O tema da redação Enem 2019 deu o que falar: democratização do acesso ao cinema no Brasil.
Nesse ano, a proposta de redação apresentou 4 textos motivadores:
- o primeiro era uma alusão histórica, contando sobre a primeira exibição pública de cinema;
- o segundo era um pequeno trecho sobre a definição de cinema segundo Edgar Morin: “um meio de transpor para a tela o universo pessoal, solicitando a participação do espectador.”;
- o terceiro era um infográfico, apontando dados sobre o comportamento da população em relação ao cinema;
- por fim, o quarto falava sobre a distribuição das salas de cinema no Brasil, que é insuficiente e concentrada nas áreas de renda mais alta.
O tema levantou uma série de dúvidas para os participantes. Por isso, convidamos a Jana Rabelo, professora há mais de 15 anos, especialista na redação do Enem e edutuber, para tirar as nossas dúvidas e bater um papo sobre como a redação poderia ser construída.
Quer entender melhor sobre o tema “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”? Dá o play!
Existe uma abordagem correta para o tema “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”?
Segundo a professora Jana Rabelo, o segredo para entender o tema da redação é prestar atenção nas palavras utilizadas pela banca elaboradora.
Portanto, para compreendermos o tema da redação Enem 2019, podemos começar pela palavra “acesso”. Esse termo tem diferentes sentidos, mas é menos provável que esteja relacionado à produção de obras cinematográficas. Portanto, é possível que a discussão sobre financiamento da produção cinematográfica tangencie um pouco o tema.
Nesse caso, podemos pensar em “acesso” no sentido de fazer o público chegar às obras cinematográficas.
Para fazer um texto organizado, a professora Jana Rabelo sugere que o estudante inicie falando sobre “acesso” em seu sentido concreto, em seu sentido físico. Ou seja, em relação à distribuição das salas de cinema no Brasil.
Nos textos de apoio, o candidato pôde analisar dados que apontavam para a desigualdade geográfica do acesso ao cinema no Brasil. Afinal, as salas de cinema não estão distribuídas igualmente no território nacional.
Porém, podemos pensar que essa dificuldade geográfica também está relacionada a uma dificuldade socioeconômica. Em Belo Horizonte, por exemplo, a maior parte das salas de cinema estão concentradas nas áreas mais privilegiadas socioeconomicamente. E, mesmo os cinemas que estão localizados em áreas mais populares, geralmente possuem ingressos muito caros.
Até aqui, então, vimos que podemos pensar primeiro em “acesso” no sentido geográfico e depois no sentido econômico e social.
Assim, levando em consideração a importância do repertório sociocultural, o participante poderia trazer o conceito de desigualdade espacial, do geógrafo Milton Santos. Ele fala sobre como a organização do espaço reflete a desigualdade social. Ou seja, a desigualdade social se desdobra em desigualdade espacial.
O participante poderia, no entanto, ir um pouco além: o “acesso” no sentido físico tem relação com acessibilidade. Será que todas as salas de cinema estão igualmente preparadas para receber as pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo? E as pessoas com deficiência visual ou auditiva?
Por fim, o candidato também poderia pensar no acesso cultural. O domínio das salas de cinema é feito pelas grandes obras, as quais chamamos de “cultura de massa”. Afinal, todas as grandes obras cinematográficas estão igualmente distribuídas nas salas de cinema?
Portanto, de acordo com a professora Jana, o participante poderia fazer uma discussão mais organizada partindo do mais concreto para o mais abstrato.
O que poderia ser abordado na introdução?
Uma boa estratégia para a introdução é aproveitar o primeiro parágrafo para já inserir um gancho para o repertório sociocultural que será discutido posteriormente.
Existem alguns caminhos que o participante pode ter seguido, por exemplo:
- introdução sobre atualidade do tema: abordar alguma discussão atual que tenha trazido a questão da democratização do acesso ao cinema à tona. O participante poderia, por exemplo, fazer uma menção a Bacurau, um filme brasileiro que cumpre, além de um papel de entretenimento, o objetivo de trazer uma discussão social e política à tona, além de gerar renda com toda a indústria por trás do filme;
- introdução por citação: citar algum autor ou conceito que será aprofundado posteriormente com o repertório sociocultural. Um exemplo é o artigo 215 da constituição, que diz respeito aos direitos culturais do cidadão brasileiro.
O que poderia ser abordado no desenvolvimento?
Existem diversos tipos de fazer um bom desenvolvimento do texto. Porém, a professora Jana Rabelo ressalta 2 tipos que podem ter sido mais fáceis de apresentar nesse caso:
- causas e consequências:
- causas: obstáculos à democratização do acesso ao cinema no Brasil, que são os geográficos, socioeconômicos e culturais.
- consequências: problemas podem ser gerados a partir da falta de acesso ao cinema, como a negação do direito ao acesso à cultura, a perda do potencial pedagógico do cinema e a perda do potencial econômico dessa atividade.
- Relevâncias e desafios: basicamente, invertendo a relação de causas e consequências na disposição do texto, o estudante poderia fazer um desenvolvimento por relevâncias e desafios.
O que poderia ser abordado na conclusão?
Na conclusão, tradicionalmente nos dedicamos à proposta de intervenção. Portanto, essa etapa depende das problemáticas apresentadas pelo estudante ao longo do texto.
Um exemplo de proposta de intervenção para as dificuldades de acesso ao cinema por conta das limitações geográficas e econômicas é a realização de mais eventos de popularização do cinema, como sessões gratuitas ou a preços populares realizadas por meio de parcerias entre a Secretaria Especial de Cultura e empresas.
E aí, está curioso para saber se você foi bem na redação do Enem sobre a democratização do acesso ao cinema no Brasil? Envie o seu texto para a correção da Imaginie e tenha uma ideia de qual será a sua nota!