A proteção do meio ambiente e a criação de políticas que foquem na melhoria da qualidade de vida da população marginalizada vêm se tornando cada vez mais centrais nos debates sociais e políticos. No entanto, ainda são poucos os conteúdos que abordam o racismo ambiental e a sua relação com esses outros temas.
Afinal, o que é racismo ambiental? Ele só acontece no Brasil? Por que precisamos falar disso, e como podemos combatê-lo? Ao longo deste conteúdo, você descobre tudo o que precisa saber sobre o assunto. Confira!
O que é?
Racismo ambiental é o nome dado às injustiças sociais e ambientais que afetam etnias e populações historicamente vulneráveis. Embora nem todas essas ações tenham uma motivação racista, o seu impacto racial é inegável. No Brasil, por exemplo, ele se observa sobretudo na população negra e indígena.
O termo foi cunhado pelo ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr., secretário de Martin Luther King Jr. De acordo com o professor de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, Marcos Bernardino de Carvalho, em entrevista ao Jornal da USP, o Dr. Franklin Jr. se destacou pela denúncia de que a população negra era, desde a sua época, a mais vitimada pela degradação ambiental.
O racismo ambiental parte do pressuposto de que os impactos ambientais — acidentais ou não — não acontecem de forma uniforme na população. No caso brasileiro, é muito comum que eles atinjam moradores de comunidades periféricas, como as favelas ou as pequenas regiões do interior.
O racismo ambiental acontece apenas no Brasil?
Não. O racismo ambiental é uma prática que pode ser observada mundialmente, em diferentes níveis e afetando majoritariamente diversos grupos. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, a ocorrência de grandes queimadas afeta principalmente as pessoas que não moram em grandes centros urbanos — comunidades rurais e de povos originários.
Na Europa, a expulsão do povo cigano de alguns países também faz com que eles sejam os principais afetados pelas mudanças climáticas e por acidentes ambientais. O mesmo acontece com refugiados de países que sofrem com tsunamis, terremotos ou mesmo guerras recorrentes, e que não conseguem encontrar abrigo em outras regiões.
Ou seja: o racismo ambiental é um problema global, e que deve ser entendido sob a luz de outras questões — sociais, políticas e econômicas.
O que causa o racismo ambiental?
A origem do racismo ambiental pode ser atribuída às políticas de raça historicamente responsáveis pela segregação social. Embora os efeitos variem entre países e regiões, no Brasil as populações negra e indígena foram vítimas recorrentes da necessidade de migração para áreas periféricas.
Essa exclusão é evidente sobretudo nos grandes centros urbanos. De acordo com a reportagem da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, o racismo ambiental tem um impacto significativo nos moradores das favelas (majoritariamente negros), e a falta de acesso a serviços básicos (como saneamento, saúde e estrutura) tornam a situação mais preocupante.
Da mesma forma, comunidades indígenas e quilombolas também costumam ser afetadas graças ao aumento do desmatamento, da mineração e das áreas dedicadas ao agronegócio. No entanto, são essas as principais comunidades que contribuem para a preservação do meio ambiente, que poderia auxiliar no controle de desastres naturais ampliados pela ação humana.
Nesse sentido, o racismo ambiental é causado por uma série de fatores — históricos, sociais, políticos e econômicos — que, juntos, contribuem para a marginalização de um grupo específico da população.
Como o problema nos afeta?
É importante destacar que o racismo ambiental tem efeitos sociais e econômicos que vão além das consequências diretas na população historicamente marginalizada. Alguns exemplos são:
- Com a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, houve o deslocamento das comunidades indígenas ribeirinhas, mas também o impacto nas plantações próximas às regiões do rio, o que impacta negativamente a agricultura;
- O uso excessivo de agrotóxicos gera a contaminação da água e do solo, afetando pequenas comunidades que vivem da agricultura, o que pode gerar diminuição da oferta de produtos básicos e aumento dos preços;
- A exploração das minas de ouro de Paracatu, em Minas Gerais, vem causando a contaminação por metais pesados nas comunidades próximas, aumentando o número de casos de doenças graves (como o câncer) e sobrecarregando unidades de saúde.
Os efeitos mais visíveis do racismo ambiental, no entanto, continuam sendo as tragédias que se impõem sobre a vida da população marginalizada. No caso do Brasil, por exemplo, enchentes e deslizamentos são frequentes em diferentes estados do país, ocasionando, além de mortes, o deslocamento de milhares de famílias.
Desse modo, percebe-se que, embora o racismo ambiental seja causado sobretudo pelas injustiças sociais, ele também se torna responsável por reproduzi-las. A falta de políticas públicas que atuem diretamente na solução desses problemas, portanto, acaba contribuindo para a manutenção do cenário de exclusão de uma comunidade específica.
Como combater o racismo ambiental?
Para que os efeitos do racismo ambiental sejam mitigados, é necessária a criação de políticas públicas que visem solucionar os problemas causados por ele. Nesse sentido, é preciso, em primeiro lugar, uma análise das principais consequências do racismo ambiental e dos grupos mais frequentemente prejudicados.
Em seguida, cabe aos governos Federal e Estadual traçar políticas públicas de mais acesso à saneamento, educação, saúde e estrutura para que pessoas que vivem em comunidades periféricas tenham mais segurança. Também é fundamental construir, ao lado de pesquisadores e especialistas, planos de ação que evitem possíveis catástrofes, como enchentes e deslizamentos.
Vale pontuar que o racismo ambiental é um problema que envolve a defesa dos direitos humanos e ambientais. Embora o termo carregue certo “peso”, é fundamental que ele seja cada vez mais debatido para que mais pessoas compreendam os impactos das ações sociais na qualidade de vida de toda a população — e não só dos diretamente afetados.
Esperamos que este conteúdo tenha te ajudado a entender um pouco melhor o que é o racismo ambiental e todas as suas particularidades. Agora, aproveite para estudar mais sobre o desmatamento na Amazônia e entender como os dois temas estão relacionados!
Foto do texto: Fernando Frazão/Agência Brasil