O bullying é uma das pautas mais urgentes no contexto escolar. Ele consiste em agredir ou humilhar outra pessoa de maneira repetida, seja com insultos, agressões físicas e emocionais, por exemplo. Ignorar alguém ou espalhar rumores sobre um colega também se enquadram no bullying escolar.
Por ser um assunto relevante a nível nacional, o problema também pode ser abordado em um tema de redação. Mas na hora de escrever, pode surgir a dúvida: o que citar sobre o assunto?
Para que você tenha uma gama maior de opções para debater em sua redação, sugerimos diversos tipos de elementos que podem se relacionar ao assunto, como produtos culturais, citações e leis brasileiras. Ao final, incluímos uma redação pronta com os comentários do professor especialista sobre o tema “Efeitos do bullying na sociedade”.
O que citar na redação sobre bullying?
O problema ocorre em diversos países e já foi retratado em muitas produções, como séries de televisão, livros, quadrinhos e documentários. E você sabia que o Brasil conta com uma lei sobre o problema? Vamos lá:
Repertório cultural
Confira algumas obras que abordaram o bullying de diversas maneiras.
Turma da Mônica (1970-atualidade)
Uma das histórias em quadrinhos mais icônicas do Brasil, que conquista fãs há mais de 50 anos, retrata muitas temáticas sociais sob a ótica dos vários personagens.
A conturbada relação entre Cebolinha e Mônica, os dois principais do gibi, representa o bullying: constantemente, ele a xinga, por meio de nomes pejorativos, e ela revida por meio da violência. Mônica tenta esconder, mas sente-se muito magoada com a situação que enfrenta diariamente.
Freaks and Geeks (1999)
A série, de apenas uma temporada, foi responsável por apresentar muitos atores para Hollywood, como Linda Cardellini (de Scooby Doo), Jason Segel (de How I Met Your Mother), Busy Philipps (de Cougar Town) e John Francis Daley (de Bones).
O clássico cotidiano escolar foi retratado com verossimilhança, assim como o bullying sofrido por alguns personagens, que tinham de conviver com os inconvenientes “valentões” do Ensino Médio.
Um dos episódios mostra a aula de Educação Física, na qual Alan, o bullie (pessoa que faz bullying), junta-se a seus amigos e usa o jogo como circunstância para atirar a bola fortemente em Sam, Bill e Neal, que são os alvos principais dos xingamentos diários.
As Vantagens de ser Invisível (livro de 1999, filme de 2012)
O livro e o filme, ambos aclamados pela crítica e público adolescente, são feitos sob a ótica do personagem principal, Charlie. O adjetivo “invisível” também diz respeito à sua sensação acerca das pessoas de sua escola, que não percebem sua presença diariamente.
Ao longo da história, Charlie consegue contornar sua situação ao se tornar amigo de outras pessoas semelhantes a ele, que também sofriam com a exclusão no cotidiano escolar.
Manual de Sobrevivência Escolar do Ned (2004-2007)
A famosa série da Nickelodeon que cativou o público durante os anos 2000 se passa no colégio fictício James K. Polk. A produção retrata o cotidiano de Ned Bigby e seus dois melhores amigos, Simon Nelson-Cook (“Cookie”) e Jennifer Mosely (“Moze”).
Constantemente, os dois meninos – além de outros colegas de sala – sofrem bullying do valentão Billy Loomer e seus parceiros. Esses não perdem a oportunidade de importuná-los, fazendo com que passem por situações constrangedoras, muitas vezes em público.
Citações e conceitos de pesquisadores
O bullying também pode ser contextualizado na redação por meio de pesquisadores e filósofos. Confira algumas sugestões de citações e abordagens:
Paulo Freire – educador e filósofo brasileiro
Vamos começar as dicas com uma das frases mais conhecidas do pesquisador pernambucano: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor”.
Em alguns casos, quem sofre bullying pode querer praticar atos violentos com outras pessoas, gerando, assim, um ciclo de crueldade. Um dos exemplos dessa triste circunstância é o Massacre de Realengo, ocorrido em 2011 no Rio de Janeiro. Após disparar mais de 100 tiros contra vários alunos na Escola Municipal Tasso da Silveira, Wellington Menezes tirou a sua própria vida. Na tragédia, 12 adolescentes morreram.
Os maus-tratos sofridos pelo autor do crime quando ele estava na escola foram considerados a principal causa de seus atos criminosos. Com isso, é importante haver uma educação que promova o respeito e a empatia para combater o bullying e promover uma sociedade mais justa.
Hannah Arendt – filósofa alemã
O conceito de “banalidade do mal”, cunhado pela pesquisadora, também pode ser usado para discutir como atos de bullying podem ser vistos como pequenos ou insignificantes, mas, na verdade, contribuem para um mal maior quando são normalizados no ambiente escolar.
Segundo Arendt, o mal pode se manifestar de maneira banal e comum, através da conformidade e da aceitação passiva de normas sociais prejudiciais.
Michel Foucault – filósofo e historiador francês
Em suas pesquisas, Foucault explora como as estruturas de poder e controle social influenciam o comportamento individual. Na escola, o bullying pode ser visto como uma manifestação de micro-poder e disciplina que operam dentro dessa instituição.
O conceito de “microfísica do poder” analisa como o poder é exercido em níveis cotidianos, nas pequenas relações do dia a dia – o que também pode incluir as interações entre estudantes na escola.
Lei do Bullying
Em janeiro de 2024, foi sancionada uma lei que criminaliza o bullying no Brasil. A Lei nº 14.811 estabelece a Política Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e Exploração Sexual da Criança e do Adolescente. Foram estipuladas mudanças no Código Penal, na Lei dos Crimes Hediondos e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
O texto criminaliza o bullying e o cyberbullying (o ato cometido por meio de tecnologias digitais), entre outras formas de violência contra crianças e adolescentes. No caso do bullying, a pena para o agressor é de multa, caso a conduta não constitua crime mais grave. Já no cyberbullying, a pena pode chegar a quatro anos de reclusão.
Lei de 2015
Anteriormente, o bullying já foi mencionado na Lei 13.185, de 2015, que formulou o Programa de Combate à Intimidação Sistemática.
Porém, o texto não determina punição específica para esse ato, e sim, exige que “escolas, clubes e agremiações recreativas assegurem medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate à violência e à intimidação sistemática”. As informações são da Agência Senado.
Para saber mais e refletir
Confira dois documentários brasileiros que abordam a temática do bullying nas escolas:
Fiz Me Respeitar
O documentário retrata situações de bullying no ambiente escolar e estratégias possíveis para combater e prevenir o problema. A produção foi realizada pelo Projeto Cinema na Escola junto à Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro, na Vila Ipiranga, em Porto Alegre
Bullying: Descortinando a violência escolar
A obra conta com relatos de estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Dom Vital, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife. O documentário compõe o trabalho de conclusão da mestra Liliane Feitosa de Oliveira Sousa Brito pelo Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional da Fundação Joaquim Nabuco (ProfSocio/Fundaj).
Infelizmente, muitos alunos ainda sofrem com o bullying nas escolas. A fim de melhorar essa realidade, mesmo se você não é alvo do problema, tenha consciência e empatia: converse com seus amigos, ao presenciar uma situação, não omita-se e tente procurar ajuda. É pelo bem de todos os estudantes!
Redação pronta sobre o tema ‘Efeitos do Bullying na sociedade’
Agora, leia uma redação pronta o tema “Efeitos do Bullying na sociedade“:
Com o avanço da história, vários direitos foram sendo conquistados e tipos de violências foram finalmente criminalizadas. Entre essas,[1] está a prática do “bullying”. Esse termo inglês consiste na agressão ou humilhação paulatina que acontece principalmente em escolas.[2] Apesar de ser considerado crime, o ato ainda é comum e traz uma série de efeitos preocupantes na sociedade. Nesse contexto, além de criar adultos violentos e inseguros, a agressão pode culminar no suicídio.[3] Por isso, há a necessidade de combater essa prática para que esses efeitos sejam atenuados e extintos.[4]
Essas agressões refletem de forma negativa no futuro das vítimas e dos próprios agressores. Nesse contexto, é muito coerente a citação de Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor”,[6] uma vez que a prática do “bullying” é um ciclo hierárquico onde sempre[5] o agressor também é vítima. Isso transforma as crianças em adultos violentos e inseguros, considerando que não tiveram uma infância mentalmente saudável.
É muito comum que esse assunto seja tratado em produções culturais, especialmente focada no público adolescente. Exemplo disso é a série “13 Reasons Why”, Os Treze “Porquês”[7], onde uma jovem, que sofria “bullying” e outras formas de agressão, suicida-se como forma de fuga. Fora da ficção, infelizmente, isso se repete, afetando também outras vidas, como o caso de Wellington Oliveira que sofreu maus tratos[11] pelos colegas na adolescência, e, na fase adulta, promoveu uma chacina em um colégio no Realengo, Rio de Janeiro, em 2011, também seguido de suicídio.[8] Nesse cenário, torna-se ainda mais ululante a necessidade de combater essa prática tão comum e perigosa.
Nessa perspectiva, é preciso, portanto, combater o “bullying” nas escolas para amenizar e extinguir os seus efeitos na sociedade. Para tanto, o Ministério da Educação deve ir em busca da “Educação Libertadora”, de Freire, isso pode ser atingido com palestras mensais que reúnam alunos e psicólogos para discutirem sobre a inclusão, a cidadania e o respeito ao próximo, além de proporcionar encontros individuais com o profissional da saúde mental. Ademais,[9] o Ministério do Trabalho deve seguir esses mesmos passos, mas no âmbito adulto, afinal, o “bullying” afeta principalmente o psicológico do ser humano, independentemente da idade. Dessa forma, talvez, essa prática será efetivamente combatida, seus efeitos serão superados e a história irá avançar mais uma vez.[10]
Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação.
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
Competência II: compreender a proposta
- [2] Boa explicação sobre o que é bullying.
- [3] Argumentação muito adequada ao tema proposto.
- [7] Você usou um ótimo exemplo midiático para ilustrar ainda melhor sua tese. Parabéns!
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
- [4] Excelente introdução. Você abordou aspectos importantíssimos para o desenvolvimento da temática “bullying”.
- [5] Cuidado com as generalizações.
- [6] Você selecionou uma ótima frase, posto que, infelizmente, a escola é um ambiente propício para a ocorrência de bullying.
- [8] Bom exemplo para ilustrar sua argumentação.
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
- [9] Bom uso do conectivo.
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
- [10] Excelente proposta de intervenção. Você apresentou várias alternativas detalhadas e coerentes com a temática estabelecida.
Comentário final
Excelente redação! Você apresentou uma tese muito bem estruturada e argumentos pertinentes ao tema. Parabéns.
Nota: 960
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