Ao longo dos últimos anos, a cultura de influência ganhou um destaque jamais visto: até março de 2025, o Brasil já somava mais de 2 milhões de pessoas trabalhando como influenciadores digitais, de acordo com uma pesquisa da Influency.me — agência dedicada ao mercado digital.
No entanto, outras pesquisas e estudos se debruçam sobre o impacto dessa nova posição social e profissional na vida das pessoas comuns — sobretudo as mais jovens.
Pensando nisso, a equipe do Imaginie elaborou um conteúdo completo para te ajudar a entender como a cultura de influência pode afetar crianças e adolescentes. Além disso, você também aprende a escrever sobre o assunto e ainda confere uma redação pronta sobre o tema. Continue lendo e confira!
Como os jovens usam as redes sociais hoje?
A pesquisa TIC Kids Online Brasil estuda o acesso de crianças e adolescentes à internet, bem como o seu comportamento em diferentes plataformas. Até 2023, 88% das pessoas entre 9 e 17 anos tinham um perfil nas redes sociais, e os aplicativos mais usados eram aqueles focados no compartilhamento de imagens e vídeos (como Instagram, TikTok e YouTube).
Que a internet é uma parte indispensável da vida dos jovens, não é novidade. Mas o acesso irrestrito, sobretudo durante os primeiros anos de vida, pode ocasionar uma série de consequências permanentes no comportamento e na saúde mental. Afinal, é nesse período que os jovens são mais voláteis às influências externas — como os influenciadores digitais.
Os desafios online e o papel dos influenciadores
Durante os últimos anos, não foram poucas as notícias de jovens que colocaram sua saúde e integridade física em risco para participar dos desafios propostos nas redes sociais. E os motivos são muitos, indo desde a pressão social e a mentalidade de “se todos estão fazendo, também vou fazer” até o medo da rejeição entre os colegas e de cyberbullying.
Os perigos, porém, também são diversos. Há alguns anos, o desafio da baleia azul, por exemplo, foi alvo de investigações policiais por contribuir diretamente para o aumento no número de suicídios entre jovens. Mas há casos mais frequentes todos os dias: o “desafio da canela” — que consiste em cheirar o ingrediente rapidamente — causa danos pulmonares e infecções, assim como o “desafio do desodorante”, que levou à morte uma criança de apenas 8 anos.
Mesmo quando as brincadeiras começam com boas intenções, a internet é rápida em transformá-las em algo perigoso. Um exemplo é o “desafio do balde de gelo”, que começou como uma campanha de conscientização da esclerose múltipla, mas evoluiu para uma competição para ver quem aguentava mais tempo com o gelo, apesar do frio.
Nesse cenário, os influenciadores (sobretudo os que têm um público mais jovem) desempenham um papel importante: o de conscientizar de que certas “brincadeiras” podem colocá-los em risco. É fundamental que essas personalidades se questionem se vale mesmo a pena fazer de tudo — e incentivar qualquer coisa — só para “viralizar”.
Quais são os possíveis impactos dos influenciadores nos jovens?
Para além de determinar o comportamento de crianças e adolescentes nas redes sociais, os influenciadores digitais também podem ter um impacto significativo em outras áreas da vida desses jovens, afetando sua saúde mental, sua vida profissional e até contribuindo para abusos sexuais. Entenda, a seguir, como isso acontece.
Saúde mental
O Panorama da Saúde Mental de 2024, estudo realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, ilustrou a relação entre o uso de redes sociais e a saúde mental. De acordo com os dados encontrados, nos jovens entre 15 e 29 anos, as redes são responsáveis por cerca de 45% dos casos de ansiedade.
A dinâmica das redes — com as “curtidas” e os comentários — também impacta negativamente a autoestima, uma vez que torna quantificável a “aprovação externa” que uma pessoa recebe ou não. Assim, quanto menos likes em uma foto, maior o efeito negativo causado.
O uso de efeitos que alteram características faciais e corporais também pode ser um fator que impacta a saúde mental, sobretudo de mulheres, além de reforçar padrões de beleza inalcançáveis. Conforme se tornam mais frequentes, os filtros acabam gerando uma distorção da imagem que contribui para o aumento no número de procedimentos estéticos — o Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza essas intervenções.
Em todos esses cenários, influenciadores podem ser parte do problema ou parte da solução. Por um lado, há quem incentive a magreza absoluta, o desenvolvimento de hábitos pouco saudáveis (como jejuns longos, rotinas muito pesadas de exercício etc.) — tudo isso enquanto passa por procedimentos variados “em segredo”. Por outro lado, porém, há quem lute contra essas regras, usando a internet como ferramenta de empoderamento e defendendo um estilo de vida equilibrado.
O desafio, hoje, é definir qual dessas influências terá mais peso entre os jovens, que já enfrentam outras dificuldades sociais. Daí a necessidade de atenção dos pais e responsáveis, a comunicação ativa sobre o uso das redes e o papel da escola na disseminação de informação sobre esses espaços.
Adultização e abuso infantil
A adultização infantil ganha mais espaço na era dos influenciadores digitais. Os chamados “influencers mirins” cresceram no país e já acumulam milhões de seguidores nas redes sociais como o TikTok e o Instagram — mesmo ainda não tendo idade para se cadastrar, segundo as regras das plataformas.
O resultado são crianças que pensam e se comportam como adultos, vendendo produtos e serviços e, em alguns casos, fazendo inclusive propagandas ilegais. Um exemplo são os casos de crianças divulgando plataformas de apostas enquanto prometem “muito dinheiro”. A prática é proibida por lei.
A falta de regulamentação sobre esses influenciadores e sobre a publicidade infantil também abre espaço para abusos dentro e fora de casa. Nos Estados Unidos, a influenciadora familiar Ruby Franke foi condenada quando um de seus filhos fugiu para pedir ajuda a um vizinho depois de sofrer inúmeros abusos. O documentário Devil in the Family (Diabo na família, em tradução livre) mostra vídeos nunca divulgados em que a mãe forçava os filhos a participar das gravações, fingindo entusiasmo, sob ameaças fisicas e psicológicas.
Da mesma forma, a exposição excessiva de crianças “adultizadas”, em alguns casos fazendo danças provocantes ou usando roupas curtas, também as torna alvos mais fáceis para abusadores online. No Brasil, em 2024, estourou o caso de uma mãe que permitiu que um homem adulto, que dizia ser “fã” de sua filha de apenas 7 anos, conhecesse a menina e dormisse em sua casa — o que ampliou o debate sobre violência infantil.
A história teve repercussão entre outros influenciadores que falam sobre educação e criação de filhos na rede social TikTok, mas não chegou a aparecer na grande mídia. Ela evidencia, no entanto, um comportamento também comum nas redes: o de pais que exploram a aparência de seus filhos para lucrar.
Vida profissional
A crescente valorização da fama digital e a monetização “facilitada” nas redes sociais têm levado muitos influenciadores a propagarem discursos que deslegitimam caminhos profissionais tradicionais, como a universidade ou o trabalho formal. Frases como “faculdade é perda de tempo” ou “você não precisa estudar para ser rico” viralizam e encontram eco em jovens que enfrentam dificuldades econômicas, educacionais ou emocionais.
No entanto, a promessa de um sucesso rápido e independente, baseada em supostos méritos individuais, ignora a realidade da maioria da população, que não possui os recursos ou as oportunidades para “viralizar” ou empreender. Além disso, contribui para o aumento da precarização do trabalho, impulsionando a chamada “pejotização”.
A narrativa de que “qualquer um pode enriquecer com a internet” reforça, ainda, uma falsa meritocracia digital. Afinal, desconsidera que muitos influenciadores de sucesso vêm de contextos privilegiados — com acesso a boa educação, equipamentos, tempo livre e redes de apoio —, o que pode aumentar a sensação de frustração e fracasso nos jovens que não “chegam lá” com a mesma facilidade e aumentar a sua dificuldade para ingressar no mercado de trabalho formal.
É importante pontuar, por fim, que, embora o mercado de influência esteja se tornando uma opção viável de trabalho para muitas pessoas, ele não representa nenhuma segurança verdadeira. Influenciadores precisam se adaptar a constantes mudanças de algoritmo e surgimento de novas redes, sob o risco de perder a “relevância” e, consequentemente, seus contratos de trabalho.
Como falar sobre o assunto na redação?
Para abordar um tema tão complexo quanto o impacto de influenciadores na vida de crianças, adolescentes e jovens adultos, é preciso, em primeiro lugar, ampliar o seu repertório sociocultural. Dessa maneira, você consegue ter mais contexto sobre esse problema multifacetado, além de construir uma opinião mais embasada acerca dessa discussão.
Aqui vão algumas dicas:
- O dilema das redes (2020): Neste filme/documentário da Netflix, especialistas do Vale do Silício falam sobre o impacto das redes sociais na vida das pessoas e até na democracia.
- Má influência: o lado sombrio dos influencers infantis (2020): Neste documentário, adolescentes e pais compartilham suas vivências no mundo dos influenciadores.
- Black Mirror: O episódio “Nosedive”, o primeiro da terceira temporada da série, explora um mundo em que absolutamente tudo é baseado nas notas sociais — e os impactos disso na sociedade.
- Podcast Maternagem, Mídia e Infância O episódio 6 da 2ª temporada é sobre influenciadores digitais mirins e apresenta um debate com especialistas em infância e mídias sobre o mercado de influência.
Outra dica importante é não se esquecer de usar dados na redação para reforçar e embasar os seus argumentos. Afinal, é com base neles que você comprova a tese que escolheu defender, além de mostrar aos corretores que acompanha as atualidades.
Por fim, nossa dica final é praticar muito! Para mandar bem na redação e chegar mais perto da tão sonhada nota mil, você precisa treinar pelo menos duas vezes por semana. Aqui vão algumas sugestões de tema de redação:
- O poder do discurso nas redes sociais (UNESP 2022);
- O papel da mídia na construção da identidade juvenil (adaptado Fuvest);
- A exposição da intimidade de crianças nas redes sociais (adaptado UFU 2017);
- Caminhos para combater os efeitos nocivos das redes sociais na saúde mental dos jovens;
- Os desafios da regulamentação de conteúdo infantil nas plataformas digitais.
Exemplo de redação sobre o tema: O impacto dos influenciadores digitais na formação dos jovens
Agora, para se inspirar, leia uma redação pronta sobre o tema “O impacto dos influenciadores digitais na formação dos jovens”:
A Constituição Federal do Brasil, promete a todos o cidadãos terem o direito ao bem-estar e segurança. Entretanto, isto muda a partir do momento em que as redes midiáticas são utilizadas por influênciadores [2], que muitas vezes persuadem o público negativamente, e vendem, ou fazem publicidades para empresas desonestas. Com base nesses dados, é ingênuo acreditar que o impacto dos influênciadores [3] não vem sendo negligênciado [5] pelo Governo Brasileiro. [1]
No livro Utopia, de Thomas More [6], é retratada a ideia de uma sociedade padronizada, fora de conflitos e problemas. Assim, ao analisarmos a atual situação da sociedade brasileira, nota-se que não é condizente com a referência do escritor, afinal surgem más influências através de grandes nomes na internet, assim como quando surgiu o jogo “Baleia Azul”, onde um grupo de jovens se reuniram e divulgaram o tal. Consistia em cada jogador realizar 50 desafios, contudo, o último era acabar com suas próprias vidas. [7] Ademais, os “influencers” [8] ultimamente estão realizando inúmeros procedimentos estéticos, outrossim elevando e impondo os padrões de beleza, um grande impasse para os jovens no século XXI. Tudo isso gera uma falsa realidade, fazendo com que estes acreditem que estão fora do “padrão” [9], desenvolvendo baixa autoestima, e transtornos.
Somando a isso [10], a persuasão que influênciadores [12] têm é de grande relevância [18], têm o poder de fazer os navegadores adquirirem produtos, em que as vezes não são aquilo que foi divulgado. Segundo Eisntein tornou-se chocantemente óbvio, que a tecnologia excedeu a humanidade, fazendo ligação com a questão da população brasileira atual ser facilmente influenciada, e dependente das redes sociais. [13]
Convém, portanto [11], ao Governo em parceria com o Ministério da Educação, através de campanhas, programas escolares, dinâmicas e debates , instruam crianças e adolescentes sobre os pontos negativos relacionados a [14] influência digital. Dessa forma os jovens serão menos sucetíveis [15] ao poder que as redes midiática [16] possuem, pois garantir o bem-estar da população, é garantir a ordem e progresso da nação. [17]
Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação.
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
- [2] Retire a acentuação.
- [3] Retire a acentuação.
- [5] Retire a acentuação.
- [8] Retire as aspas.
- [9] Retire as aspas.
- [12] Retire a acentuação.
- [14] Inserir crase.
- [15] Grafia incorreta.
- [16] Concordância verbal incorreta.
- [21] Seu texto apresentou precisão vocabular e obedeceu às regras gramaticais. Parabéns! O domínio da norma culta será fundamental para construção de sua nota no exame do Enem.
Competência II: compreender a proposta
- [1] Tese bem explícita.
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
- [6] Boa abordagem.
- [7] Boa abordagem.
- [18] Dê progressão a essa ideia.
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
- [10] Boa escolha no uso do conectivo!
- [11] Boa escolha no uso do conectivo.
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
- [17] Proposta completa.
Comentário final
Olá! Tudo bem? Aprofunde sempre muito bem todos seus argumentos depositados no decorrer de sua redação para que fique clara a ideia que você pretende passar ao leitor e, no mais, se atente aos desvios sinalizados no corpo de seu texto, para que sua pontuação não seja novamente prejudicada. Bons estudos!
Nota: 960
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