Muita gente ainda acha que o romantismo refere-se somente às relações românticas. Contudo, muito além disso, o romantismo foi uma escola literária que surgiu na Europa no século XVIII e valorizou a subjetividade, o sentimentalismo e o nacionalismo.
Foi a publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther, do alemão Johann Wolfgang von Goethe, que marcou o início do movimento, em 1774.
Se você vai prestar o Enem ou algum outro vestibular, é muito importante que você tenha muito conhecimento sobres esses movimentos literários. Assim, você consegue encarar qualquer prova de literatura com bastante confiança.
Portanto, neste artigo vamos te explicar tudo sobre o romantismo, onde surgiu, como ocorreu no Brasil, suas gerações, características e principais autores. Bora lá?
Surgimento do romantismo
Como vimos acima, o Romantismo teve seu surgimento na Europa, principalmente na Alemanha, França e Inglaterra, no século XVIII. O movimento nasceu com o objetivo de reivindicar a personalidade sensível e emocional dos indivíduos em detrimento ao domínio da razão muito presente na época.
As principais características do Romantismo foram as bases para a sua definição, que são a fantasia, o sentimento, a paixão e a imaginação. Ele apareceu para reagir contra os pensamentos do Neoclassicismo, outro movimento artístico e cultural, que não possibilitava a liberdade de expressão aos artistas e desvalorizava as suas criações.
O movimento envolveu as áreas artísticas, políticas e filosóficas, e desenvolveu a poesia ultra-romântica e os romances históricos, que se tornaram populares com a ascensão da imprensa, possibilitando o acesso das classes que ainda não tinham contato com os textos literários.
Principais características do romantismo
Essa escola literária foi a primeira a romper com os valores literários clássicos, mais conhecido como o Classicismo dos séculos XV e XVI, que ainda ressaltavam a cultura greco-romana.
Portanto, o romance é considerado o sucessor da poesia épica, presente nas famosas obras clássicas, que narravam viagens na época das Grandes Navegações, como Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, publicada em 1572.
Esse rompimento é visto na prosa, na poesia, que passou a ter versos sem rima, métrica e estrofação, e no aspecto formal clássico que é deixado de lado.
Contudo, na literatura europeia romântica, os heróis nacionais são belos e valentes cavaleiros medievais, porém há uma exaltação à pátria e à história passada, além do sentimentalismo.
Romantismo no Brasil
O início do Romantismo no Brasil é marcado pela chegada da família real, em 1808. Esse corresponde a um período de intensa urbanização, permitindo a divulgação de um campo livre de ideias para as novas tendências europeias.
Porém, após a independência do país, em 1822, os ideais como o nacionalismo, o retorno ao passado histórico, a valorização das coisas da terra e a exaltação da natureza foram crescendo.
As obras consideradas como marco do Romantismo no Brasil são a Revista Niterói e o livro de poesias Suspiros Poéticos e Saudades, que foram publicadas em 1836 por Gonçalves Magalhães.
Vejamos o exemplo de uma poesia da obra Suspiros Poéticos e Saudades:
XXXIV
A FLOR SUSPIRO
Eu amo as flores
Que mudamente
Paixões explicam
Que o peito sente.
Amo a saudade,
O amor-perfeito;
Mas o suspiro
Trago no peito.
A forma esbelta
Termina em ponta,
Como uma lança
Que ao céu remonta.
Assim, minha alma,
Suspiros geras,
Que ferir podem
As mesmas feras.
É sempre triste,
Ensangüentado,
Quer seco morra,
Quer brilhe em prado.
Tais meus suspiros…
Mas não prossigas,
Ninguém se move,
Por mais que digas.
Agora que você compreendeu como o romantismo surgiu no Brasil, vamos falar das suas três gerações que abarcam: os indianistas, os ultrarromânticos e os condoreiros. Falaremos cada uma delas a seguir.
As gerações do romantismo no Brasil
Primeira geração
É chamada de geração nacionalista ou indianista, foi marcada pela exaltação à natureza, que fazia um retorno ao passado histórico, medieval, porém, com a criação do herói nacional, na figura do índio.
Foi por essa alusão ao indígena que se deu o nome dessa fase do romantismo brasileiro.
Nessa fase, recebem destaque os escritores: Gonçalves Dias, José Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre, Manuel José de Araújo Porto Alegre, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e José Martiniano de Alencar.
Veja o exemplo da famosa poesia Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, publicada em 1847:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Para facilitar sua compreensão, veja as características mais presentes dessa geração:
- brasileirismo (linguagem);
- exaltação da natureza e da liberdade;
- figura do índio ou indianismo;
- nacionalismo-ufanista;
- religiosidade;
- sentimentalismo, emoções.
Segunda Geração
A segunda geração do romantismo também é conhecida com “mal-do-século” ou ultrarromântica, que foi intensamente influenciada pela poesia de Lord Byron, um dos principais poetas britânicos do romantismo.
A fuga da realidade manifestada na idealização da infância, nas virgens sonhadas e na exaltação da morte passa a ser o tema preferido dos escritores.
Confira as características marcadas por essa geração:
- egocentrismo e individualismo;
- escapismo;
- fuga da realidade;
- pessimismo e melancolia;
- profundo subjetivismo;
- saudosismo;
- sentimentalismo exacerbado.
Os principais nomes dessa geração foram: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela, Manuel Antônio Álvares de Azevedo, Luís Nicolau Fagundes Varella e Pedro Luziense de Bittencourt Calasans.
Acompanhe o exemplo de um trecho da obra Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, publicada postumamente em 1853.
Lembrança de Morrer
(…) Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai… de meus únicos amigos,
Poucos – bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores. (…)
Terceira Geração
Já a terceira geração do romantismo é chamada de condoreira. Ela foi caracterizada por uma poesia com um viés mais social e libertário. Nela se podem observar as lutas internas da segunda metade do reinado de Dom Pedro II.
Essa geração sofreu intensamente a influência das ideias de Victor Hugo, um poeta francês, com sua poesia político-social. Como consequência disso, essa fase também é chamada de “geração hugoana”.
Já o termo condoreirismo é consequência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: a ave condor, uma águia que habita o alto da cordilheira dos Andes.
Confira as características dessa geração:
- abolicionismo;
- erotismo;
- liberdade;
- negação do amor platônico;
- pecado;
- realidade social.
Seus principais representantes foram Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto de Meneses, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo e Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero.
Veja o exemplo de um trecho da obra Navio Negreiro, Castro Alves, publicada em 1869:
Canto VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
E aí? Gostou de saber mais sobre o romantismo? Esperamos que este artigo tenha sido útil para você ver como se diferem cada uma das suas gerações ocorridas no Brasil. Agora, para continuar o seu aprendizado, veja o próximo artigo sobre o pré-modernismo e arrase nas provas! Boa leitura!