O conceito de “menoridade”, introduzido pelo filósofo Immanuel Kant, é uma ferramenta poderosa para entender como evoluímos em relação ao uso da nossa própria razão e capacidade de decisão. Essa temática já apareceu no vestibular e foi usada como tema de redação da prova da FUVEST em 2017.
O que é menoridade?
Immanuel Kant, em seu ensaio “Resposta à Pergunta: O Que é Esclarecimento?”, define “menoridade” como a incapacidade de usar a própria razão sem a orientação de outros. Para Kant, a maioridade é o estado em que um indivíduo é capaz de pensar e decidir de maneira independente, sem depender de autoridades externas. Ele argumenta que sair da menoridade é um processo que envolve o uso da razão e a rejeição de doutrinas e tradições que limitam o pensamento crítico.
Consequências da menoridade
Agora que você já sabe o conceito de menoridade, podemos pensar nas consequências significativas para o indivíduo e para a sociedade. Vamos lá?
Falta de autonomia
Indivíduos em estado de menoridade tendem a depender de autoridades externas (como líderes, especialistas ou instituições) para formar suas opiniões e tomar decisões. Isso pode limitar a capacidade de pensar criticamente e agir de forma independente.
Pouca iniciativa
A falta de confiança na própria capacidade de raciocínio pode reduzir a iniciativa pessoal e a disposição para enfrentar desafios de maneira autônoma.
Dificuldade em tomar decisões
A falta de autonomia pode gerar incerteza na tomada de decisões, levando os indivíduos a buscar constantemente a confirmação e orientação de outros em vez de confiar em seu próprio julgamento. Essa dependência pode aumentar a vulnerabilidade a manipulações de influências externas, pois os indivíduos ficam mais suscetíveis a ser direcionados por fontes externas, em vez de desenvolverem uma capacidade crítica e independente.
Como superar a menoridade?
Para superar a menoridade é crucial desenvolver o pensamento crítico. Isso envolve questionar e analisar informações em vez de aceitá-las passivamente. Ao se deparar com novos dados ou opiniões, pergunte-se sobre as evidências, a lógica subjacente e possíveis vieses. A educação deve ir além da simples transmissão de conhecimento, focando também em ensinar habilidades de análise crítica e raciocínio independente.
Citações para usar nessa temática
Confira algumas citações que podem se encaixar na temática da menoridade:
Michel Foucault – “Vigiar e Punir” (1975)
“O poder não é algo que se possui, mas algo que se exerce através das práticas sociais e institucionais. As estruturas que moldam a nossa vida cotidiana também moldam nossa capacidade de agir de maneira autônoma.”
Jean-Jacques Rousseau – “Emílio ou Da Educação” (1762)
“O homem nasce livre, e em toda parte encontra-se acorrentado.”
Georg Wilhelm Friedrich Hegel – “Fenomenologia do Espírito” (1807)
“A liberdade é o saber da razão em si mesma e a atividade que sabe o que faz e por que o faz. O desenvolvimento da liberdade é um processo de superação das limitações impostas pela menoridade.”
Como é a redação da Fuvest?
Na prova da Fuvest, o gênero textual exigido é o dissertativo-argumentativo. Para se sair bem, é fundamental estruturar o texto com uma introdução clara, um desenvolvimento bem fundamentado e uma conclusão coerente.
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O candidato deve demonstrar habilidade em argumentar, apresentando e sustentando suas ideias com exemplos e justificativas que corroboram a tese proposta. A prova avalia a capacidade de construir um raciocínio lógico e coerente, além de exigir uma escrita correta e bem organizada.
Exemplo de redação sobre o tema
Confira um exemplo de redação sobre o tema “O homem saiu de sua menoridade?”
Entretidos por fantoches: a perda da soberania humana
A menoridade é a impossibilidade do entendimento autônomo. [1] Ou seja, ela ocorre quando existe um intermediário na formação da opinião. Segundo o filósofo Rousseau, o maior bem humano é a liberdade e a autossuficiência. Porém, [2] o homem atual ainda não atingiu tais ideais nem saiu da menoridade, pois ele orienta-se pela opinião do outro [3], é submetido [4] à conclusões prontas e também é cômodo devido à facilidade de seguir o que já está determinado. [5]
Em primeiro lugar, o homem não foi emancipado porque ele se orienta pela opinião do outro. [6] De acordo com o sociólogo Max Weber, o ser humano toma suas atitudes e afirma seu pensamento determinando o próximo como parâmetro. Ou seja, os indivíduos não formam suas posições sozinhos. Nesse sentido, seguir cegamente os padrões de beleza e comportamento que a sociedade impõe é um grande exemplo.
Da mesma maneira, a maioridade ainda não foi atingida, pois as pessoas são submetidas à ação da ideologia e comunicação de massa, que espraiam conclusões prontas. A televisão, a internet e até mesmo o rádio são meios influenciadores do entretenimento humano. Eles não só espalham informações, como também internalizam nos indivíduos verdades pré-determinadas. Assim, os cidadãos são dependentes e incapazes de formar o juízo próprio.
Além disso, a comodidade é um obstáculo para a saída de menoridade. [7] Platão estava certo quando disse que que a maioria da humanidade é entretida por fantoches. Esta é uma alegoria que ele utilizou para explicar o conforto daquele que guia-se pelo entendimento alheio. Em outras palavras, é fácil aceitar o controle e a menoridade. Difícil é abstrair e formar posições individualmente. Assim, os sujeitos vivem de intermediários e não conquistam sua liberdade.
Portanto, seja por guiar-se exclusivamente pela opinião do outro, seja por submeter-se [8] à conclusões prontas [9] ou seja pela comodidade, o homem não saiu da menoridade. Logo, os indivíduos perderam a soberania humana, uma vez que são incapazes de pensar de forma crítica e independente. [10][11]
Correção gramatical e adequação vocabular
[1] Sugestão: retirar o ponto final e colocar a expressão explicativa “ou seja” entre vírgulas.
[3] Sugestão: Usar um conector de conclusão entre os períodos: …orienta-se pela opinião do outro e, por isso, fica submetido às conclusões prontas…
[4] Inadequação do uso da crase: ou se usa “submetido à condição” ou “submetido às condições”.
[8] Inadequação do uso da crase: ou se usa “submeter-se a condições” ou “submeter-se às condições”.
[9] Pontuação. A expressão explicativa “ou seja” deve estar entre vírgulas.
Coerência dos argumentos e articulação das partes do texto
[2] Compreendeu a proposta: o que penso sobre: “O homem atual ainda não atingiu tais ideais”. Boa apresentação de tese.
[6] As ideias do sociólogo Max Weber possuem relação com a tese apresentada pelo autor na introdução: “O homem atual ainda não atingiu tais ideais”. Justificativa: a opinião ainda é orientada pelas ideias prontas de outras pessoas.
[7] Boa referência.
[10] O autor sintetiza de maneira breve todos os pontos principais apresentados ao longo do texto.
Desenvolvimento do tema e organização do texto
[5] Boa introdução.
[11] O autor apresenta boa articulação e organização textual.
Nota: 47/50