Se você curte ou não as matérias relacionadas à linguagem, sabe que estudá-las é fundamental para mandar bem no Enem e em demais vestibulares.
Inclusive, muitas universidades que ainda possuem vestibular próprio costumam cobrar um vasto conhecimento sobre a literatura brasileira e sobre as escolas literárias que fizeram parte de nossa história.
E é por isso que neste post vamos te contar sobre o Pós-modernismo, um movimento literário superinteressante e rico! Então, bora conferir este conteúdo?
Leia mais: “9 dicas de como estudar literatura para desvendar essa matéria e gabaritar.”
O que é o Pós-modernismo?
Considera-se que a escola literária pós-modernista teve início, aqui no Brasil, em 1950 e vigora até os dias atuais. Ela é marcada pela liberdade artística, espontaneidade e uma mistura de vários outros estilos.
Importante mencionar que o Pós-modernismo é também considerado, por muitos estudiosos e professores, como a terceira fase do movimento modernista.
Seu contexto histórico relaciona-se o fim da Segunda Guerra Mundial, com a ditadura de Vargas, com a ascensão da Ditadura Militar no Brasil, além, é claro, do contexto das mudanças tecnológicas e o advento da internet.
Leia mais: “10 dicas de como estudar história para gabaritar em qualquer prova.”
Quais os gêneros literários que fazem parte do Pós-modernismo?
O pós-modernismo aconteceu logo após o movimento Modernista, como já comentamos, e vigora até os dias atuais.
Esta é uma escola literária muitíssimo abrangente e que aceita os mais diversos tipos literários possíveis. A seguir vamos te contar melhor sobre alguns dos principais gêneros literários que fizeram e ainda fazer parte desse movimento.
Prosa
A prosa pós-modernista foi marcada por três temas bem fortes, são eles:
- A análise psicológica: que consistia em enfatizar os problemas pessoais e interiores das personagens. Sobretudo, os temas relacionados às opressões sociais e desigualdade sociais, assim como a miséria pela qual passava boa parte da população brasileira à época. Os autores que abordaram essa tendência, costumavam utilizar uma linguagem direta, objetiva e forte.
- Realismo mágico: que consistia em apresentar enredos, superficialmente, normais e bem semelhantes à vida real e ao cotidiano das pessoas. Porém, em determinado momento da história algo mágico e surreal acontecia, e o mais incrível, é que as personagens dessas histórias lidavam com lógico e o ilógico, o real e o mágico de modo comum, sem se assombrar com nada.
- Regionalismo: que consistia em enfatizar e da voz àqueles indivíduos que moravam no interior do Brasil e, que, na grande maioria das vezes, possuíam uma realidade de miséria e opressão social. Essa é uma tendência que já estava sendo incluída nas obras brasileiras há algum tempo e que apenas ganhou ainda mais relevância no período pós-modernista.
Um dos autores da prosa pós-modernistas que conseguiu abranger essas três tendências em suas obras foi Guimarães Rosa.
Além de escritor, Guimarães Rosa foi diplomata e chegou a estudar 24 idiomas.
Mineiro, acostumado ao sertão, este foi um autor que soube muitíssimo bem traduzir as mazelas dos sertanejos em seus contos e romances.
Além de apresentar personagens que estavam preocupados com questões interiores e metafísicas, sobre a dicotomia bem e mal e Deus e diabo, Guimarães Rosa também ficou conhecido por seus neologismos — a arte de inventar palavras novas.
Seus livros mais famosos são: Sagarana (livro de contos) e Grande Sertão Veredas. Em Grande Sertão, Guimarães consegue transcrever a fala coloquial dos sertanejos, jagunços e vaqueiros do sertão mineiro. Veja um trecho desta famosa obra brasileira pós-modernista:
De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícil, peixe vivo no moquém: quem mói no asp’ro não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei nesse gosto de especular idéia. O diabo existe e não existe. Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso…
Crônica
A crônica teve um lugar especial no período pós-modernista. Sendo, por muitos e por muito tempo, considerada de menor ou mais baixa valia, ganhou destaque por contar sobre os momentos cotidianos de modo crítico, ácido, humorístico e pitoresco.
Confira a seguir alguns dos principais autores de crônicas pós-modernistas:
- Rubem Braga;
- Fernando Sabino;
- Carlos Drummond de Andrade;
- Clarice Lispector;
- Luis Fernando Verissimo.
Poesia
A poesia pós-modernista também não teve apenas uma forma. Ao mesmo tempo que autores abusavam da liberdade formal no Concretismo poético, alguns outros artistas escreviam suas obras de modo mais rigoroso e disciplinado, outros, porém, produziam a poesia social e até a MPB (Música Popular Brasileira) era considerada uma vertente poética do pós-modernismo.
Veja a seguir alguns autores da Poesia Concretista, da Poesia Social e da MPB.
Poesia Concretista
O Concretismo foi fundado em 1950 por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O objetivo dessa vertente poética era perpetuar a liberdade formal da escrita.
Para os autores concretistas, o mais importante era a forma visual do poema, o que refletia as transformações pelas quais o Brasil e o mundo passavam, em decorrência dos meios de comunicação de massa.
Veja a seguir um poema de Décio Pignatari e sua crítica a uma marca famosa de refrigerante:
COCA-COLA
B E B A C O C A C O L A
B A B E C O L A
B E B A C O C A
B A B E C O L A C A C O
C A C O
C O L A
C L O A C A
Perceba como Décio brinca com a forma, formando novas palavras. Bem legal, né?
Poesia Social
Além da poesia concretista, o pós-modernismo também contou com uma poesia social, onde autores, como Geir Campos, Tiago de Melo, Moacir Félix e Ferreira Gullar estavam mais preocupados em abordar temas e problemas sociais de ordem cotidiana, sobretudo no campo da política e, para isso, utilizavam uma linguagem mais simples e direta.
Veja a seguir um poema de Ferreira Gullar:
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Música popular brasileira
Por fim, mas não menos importante, a Música Popular Brasileira também foi considerada uma vertente poética pós-modernista, e tratava de questões pertinentes à sociedade, abordando, como forma de protesto, a Ditadura Militar pela qual o país passava.
Em decorrência da censura, muitas músicas criticavam a Ditadura de modo velado. Alguns dos cantores que marcaram essa época foram:
- Geraldo Vandré;
- Chico Buarque;
- Caetano Veloso.
Veja a seguir a letra Cálice de Chico Buarque:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Bom, esperamos que você tenha curtido conhecer o Pós-modernismo, essa escola literária tão importante e que vigora até hoje! Aproveite para ler nosso post sobre Simbolismo e dar um check em mais uma escola literária em seu cronograma de estudos!