Portões fechados! Os participantes finalmente puderam “matar a curiosidade” sobre o tão especulado tema da redação Enem 2020. A página oficial do Inep divulgou um pouco depois do horário de início das provas que a discussão seria sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Quem é aluno da Imaginie já estava treinando esse tema desde o ano retrasado, então já saiu na frente, certo? 😉
Neste post, iremos compilar algumas informações sobre o assunto e o mais importante: o que era esperado do aluno na redação Enem 2020, ou seja, quais são as expectativas da banca de correção em relação aos argumentos, aos repertórios e às informações a serem apresentadas. Confira:
Como abordar o tema?
Para darmos início, vamos analisar o comando do tema. O aluno deve se atentar a cada palavra-chave para não cometer tangenciamento ou mesmo fuga ao tema.
A palavra “Estigma” dá origem ao verbo estigmatizar, sabe o que isso significa? Quando estigmatizamos algo ou alguém, queremos qualificar pejorativamente, ou seja, negativamente. Isso pode ser marcado de várias formas, inclusive por uma condição do indivíduo, como ter Depressão, Transtorno de Ansiedade, Síndrome do Pânico, dentre outros. O estigma está muito ligado ao preconceito sobre algo.
Inclusive, essas são algumas das doenças mentais muito comuns, principalmente na sociedade contemporânea.
A Organização Pan-Americana da Saúde descreve as seguintes informações sobre Saúde Mental:
- Existem diversos transtornos mentais, com apresentações diferentes. Eles geralmente são caracterizados por uma combinação de pensamentos, percepções, emoções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com outras pessoas.
- Dentre os transtornos mentais estão a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo.
- Existem estratégias eficazes para a prevenção de transtornos mentais como a depressão. Há tratamentos eficazes para os transtornos mentais e maneiras de aliviar o sofrimento causado por eles.
- O acesso aos cuidados de saúde e aos serviços sociais capazes de proporcionar tratamento e apoio social é fundamental.
- A carga dos transtornos mentais continua crescendo, com impactos significativos sobre a saúde e as principais consequências sociais, de direitos humanos e econômicas em todos os países do mundo.
E o que podemos dizer sobre a sociedade brasileira relacionada ao tema?
Veja alguns dados abaixo que justificam esse contexto como foco da discussão:
- O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo (9,3% da população), e 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
- De acordo também com a OMS, a cada 45 minutos, uma pessoa comete suicídio no Brasil, e, em 90% das vezes, esse caso está associado a algum distúrbio mental.
- 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão, conforme levantamento feito pela Vittude, plataforma on-line voltada para a saúde mental.
Percebe como nosso olhar atento sobre a necessidade de “quebra” deste estigma relacionado às doenças mentais é fundamental?
Qual repertório sociocultural usar?
Veja, abaixo, alguns repertórios socioculturais que podem ser citados na redação Enem 2020.
- Livro “Holocausto brasileiro”, de Daniela Arbex: relata a história do Hospital Colônia de Barbacena, conhecido pela superlotação e pelos maus-tratos aos pacientes. Pessoas de todo o Brasil eram recolhidas e levadas à instituição.
- Conto “O alienista”, de Machado de Assis: narra a história de Simão Bacamarte, um médico que, à menor suspeita de traços que fogem à “normalidade”, interna os moradores da vila de Itaguaí no manicômio Casa Verde.
- Filme “Coringa”, dirigido por Todd Philips: aborda a questão da saúde mental do personagem Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix, as negligências sofridas nos serviços de tratamento para transtornos psicológicos e o preconceito da sociedade em relação aos doentes mentais.
- Filme “Nise: O coração da loucura”, dirigido por Roberto Berliner e estrelado por Glória Pires: conta a história da psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999), que renovou o tratamento oferecido às pessoas com problemas mentais e, em especial, àquelas com esquizofrenia.
- Movimento da Luta Antimanicomial: ocorreu em São Paulo, em 1987, e promoveu a retirada dos pacientes com doenças mentais dos hospitais. O movimento denunciava os abusos e a violação de direitos humanos sofridos pelos pacientes nos manicômios, os quais passavam por medidas agressivas mascaradas de tratamento.
Quais argumentos usar?
Possíveis argumentos para a redação Enem 2020:
- Muitas pessoas encaram doenças psiquiátricas como sinal de fraqueza, frescura e até mesmo loucura, devido ao fato de as doenças mentais não serem vistas como parte da saúde física, já que não são palpáveis. Muitas pessoas não acreditam que seus parentes mais próximos possam estar com problemas clínicos sérios, o que ocorre em parte porque, muitas vezes, a saúde mental não é vista como parte da saúde física. “O cérebro está no comando, mas ele não é valorizado como deveria. Quando ele não está bem, nada mais vai estar”, conta a psicóloga Tatiane Paula Souza. Para Tatiane, as doenças psiquiátricas não são levadas a sério porque não são visíveis, como um osso quebrado ou uma enfermidade de pele, por exemplo. “Quando se tem depressão, pacientes são tachados de preguiçosos e pessimistas, e o medo de um rótulo faz com que muitos não procurem tratamento. Só passamos a acreditar que algo realmente está errado quando o pior acontece.” (Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/falta-de-informacao-ajuda-a-estigmatizar-transtornos-mentais/)
- A criação de um padrão de felicidade inalcançável, em que demonstrações de tristeza são vistas como frescura ou falta de esforço. A criação desse ideal traça um padrão de comportamento social uniformizante. Nele, todos devem ser felizes, trabalhar e esconder sentimentos antagônicos: como tristeza, angústia e ansiedade. Logo, a tentativa de se encaixar nesse modelo cria distância dos sentimentos reais, e quem os demonstra é rotulado, o que progressivamente dificulta a interação social. As redes sociais têm papel importante na perpetuação desse estilo de vida, pois nelas há excessivas demonstrações de felicidade e perfeição. (Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/falta-de-informacao-ajuda-a-estigmatizar-transtornos-mentais/)
- Muitos acreditam que indivíduos com transtornos mentais tendem a ser violentos e agressivos. A associação entre doença psiquiátrica grave e violência ocorre tanto no que diz respeito à perpetração de violência quanto em relação à vitimização violenta. Ambas são mais comuns entre portadores de transtornos psiquiátricos graves quando comparados à população em geral, mas, na realidade, esses indivíduos são mais frequentemente vítimas da violência. Trata-se de grupo dos mais vulneráveis aos crimes violentos. Por exemplo, os pacientes com doenças mentais graves têm 12 vezes mais chance de sofrerem um crime violento do que a população geral. Em relação à violência sexual, incluindo estupro, a frequência é 17 vezes maior quando relacionada a esse grupo. Além disso, esses indivíduos têm 140 vezes mais chance de serem furtados do que a população geral. A vitimização entre os pacientes com transtorno mental grave é problema de saúde pública e deve ser alvo de pesquisas e políticas públicas específicas. (Fonte: http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1876)
O que colocar na proposta de intervenção?
Algumas propostas de intervenção possíveis:
- O melhor método de combate ao preconceito contra transtornos mentais é a informação. A falta de conhecimento sobre distúrbios psíquicos reforça a ignorância e aumenta o estigma relacionado ao tema. Há um papel fundamental das instituições educacionais, em parceria com as famílias, para que haja a propagação de informações sobre o assunto.
- As famílias, quando orientadas, por exemplo, por médicos, psicólogos e especialistas, têm papel fundamental no processo de acolhimento e no incentivo à busca de ajuda psicológica e/ou psiquiátrica do doente mental.
- O Ministério da Saúde deve promover palestras para expor a sociedade de maneira geral à importância de se discutir sobre o assunto, tornando o tema natural e livre de preconceitos.
- Deve haver intervenções e acessibilidade aos serviços de saúde mental, com a promoção de mais comunicação com pacientes e familiares, investimento em cuidados ambulatoriais e preventivos, serviços localizados nas comunidades e envolvimento de pacientes e familiares na avaliação desses serviços prestados, de modo a aprimorá-lo sempre e se necessário.
- Apoio governamental para pacientes e familiares, por meio de programas de treinamento para lidar com o estigma. Deve haver empoderamento e mais informação sobre as doenças mentais e suas formas de tratamento, para que sejam dadas oportunidade de emprego a todos, de acordo com as suas particularidades.
Então é isso! Esperamos que você tenha se saído bem na redação Enem 2020! Aproveite para conferir o nosso gabarito extraoficial e descobrir quais questões você acertou. ♥ Até a próxima!
Coautoras: Bruna Rodrigues, Daiane Silva, Natália Morais e Victoria Souza.