos médicos cubanos, ou indireta, como no ciclo de desigualdade enfrentado por bolivianos e haitianos que acabam por exercer subempregos e são privados de seus direitos básicos em condições de vida precárias.
Então, arrisco a dizer que a ideia de um Brasil cordial é ilusória e se junta a demais mitos – como o de democracia racial – que esculpem um Brasil liberal pacífico e acolhedor, procurando esconder do cenário internacional o quão conservador e preconceituoso nosso país é.
A desmistificação é necessidade urgente para que possamos refletir e responder às perguntas do final do artigo de maneira correta e humana, afastando discriminações negativas e xenofobia. E o primeiro passo, com certeza, foi dado com a publicação do artigo “A volta de um Rio que faz sonhar”, portanto, deixo meus parabéns a todos os envolvidos.
Com admiração,
A.L.
2016: resenha
A proposta era escrever uma resenha da fábula de La Fontaine, levando em consideração os seguintes pontos: a) uma síntese da fábula, indicando os seus elementos constitutivos; b) a construção de uma situação social análoga aos fatos narrados, que envolva um problema coletivo; c) um fechamento, estabelecendo relações com a temática da fábula.
Veja abaixo um exemplo de redação acima da média fornecida pela Comvest:
Título: sem título
A fábula “A Deliberação Tomada pelos Ratos”, escrita por La Fontaine, apresenta uma situação-problema desencadeada por um gato de nome Rodilardo que caça inúmeros ratos, matando-os e comendo-os. Os ratos, preocupados com sua situação, decidem se reunir para discutir e encontrar alguma solução. Assim, concluem que se houvesse um sinal para alertá-los da presença do felino, poderiam ter tempo para se esconder e salvar suas vidas, o que foi proposto pelo rato mais velho e experiente. Os demais concordaram, inclusive com a ideia de pendurar-lhe uma esfera de metal barulhenta no pescoço. Porém, nenhum dos ratos se comprometeu a fazê-lo, tornando a ideia infrutífera.
La Fontaine, com esta fábula, transmite a moral de que, embora seja importante deliberar os assuntos, é imprescindível executá-los. Situação semelhante ocorre quando uma comunidade enfrenta problemas com a segurança pública. Em um determinado bairro com alto índice de violência, pouco adianta lastimar-se dos crimes ocorridos ou discutir soluções em uma rede social. Caso este alto índice de violência ocorra em razão da ausência de escolas ou atividades culturais, essa comunidade deverá se organizar e levar os fatos às autoridades competentes para que providenciem o necessário e, com a participação de todos, seja resolvido concretamente o problema.
O receio de eventuais retaliações pode levar essa comunidade a amedrontar-se, assim como os ratos da fábula. Para colocar o guizo no gato, ou seja, para efetivar uma transformação nesse bairro, é preciso sair da toca, enfrentar a questão e exigir os próprios direitos. No caso, um serviço de segurança e educação prestados adequadamente pelo Estado.
E. A.
2015: síntese
A proposta era escrever uma síntese sobre humanização no atendimento à saúde, escrita em registro formal, observando as seguintes instruções: a) falar sobre o conceito de humanização no atendimento à saúde; b) o ponto de vista apresentado em dois textos que falam sobre o conceito; c) as relações possíveis entre os dois pontos de vista.
Veja abaixo um exemplo de redação acima da média fornecida pela Comvest::
Título: Humanização no atendimento à saúde
O ato de somar os avanços tecnológicos ao bom relacionamento, a fim de proporcionar um atendimento de qualidade, é o que entende-se por humanização.
No trecho do artigo científico “Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência hospitalar” de Suely Deslandes, a humanização no atendimento à saúde é importante pois, se houver tecnologia sem bom relacionamento, segundo o artigo, “desumaniza a assistência”, e, se houver atendimento sem tecnologia, quando esta necessária, acaba “desumanizando o cuidado”. Entretanto, apesar de tecnologia e relacionamento serem importantes, o “fator humano” tem maior relevância, de acordo com o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH).
O trecho do ensaio de Jerome Bruner, “Fabricando histórias: direito, literatura, vida”, trata da importância do médico escutar o que o paciente tem a dizer, antes de tratá-lo. Para isso, toma como base um Programa de Medicina Narrativa desenvolvido na Faculdade para Médicos e Cirurgiões da Escola de Medicina da Columbia University, cujo objetivo é atentar-se para o que o paciente tem a dizer, antes de intervir em seu caso clínico. Segundo os organizadores do programa, o número de mortes por incompetências narrativas já começou a diminuir na Faculdade da Columbia University.
Ambos os trechos, artigo científico e ensaio, ressaltam a importância do bom relacionamento entre profissionais e usuários e a necessidade de se atentar ao papel do profissional, seja para controlar os equipamentos tecnológicos, seja para bem atender pessoalmente.
E aí, gostou dos exemplos de redação Unicamp que trouxemos para você? Agora, que tal treinar bastante para alcançar a tão sonhada vaga em uma das universidades mais disputadas do Brasil? Você pode fazer isso contratando um dos planos oferecidos pela Imaginie, que oferece feedbacks sobre todos os pontos do texto.
Foto do post: Divulgação/Antoninho Perri/SEC/Unicamp








