Se alguém te pedisse para imaginar uma família, como você a imaginaria? Com um pai, uma mãe e dois filhos? Talvez com apenas uma mãe, um filho e um cachorro? Ou com dois pais, nenhum filho, mas um monte de gatos?
A nossa forma de visualizar uma família é muito diversa — e depende, em geral, das nossas próprias configurações familiares. No entanto, ainda vivemos em uma sociedade que tenta pregar que a família deve ser entendida sempre a partir de um mesmo modelo. Será que isso funcionaria?
Neste conteúdo, a gente te ajuda a entender melhor como o conceito de família mudou ao longo dos últimos séculos. Além disso, também apresentamos alguns dados para pensar esse conceito — e uma redação pronta sobre o tema. Confira!
Qual é a melhor definição de família?
Uma família pode ser definida como um grupo de pessoas que se conectam por laços afetivos de diferentes tipos, como cuidado, apoio ou convivência. Por isso, pode incluir vínculos biológicos, legais, emocionais ou mesmo sociais.
Atualmente, uma boa definição de família deve levar em consideração a diversidade das relações e das configurações familiares possíveis. Assim, reflete a pluralidade de experiências que marcam a sociedade contemporânea.
Mais do que uma estrutura biológica ou legal, a melhor definição de família abrange também as relações de afeto, solidariedade e apoio. Ou seja: alarga o conceito de família e permite que diferentes organizações interpessoais sejam reconhecidas sem reduzí-lo a um modelo tradicional.
- Leia também: A supervalorização dos laços sanguíneos leva a sociedade a ignorar problemas familiares? [Redação pronta]
Como o conceito de família mudou?
O conceito de família como conhecemos hoje é um resultado direto do crescimento da religião cristã durante a Idade Média. Ou seja: a família nuclear (com um pai, uma mãe e filhos) se configurou como modelo ideal por se adequar melhor a preceitos e crenças religiosas da época.
Antes desse período, no entanto, o conceito de família era muito diferente. Por exemplo:
- Nas sociedades pré-históricas e nas primeiras civilizações, a família era associada à sobrevivência e à reprodução. Uma família era, portanto, um grupo que se protegia. Nesse sentido, podia ser conectado de forma biológica ou por afinidade.
- Na Antiguidade Clássica, a família era uma unidade social organizada em torno de um chefe central. Ou seja: estava profundamente ligada à ideia de propriedade, herança e status social. Por isso, podia incluir desde filhos e esposa até outros parentes e mesmo escravos.
Com o crescimento da religião cristã e, mais tarde, a divisão do trabalho e a divisão da economia, a necessidade de uma família nuclear se estabeleceu. Afinal, através dele era mais fácil separar o espaço público e privado, além de “controlar” as grandes massas sociais — consolidando a ideia de “nós” (a família) versus “eles” (os outros).
A família no século XXI
A partir do século XX, o mundo moderno e contemporâneo atravessou uma série de transformações sociais. O surgimento dos direitos das mulheres, a partir das ações de movimentos feministas, a expansão da educação e da autonomia e as mudanças nas relações de gênero e sexualidade passaram a desafiar o conceito de família com o qual estávamos habituados.
Essas novas visões de mundo e identidades ocasionaram um aumento na diversidade familiar, fazendo com que novas configurações tomassem forma. Por exemplo:
- Famílias monoparentais: Com a popularização do divórcio e o recorrente abandono parental, famílias formadas por apenas um indivíduo (e seus filhos) se tornaram mais comuns.
- Famílias homoafetivas: O fim da proibição do casamento homoafetivo e a permissão para que casais homoafetivos também adotassem crianças contribuiu para a expansão das famílias formadas por pessoas LGBTQIAP+.
Mas é possível ir além: atualmente, nossa sociedade entende o conceito de “família” como algo mais flexível. O termo “família escolhida”, por exemplo, se popularizou na nossa cultura para fazer referência a pessoas que constroem novas famílias — com amigos, por exemplo — quando não têm uma boa relação com seus laços nucleares.
Alguns dados para pensar o conceito de família
Quando falamos sobre a expansão do conceito de família a partir de mudanças sociais, precisamos levar em consideração as famílias formadas:
- graças a alterações legislativas (como as famílias homoafetivas); ou
- como consequência de outros problemas sociais (como as monoparentais).
Por isso, ter em mente alguns dados pode ser importante. Olha só:
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, observou que, no Brasil, 11 milhões de mulheres criam seus filhos sozinhas. Outro estudo, da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN) mostrou que mais de 170 mil crianças foram abandonadas pelo genitor em 2023.
Já o Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH) apontou que o Brasil registrou mais de 59 mil casamentos entre pessoas do mesmo sexo entre os anos de 2013 (quando foi legalizado) e 2021. Isso representa um aumento de 149% nos últimos 9 anos.
Também é interessante observar que, das 21.292 crianças e adolescentes adotados no Brasil desde 2019, apenas 1.353 foram concluídas por casais homoafetivos, de acordo com dados da Agência Brasil. O número, embora ainda seja baixo, vem crescendo anualmente — mas esses casais ainda relatam preconceitos durante todo o processo.
Exemplo de redação sobre o tema
Há muito tempo as famílias são consideradas aquelas que envolvem a união de um homem e uma mulher que geram filhos e, portanto, esse tornou-se o padrão considerado normal e socialmente aceito. Contudo, não é sempre que o amor acontece somente entre pessoas de sexo oposto, ou até por duas pessoas e, da mesma forma, como indivíduos detentores de direitos, querem formar suas família e serem aceitos por suas diferenças.
Claramente, as organizações familiares tem mudado drasticamente nos últimos séculos e tem causado impacto aos considerados tradicionais e conservadores, mas elas não deixaram de existir anteriormente e não se extinguirão agora, em um momento em que o amor, a felicidade e o bem estar de cada um é considerado o elemento mais importante, superando as barreiras dos julgamentos e rejeição.
Na Câmara dos Deputados, houve uma comissão especial referente a um projeto do Estatuto da Família. Nele, seria considerado como família apenas os núcleos formados pela união de um homem e uma mulher, ou seja, reforçando a exclusão das novas estruturas que tem surgido e crescido no país, visto que apenas 48,9% das famílias possuem a união tradicional, enquanto a maioria se encaixa em padrões diferentes.
Desse modo, revela-se o preconceito e a desinformação do povo, além de extensa intolerância ao direito de liberdade do indivíduo, não apenas frente aos homoafetivos, mas também às mães e pais solteiros, aos divorciados, aos poliamorosos e às organizações mosaico. Na verdade, esses núcleos demonstram muito mais a conciliação e podem provar que, mesmo fora dos padrões, são capazes de provar o valor do amor e do respeito ao próximo.
Não obstante, de acordo com a psicanalista e pedagoga Cristina Silva, as crianças conseguem rapidamente aceitar as composições familiares diferentes das dela, e compreende que o fato mais relevante é o amor envolvido no núcleo, já que as dificuldades enfrentadas pelas crianças de diferentes famílias são parecidas.
Diante do conteúdo exposto, é possível compreender que as novas instituições familiares não são menos válidas do que as tradicionais e que deve-se levar às pessoas mais informação para que se tornem mais tolerantes. Para isso, são essenciais campanhas com incentivo governamental, acompanhadas de pesquisas que envolvem as novas famílias e comprovem sua eficiência e validez, serem veiculadas nos meios de comunicação, para que, desde as crianças até os idosos, entendam o valor do amor, não importa em qual família seja.
Comentários do corretor
Outra redação de sucesso aqui na Imaginie!
É muito importante que o aluno que vai fazer o Enem esteja ligado em todos os debates que nossa sociedade enfrenta! Um deles é a questão da união homoafetiva no Brasil.
Na redação acima, vemos um texto simples, mas que tem grande fluidez! Observem que temos nitidamente uma progressão e uma boa retomada no parágrafo final.
- Na competência I, a aluna se saiu muito bem, não cometeu nenhum erro grave.
- Na competência II, foi brilhante. Direto ao assunto, com riqueza de detalhes sem nada que desabone o tipo e o gênero textual. Apesar de ser um texto que trata de um tema emocionante, nosso autor não é parcial e apresenta dados que são relevantes, além de argumentos de autoridade sobre o assunto.
- Na competência III, vemos um texto simples, temos informações importante e bem organizadas e, com certeza, defendem o ponto de vista!
- A coesão, analisada na competência IV, também é destaque nesse texto. É um bom repertório de conectivos, apesar do texto ser leve. É bom quando temos um texto assim! 😉
- A Competência V vai no foco da questão, uma vez que investiga a proposta de intervenção do candidato. O que precisamos fazer? Mudar a sociedade! Então ela dá uma alternativa prática para fazer essa transformação. Talvez, fosse legal fazer um detalhamento da proposta de intervenção. Quem vai pagar por essas campanhas? Como as pessoas terão acesso? Lembre-se: para responder a essas perguntas, você pode contar com o GOMIFES!