A série Ruptura (originalmente, Severance), lançada pela Apple TV+ em 2022, ganhou destaque desde o seu lançamento, seja pela produção impecável, seja pelas performances de seus atores.
Depois da sua estreia, a produção chegou a receber 14 indicações ao Emmy, incluindo a de Melhor Série de Drama. Atualmente, ela está na segunda temporada, e já foi renovada para a terceira.
Devido aos importantes temas debatidos ao longo dos episódios, Ruptura também se tornou um exemplo nas discussões sobre a separação de nossa vida pessoal e de nossa vida profissional.
Pensando nisso, a equipe da Imaginie preparou um conteúdo completo para te ajudar a entender sobre o que trata a série e como esses temas podem aparecer nas redações de vestibular. Continue lendo e confira!
Qual é a história da série Ruptura?
Você já imaginou chegar do trabalho ou da escola e não se lembrar de absolutamente nada do que aconteceu ali? Da mesma forma, já pensou em como seria chegar nesses ambientes sem nenhuma memória da sua vida pessoal? Na série, essa é a principal premissa do método chamado “ruptura”.
O enredo gira em torno de uma empresa chamada Lumon Industries, que implementa esse procedimento em seus funcionários: suas memórias são divididas entre vida profissional e pessoal. Isso significa que, quando estão no trabalho, não lembram de nada da vida fora dali – e vice-versa.
Ao longo da série, acompanhamos Mark, um dos empregados da Lumon que passou pela ruptura, e que agora, vive as consequências emocionais e existenciais desse procedimento. Em cada episódio, porém, as motivações da Lumon passam a ser questionadas, indicando uma grande conspiração por trás do misterioso escritório.
Principais temas debatidos
Embora seja considerada um thriller psicológico, e apesar do tom de ficção científica, Ruptura debate temas cada vez mais comuns no nosso dia a dia. Por exemplo:
1. A relação entre trabalho e vida pessoal
Na série, para os idealizadores da ruptura, ela é uma forma de aumentar a eficácia tanto da sua vida pessoal, quanto profissional. Afinal, você não “perderia” tempo de trabalho pensando em problemas pessoais, da mesma forma que não “perderia” tempo de lazer focado em demandas corporativas. No entanto, na prática, essa dinâmica não é assim tão simples.
Isso porque a decisão de deixar a vida pessoal de lado pode ser entendida como uma outra forma de aprisionamento. Ao ser dividido em duas versões de si mesmo, torna-se impossível se entender como um todo – afinal, quem é, de fato, responsável pelas suas decisões? Como você pode ter autonomia se não se lembra de metade do seu dia?
Mais que isso, a empresa passa a ter total controle da sua versão profissional. Ora, como você vai reclamar dos absurdos que pode precisar executar, se não se lembra da sua vida pessoal? Como sabe se aquelas condições são mesmo ruins?
Nesse sentido, surge a dúvida: será que a nossa vida pessoal é mesmo dispensável quando estamos trabalhando? Será que vale a pena estar tão entregue ao trabalho a ponto da nossa identidade desaparecer?
2. O que constitui uma identidade
Outro questionamento importante: se uma versão de você decide se submeter à ruptura, mas outra versão de você (a que vive no trabalho) não pode sair dali, você ainda tem autonomia? E como você sabe quem é de fato, se suas memórias estão constantemente sendo apagadas? Será que o que você lembra é o que de fato aconteceu?
De forma similar: se a sua versão profissional comete um crime, a sua versão pessoal deve ser responsabilizada? E se for ao contrário? Nesse cenário, como determinar a culpa de alguém?
Abordando até mesmo a esfera do amor: e se a sua versão de dentro da empresa se apaixona por um colega de trabalho, mesmo se já estiver comprometida com alguém no “mundo real”? E como ter pensamentos éticos ou construir uma civilização justa, se não conseguimos nos lembrar de nada?
A noção de “eu” é debatida por filósofos há milhares de anos. Em Ruptura, esse debate ganha uma nova roupagem – mais moderna, mas também muito profunda.
Afinal, o que nos faz ser quem nós somos? É a nossa sociedade? O ambiente em que estamos inseridos? A nossa criação? Ou é algo mais profundo, anterior a todas essas coisas? E em um cenário em que sofremos uma divisão, podemos passar a ser duas pessoas diferentes? Esses e outros debates surgem em diversos momentos da produção.
Por que Ruptura é uma série importante?
A grande sacada de Ruptura não está apenas na estética minimalista da série, que amplia a sensação de alienação do espectador, mas no modo como ela coloca em xeque o debate sobre a divisão entre a vida pessoal e a vida profissional.
Hoje em dia, discussões sobre a precarização do trabalho vêm ganhando tração. De um lado, temos empresas e negócios focados no crescimento exponencial e na maximização de lucros; do outro, temos trabalhadores com cada vez menos direitos garantidos, tendo que trabalhar por muitas horas consecutivas, às vezes em mais de um emprego, praticamente apenas para pagar as contas.
Nesse cenário, Ruptura se propõe a debater o impacto das empresas nas nossas vidas e os limites que elas estão dispostas a alcançar (e ultrapassar) para manter seus empregados controlados e produzindo. Assim, é um excelente ponto de partida para repensarmos as relações profissionais que estabelecemos – ou somos forçados a estabelecer – no mundo atual.
Como citar a série na redação?
Lembre-se: citar produções audiovisuais na redação é uma excelente maneira de mostrar o seu repertório sociocultural. E, com a série Ruptura, não seria diferente. Afinal, ela trabalha uma série de assuntos relevantes para os vestibulares – e para a vida cotidiana em geral.
Essa também é uma forma eficaz de demonstrar a sua capacidade de relacionar eventos e debates do dia a dia com produções de ficção, uma das cinco competências avaliadas na redação do Enem, por exemplo.
Mais do que citar a série na sua redação, porém, é preciso que você:
- Entenda sobre o que ela trata: Para falar de Ruptura, você deve compreender com mais profundidade os temas debatidos pela série. Como eles podem ser abordados? E como você pode citá-los de forma que o seu leitor, que nunca viu a série, entenda essa relação?
- Conheça mais dados sobre o assunto: Os dados na redação são fundamentais para reforçar um argumento e justificar a tese defendida. Ao citar uma série, eles também ajudam na contextualização do debate que você quer propor.
- Ler sobre a série: Após a sua estreia, diversos portais e personalidades divulgaram notícias, ensaios e opiniões sobre Ruptura. Lê-los é uma ótima forma de expandir a sua interpretação e os seus pontos de vista.
O panorama no Brasil
De acordo com uma pesquisa da Capterra, plataforma de comparação de softwares, 55% dos funcionários brasileiros entrevistados revelaram que são monitorados pelos seus empregadores.
Além disso, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos empregados brasileiros enfrentam a síndrome de burnout, um transtorno relacionado ao trabalho oficialmente reconhecido e categorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022.
Em 2023, o Brasil ocupava a segunda posição entre os países com maior número de diagnósticos da condição.
Outro debate importante sobre o trabalho no Brasil coloca em pauta a escala 6×1, na qual o trabalhador tem um dia de descanso na semana. No início de novembro de 2024, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) começou a recolher assinaturas de parlamentares para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pelo fim da escala 6×1, e adoção da escala 4×3.
Atualmente, o assunto é discutido pela CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Congresso Nacional.
Temas de redação relacionados à série Ruptura
Para você ter uma ideia, estes são alguns dos temas de redação que já foram cobrados em vestibulares, nos quais a série Ruptura poderia ser mencionada:
- O trabalho na contemporaneidade (UERJ 2017);
- O limite entre o público e o privado na sociedade contemporânea (PUC-RJ, 2012);
- Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet (Enem 2018).
Por outro lado, você também pode desenvolver textos sobre os seguintes temas de redação:
- Os limites éticos do controle corporativo sobre o indivíduo;
- A desumanização do trabalhador na sociedade contemporânea;
- A fragmentação da identidade no mundo moderno;
- O papel da memória na construção da subjetividade;
- Tecnologia e liberdade: até que ponto a inovação justifica o controle?
- A crise da autonomia individual frente à lógica produtivista;
- Consentimento e ética em ambientes de trabalho extremo;
- A alienação como ferramenta de dominação.
Praticar é a melhor forma de alcançar a tão sonhada nota mil na redação. Por isso, tente fazer pelo menos duas redações por semana – e lembre-se de contar com a equipe da Imaginie para corrigi-las!
Aqui, você tem acesso a monitorias ilimitadas para tirar dúvidas, além de correções em até 24 horas. Assim, consegue entender direitinho quais são os pontos fortes e os pontos a melhorar do seu texto. Quer saber mais? Conheça os nossos planos e confira!
Foto do post: Divulgação/Apple TV+