Samba, cordel, carnaval, boi-bumbá: você sabe o que todas essas palavras têm em comum? Acertou quem disse que são todas formas de manifestação da cultura popular brasileira. Mas você sabia que elas não são as únicas?
A cultura popular é fundamental para a manutenção da identidade de um povo — o que faz dela um excelente tema de redação de vestibular. Mas, para que você entenda por que ela deve ser protegida e incentivada sempre que possível, é importante entender, primeiro, as suas principais características, exemplos e como ela se diferencia de outros tipos de cultura. Vamos lá?
O que é?
A cultura popular é um tipo de cultura construída em conjunto, a partir da interação entre pessoas de determinadas regiões. Assim, diz respeito aos comportamentos, símbolos e crenças sociais de um grupo de indivíduos que compartilha características em comum — como a região em que vive, por exemplo.
Em um país tão grande quanto o Brasil, não surpreende que as culturas em cada região sejam muito diferentes. Afinal, nosso povo foi submetido a diferentes climas, influências e tradições, criando, desse modo, costumes diversos e próprios.
A cultura popular está intimamente associada ao modo de vida das pessoas, de modo que reúne elementos e tradições desses indivíduos. Por isso, pode ser observada em diferentes manifestações, como a arte, a religião, os hábitos, o artesanato, o folclore, os costumes etc.
Quais as características?
A principal característica da cultura popular é o seu caráter comunitário, que envolve a participação ativa de todos os indivíduos que a constroem. Isso porque a cultura popular só pode existir quando as pessoas que a compartilham continuam se esforçando para que ela se mantenha viva.
Outro aspecto fundamental da cultura popular é, portanto, a passagem dessas crenças, hábitos e símbolos de geração para geração. Desse modo, a tradição pode se manter viva ao longo dos anos.
Essa passagem, aliás, é, em geral, feita oralmente — outra característica desse tipo de cultura. Uma vez que está enraizada no folclore e nas lendas locais, a importância da transmissão oral, da contação de histórias e da perpetuação de lendas mantém a cultura popular viva.
Por fim, mas não menos importante, ainda podemos destacar a capacidade de adaptação da cultura popular. Além de integrar elementos de outras culturas, como a cultura de massa, ela também se adequa aos novos padrões de vida, às novas tecnologias e aos comportamentos dos indivíduos que a formam. Assim, reúne elementos cada vez mais diversos, mantendo-se viva, ainda que modificada.
Conheça os principais exemplos de cultura popular brasileira
Agora que você já sabe o que é a cultura popular, que tal conhecer alguns dos principais exemplos da sua manifestação no Brasil? Abaixo, você confere como ela se manifesta na literatura, na música, na dança e nas festas do nosso país.
Literatura popular
O principal exemplo de cultura popular na literatura é, talvez, a literatura de cordel, uma manifestação cultural comum do nordeste brasileiro que tem a linguagem regional e a contação de histórias como principais características.
Os pequenos livros, pendurados em barbantes ou cordas, contam histórias do povo do interior nordestino a partir de uma narração melódica e das xilogravuras — uma outra técnica de arte bastante particular da cultura popular brasileira.
Para além dela, porém, também podemos citar as lendas de folclore, passadas de geração em geração e responsáveis por manter viva a memória dos nossos povos originários. Algumas das principais produções brasileiras, inclusive, se baseiam nessas lendas, como é o caso do famoso Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Por fim, os ditados e provérbios também são uma forma de literatura popular. Quem nunca ouviu um parente mais velho usando uma expressão super diferente, mas que se adequava perfeitamente à situação? Vale lembrar que os ditados são uma maneira de reforçar nossas crenças e nossos valores e, por isso, também integram esse tipo de cultura.
Música popular
A música popular brasileira, também conhecida como MPB, já é uma expressão da cultura popular. O gênero está, em geral, associado a ritmos tradicionais do Brasil, e as letras também costumam falar sobre o dia a dia da população. Veja, por exemplo, “Como nossos pais”, de Elis Regina, ou “Cálice”, do Chico Buarque, ou mesmo “As rosas não falam”, do Cartola.
Outro ritmo que faz parte da música popular é o samba e, por consequência, a Bossa Nova, ambos surgidos do subúrbio carioca. Além de falar sobre o dia a dia do povo, as músicas falam de amor, de crenças populares e das lutas vividas no cotidiano.
Além desses, não poderíamos esquecer das cantigas de roda — um gênero musical que associa a música às lendas e à contação de histórias. Por isso, é tradicionalmente um elemento da cultura popular, e, mesmo depois de tantos anos, continua atravessando gerações.
- Leia também: Críticas sociais em músicas: veja como citá-las
Danças populares
As danças populares estão associadas não só às músicas populares, mas também a diferentes eventos e festas que acontecem nas diversas regiões do país. Assim, reúnem elementos de várias outras manifestações artísticas para contar uma história.
Uma das danças populares mais conhecidas é o frevo, uma dança folclórica típica de Recife, muito lembrada pelas roupas coloridas e pelo uso de um pequeno guarda-chuva nas coreografias.
Além dela, também podemos citar a quadrilha, dança tradicional das festas juninas. Apesar de surgir, originalmente, na corte europeia do século XIX, ela é trazida para o Brasil pelos portugueses e rapidamente apropriada pela cultura popular brasileira.
E lembre-se: cada região do país tem a sua dança “tradicional”. No Rio de Janeiro, existe o funk; no Pará, o carimbó; em Pernambuco, o maracatu. E assim por diante.
Festas populares
O carnaval é o maior exemplo de festa da cultura popular brasileira. Para além das fantasias, os desfiles e trios elétricos reúnem muitos dos principais elementos da nossa cultura, homenageando-os e reforçando a sua importância.
Outro exemplo bastante comum em todo o Brasil é a festa junina. Embora adquira características próprias em cada estado, a celebração junina, com a quadrilha e a música tradicional, é uma forma de compartilhar lendas e hábitos que antecedem inclusive a Igreja Católica, embora a festa tenha sido por ela “apropriada”.
Por fim, as diferentes regiões do país fazem, ainda, as suas festas tradicionais, como o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, ou o Bumba meu boi, em diferentes partes do Norte e do Nordeste do país. Cada uma delas reúne elementos típicos da região, além de reforçarem características importantes para aquele povo.
Qual a diferença entre cultura de massa e cultura popular?
Embora tenham nomes bastante parecidos, a cultura de massa e a cultura popular não são a mesma coisa. Isso porque, enquanto a cultura popular está intimamente ligada a uma manifestação tradicional de um povo, a cultura de massa é marcada pela impessoalidade.
O principal objetivo da cultura de massas é atingir o maior número de pessoas possível, uma vez que está associada ao consumo excessivo de alguma coisa — uma ideia, um produto, uma ideologia etc. Para isso, portanto, é fundamental que ela use alguns elementos populares, mas se mantenha o mais “neutra” possível. Por isso, a inautenticidade e a ausência de distinções são duas de suas principais características.
A cultura popular, por sua vez, vai no caminho oposto: ela quer reunir indivíduos que já tem algo em comum e que querem reforçar seus valores, crenças e saberes. Desse modo, ela é produzida e consumida por um “nicho” muito menor. Além disso, não tem um foco comercial — mesmo nos casos em que há grandes movimentações financeiras, como é o caso do Carnaval.
Qual a diferença entre cultura popular e cultura erudita?
A principal distinção entre a cultura popular e a cultura erudita está na acessibilidade: enquanto a cultura popular é acessível a todos, surgindo de maneira espontânea e refletindo a identidade de um povo, a cultura erudita está associada a um conhecimento específico, que só pode ser obtido por meio do estudo formal.
Nesse sentido, a cultura erudita também é mais uniforme: ela apresenta uma única visão de mundo, desconsiderando as características de cada pessoa e de cada ambiente. A cultura popular, por sua vez, é mais dinâmica e adaptável.
Por fim, a cultura erudita está intimamente conectada a um maior poder econômico. Porque reflete valores específicos e depende de um conhecimento adquirido, ela requer que seus integrantes façam parte de um grupo bastante restrito, com acesso a viagens, livros, músicas e obras de arte geralmente mais caras e de difícil acesso. A cultura popular, no entanto, se ergue a partir dos conhecimentos populares e, por isso, costuma estar acessível inclusive de graça.
Exemplo de redação sobre o tema: A importância da cultura popular na construção e na valorização da história brasileira
Durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em 2016, músicas, danças e narrativas brasileiras, resultantes das interações entre indígenas, africanos, europeus e imigrantes, foram apresentadas para espectadores do mundo inteiro. A partir desse gesto, manifestações como o samba e a capoeira foram celebradas, contribuindo para a manutenção da identidade nacional. Diante desse contexto, depreende-se que a importância da preservação da cultura é destacada, principalmente, ao se observar sua ação contra as intolerâncias e seu papel na formação dos jovens. [1][2]
Em primeira análise,[3] percebe-se que a valorização da história popular é fundamental para o respeito às divergências sociais e regionais. Nesse sentido, o Modernismo, escola literária voltada à revisão crítica do passado histórico, teve importante papel no relato da cultura cotidiana brasileira, ao divulgar obras que continham particularidades linguísticas de diferentes populações. Nesse aspecto, os textos literários propiciaram o reconhecimento de elementos culturais oriundos da miscigenação e reforçaram a tolerância e a admiração às diferenças presentes entre estados. Dessa forma, é evidenciado o caráter agregador da divulgação das múltiplas raízes e identidades dessa nação altamente diversificada. [4]
Associado a isso, analisa-se que a juventude, cada vez mais imersa na realidade digital e globalizada,[5] tende a demonstrar uma frágil ligação com a cultura local. Nesse cenário, canções, vestimentas e tradições de outras nações e continentes estão, muitas vezes, mais presentes no dia a dia e na referência de crianças e adolescentes do que as práticas populares e folclóricas regionais. Nessa conjuntura, a exemplo da grande popularização juvenil do pop coreano, estilo musical proveniente da Ásia, a globalização cultural, fenômeno de troca positiva entre diferentes realidades, pode tornar-se um obstáculo para a preservação da identidade local, caso as politicas de manutenção não sejam efetivas.
Portanto,[6] infere-se que a valorização histórica brasileira é necessária para que sejam garantidos o respeito e a proteção das representações identitárias. Desse modo, é preciso que a Secretaria de Cultura de cada estado promova a construção de centros de preservação cultural, por meio de ambientes voltados à aprendizagem prática de ritmos, características culinárias e linhagem histórica de cada povo, com enfoque para as contribuições derivadas da África e das populações nativas e visando à interação entre centros de diferentes localidades do Brasil, a fim[8] de que concretizem-se a perpetuação e o reconhecimento dos hábitos e costumes populares.[7]
Comentários sobre a correção da redação
Veja os comentários do corretor sobre a redação.
Competência I: demonstrar domínio da norma culta
- [8] Seu texto apresentou precisão vocabular e obedeceu às regras gramaticais. Parabéns! O domínio da norma culta será fundamental para construção de sua nota no Enem.
Competência II: compreender a proposta
- [1] Apresentou boa compreensão da proposta, atendendo à delimitação temática.
- [2] Muito bem! Explicitou logo na introdução a tese a ser defendida.
Competência III: selecionar e relacionar argumentos
- [4] Ótimo argumento, muito bem!
- [5] Para extrapolar os textos motivadores, traga mais dados para sustentar a argumentação.
Competência IV: conhecer os mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
- [3] Excelente! O texto foi articulado de forma muito eficiente, deixando clara qual informação e interpretação que gostaria que o leitor tivesse.
- [6] Não houve inadequação no uso de conectivos, nem repetição de palavras, o que contribuiu para a leitura fluida e agradável da redação. Muito bem!
Competência V: elaborar a proposta de intervenção para o problema
- [7] Excelente! Você resolveu os problemas apresentados na argumentação e, ainda, compreendeu muito bem o que é necessário conter na proposta de intervenção.
Comentário final
Sua redação está muito boa. Você redigiu bem e desenvolveu ótimos argumentos. Apenas traga dados que possam evidenciar seus argumentos. Bom estudo.
Nota: 960
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