O uso ou não da crase é uma das principais dúvidas de estudantes que precisam aprender a gramática normativa da língua portuguesa. E, de fato, são muitas as diferentes situações em que ela é obrigatória ou facultativa — mas a prática te ajuda a dominar todos eles.
Neste artigo, nós te mostramos todos os casos em que a crase deve ser usada, quando ela é opcional e quando ela não pode aparecer no seu texto. Além disso, te ensinamos alguns truques para te ajudar a testar se deve ou não usar esse acento gráfico. Quer saber mais? Continue lendo!
O que é a crase?
A crase é a contração (ou seja, a junção) da preposição “a” com o artigo definido feminino, os pronomes relativos ou os pronomes demonstrativos, indicada pelo acento grave: à.
Em geral, a crase é utilizada antes de palavras femininas. No entanto, existem algumas exceções e casos em que seu uso é facultativo.
Quando devo usar a crase?
De acordo com a gramática normativa da língua portuguesa, há 7 casos em que o uso da crase é obrigatório. Confira, a seguir, cada um deles:
1. Antes de locuções prepositivas, conjuntivas e adverbiais femininas
Sempre que houver uma locução feminina que começa com “a”, usa-se a crase.
- A locução prepositiva expressa a mesma ideia de uma preposição, ou seja, causa, modo, proporcionalidade etc. Por exemplo: Ela partiu à procura de respostas.
- A locução conjuntiva é a responsável por ligar orações. Por exemplo: O trânsito piora à medida que a cidade cresce.
- A locução adverbial expressa a mesma ideia de um advérbio, ou seja, tempo, lugar, modo etc. Por exemplo: Ela chegou à tarde.
2. Depois de verbos transitivos indiretos
Verbos transitivos indiretos são aqueles que demandam o uso de preposição. Nos casos em que a preposição exigida for “a” e o objeto indireto, uma palavra no feminino, usa-se a crase. Veja:
- Ele obedeceu à professora.
- Assistimos à peça.
- Referiu-se à viagem com entusiasmo.
3. Antes de nomes de lugares femininos
Se o nome de um lugar exige o uso do artigo feminino, deve-se usar crase. Por exemplo:
- Vou à Itália nos próximos meses.
- Cheguei à Bahia.
4. Com a palavra “à moda”
A expressão “à moda” equivale “à maneira”. É muito comum sobretudo em cardápios, mas o uso da crase é obrigatório mesmo quando ela está implícita. Veja:
- Bife à moda da casa.
- Bife à parmegiana.
5. Ao indicar horas exatas
Sempre que o tempo estiver determinado e for exato, o uso da crase é obrigatório. Assim:
- Podemos nos encontrar às 20h?
- A reunião começa às duas horas da tarde.
Em frases como “Chegarei daqui a duas horas”, porém, o uso da crase não acontece, uma vez que se trata de um tempo futuro, indeterminado.
6. Com o pronome demonstrativo
A contração da preposição “a” com os pronomes demonstrativos “aquela” e “aquelas”, por exemplo, também obriga ao uso da crase. Por exemplo:
- Refiro-me àquela reunião de mais cedo.
- Entreguei o presente àquela mulher de azul.
7. Com a palavra “distância”, quando determinada
Ao usarmos a palavra “distância” e caracterizarmos essa distância (seja a partir de uma medida, seja a partir de um adjetivo), devemos usar a crase. Assim:
- Ela ficou à distância de dois metros.
- O prédio está à distância segura.
Quando o uso da crase é facultativo?
Há casos na língua portuguesa em que o uso da crase é recomendado, mas não é obrigatório. Nessas situações, optar pela grafia com crase é sempre o mais indicado — sobretudo se você está estudando para concursos.
Além disso, questões de português que fazem referência a esses casos não são raras, e costumam funcionar como “pegadinhas” para os candidatos.
Observe, a seguir, quais casos são esses.
1. Antes de pronomes possessivos femininos no singular
Quando o pronome possessivo feminino aparece sem determinante, o uso da crase é opcional.
- Entreguei a carta à minha mãe.
- Entreguei a carta a minha mãe.
Mas atenção: se houver ambiguidade, é preferível usar a crase para dar clareza.
2. Antes de nomes próprios femininos
O uso da crase antes de nomes próprios femininos também é opcional, uma vez que podemos ou não considerar a existência do artigo “a” antes do nome.
- Entreguei o presente a Ana.
- Entreguei o presente à Ana.
Mas lembre-se: em contextos mais formais ou acadêmicos, é preferível usar a crase, para evitar ambiguidade.
3. Depois da preposição “até”
Como você provavelmente se lembra, “até” também é uma preposição. Por isso, o uso da crase não é obrigatório, uma vez que teríamos a preposição “até” ao lado do artigo “a”.
- Fui até a escola.
- Fui até à escola.
Quando nunca usar a crase?
Além de conhecer os casos em que a crase é obrigatória e facultativa, também é fundamental ter em mente os casos em que o seu uso é proibido. São eles:
1. Antes de uma palavra masculina
Se a crase é o resultado da contração da preposição “a” com o artigo “a”, ela não pode acontecer antes de uma palavra no masculino — que exige o artigo “o”. Nesses casos, têm-se a contração “ao”.
2. Antes de verbos no infinitivo
Verbos são uma classe gramatical que não deve ser acompanhada por artigos definidos. Por isso, a crase não pode acontecer.
3. Antes de pronomes sem artigo
Pronomes pessoais, de tratamento, indefinidos e demonstrativos geralmente não admitem artigo definido antes deles. Assim, nada de usar a crase nesses casos.
- Entregou o presente a ela.
- Falou a nossa mãe com carinho.
- Referiu-se a qualquer situação.
4. Antes de palavras repetidas
Em expressões como “dia a dia”, “passo a passo”, não usamos crase porque não há artigo definido entre os termos repetidos.
- Trabalhava passo a passo.
- Aquilo não fazia parte do seu dia a dia.
5. Antes do artigo indefinido “uma”
Se a palavra for precedida por “uma”, não cabe artigo definido antes, e portanto não ocorre crase. Assim:
- Referiu-se a uma situação complicada.
6. Entre palavras no plural, se o “a” está no singular
Quando o “a” não concorda com o plural da palavra seguinte, ele não faz o papel de artigo. Logo, não há crase.
- Entregou flores a mulheres (sem crase)
Conheça 2 dicas para saber se a crase é necessária
O uso da crase se torna mais intuitivo e fácil conforme praticamos a escrita e aumentamos a nossa leitura. No entanto, até chegarmos ao ponto de memorizar de verdade quando ela é necessária, podemos seguir algumas dicas gerais. Olha só:
Substitua a palavra por um sinônimo no masculino
Um dos principais “truques” para decidir se o uso da crase deve acontecer é substituir a palavra que a procede por uma equivalente, mas no masculino. Se a preposição ainda for usada e a contração “ao” acontecer, então deve-se usar a crase. Assim:
- Obedeceu ao professor → Obedeceu à professora.
Vou a, volto da: crase há
Esta é uma frase para te ajudar a memorizar o uso da crase antes de lugares. Ela significa que quando você vai a algum lugar e volta “da” algum lugar, a crase deve ser usada. Observe:
- Vou à Bahia: tem crase, pois volta-se “da” Bahia.
- Vou a Salvador: não tem crase, pois volta-se “de” Salvador.
- Vou à padaria: tem crase, pois volta-se “da” padaria.
- Vou a Paris: não tem crase, pois volta-se “de” Paris.
E assim sucessivamente, exceto nos casos em que o nome do lugar está caracterizado por um adjetivo. Olha só:
- Vou à ensolarada Salvador: tem crase, já que “Salvador” vem acompanhada de um adjetivo no feminino.
- Vou à Roma antiga: tem crase, já que “Roma” vem acompanhada de um adjetivo no feminino.
E aí, gostou de aprender quando usar ou não a crase? Agora, aproveite para aprender também o uso correto dos porquês!