Todo estudante que está se preparando para fazer o Enem sabe que os dias de prova são quase uma maratona, principalmente na data em que é preciso realizar a redação. Só neste dia, além de responder as 45 questões de Linguagens e Códigos e 45 de Ciências Humanas, os candidatos também precisam ler e entender o tema, pensar num exemplo de uma boa redação, elaborar um rascunho e escrever o texto final. Tudo isso em apenas cinco horas e meia.
Não bastasse a quantidade de tempo e de questões para responder, outra dificuldade encontrada é o tema da redação Enem, que só é revelado na hora da prova e pode se tornar uma grande surpresa para muitos estudantes.
Para ajudar você a saber melhor como funciona a estrutura da redação, vamos apresentar, neste artigo, o exemplo de uma boa redação, passando pelo entendimento do tema, introdução, desenvolvimento e conclusão. Bora conquistar uma redação nota 1000?
Exemplo de uma boa redação nota 1000
Ler outras redações dos exames passados, principalmente as que tiveram nota 1000, pode ser uma boa forma de aprender mais sobre as exigências da escrita do texto dissertativo-argumentativo. Afinal, essa etapa impacta a sua pontuação final.
O texto dissertativo-argumentativo é um gênero textual cobrado nas provas de vestibular e no Enem. Nele, o autor precisa defender seu ponto de vista utilizando vários argumentos. No caso do Exame Nacional do Ensino Médio, esse tipo de texto discute assuntos socialmente relevantes do Brasil e nele é exigido a apresentação de uma proposta de intervenção para os problemas apontados na argumentação.
Para demonstrar com o exemplo de uma boa redação, vamos apresentar a redação nota 1000 do ano de 2019, da candidata Amanda Rocha, de 21 anos, da cidade Itaituba (PA).
O tema proposto para o exame daquele ano foi a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Vamos ver como a Amanda elaborou a estrutura da sua redação, mostrando como ela soube aplicar as competências exigidas.
1. Introdução
A construção dos feudos, muros que delimitavam uma determinada área no período da Idade Média, segregou milhares de pessoas e impossibilitou o acesso a bens que somente a nobreza podia usufruir. Semelhante a essa época, no contexto brasileiro contemporâneo, o cinema é um dos inúmeros meios de democratizar a cultura, mas ainda é “feudalizado”, já que grande parte da população continua alheia a esse serviço. Então, tanto a concentração das salas de teledramaturgia em regiões mais desenvolvidas economicamente, quanto os exorbitantes preços dos ingressos e alimentos, vendidos com exclusividade pela empresa proprietária, mutilam a cidadania e consagram importantes simbologias de poder.
Perceba no exemplo de uma boa redação, que na parte de introdução, a autora fez uma contextualização histórica com o período da Idade Média e deixou claro qual é a sua tese abordada no texto: o cinema como acesso à cultura. Além disso, ela também apresentou os problemas que envolvem esse assunto, relatando que muitas pessoas ainda não possuem esse direito devido a fatores como localização e pelo elevado preço dos ingressos e alimentos nesses ambientes.
2. Desenvolvimento
Nessa perspectiva, a cultura é imprescindível para a identidade de um povo e, indubitavelmente, o cinema é uma fundamental ferramenta de inclusão e de propagação de valores sociais. Entretanto, de acordo com o geógrafo Milton Santos, no texto “Cidadanias Mutiladas”, a democracia, extremamente necessária para a fundamentação cultural do indivíduo, só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo social, ou seja, na medida em que os direitos são universais e desfrutados por todos os cidadãos. Dessa maneira, a concentração das salas de cinemas em áreas com alto desenvolvimento econômico e o alheamento de milhares de pessoas a esse serviço provam que não há democratização do acesso à cultura cinematográfica no Brasil, marginalizando grande parcela da sociedade desprovida de recursos financeiros.
Outrossim, os preços abusivos de ingressos, a divisão das salas em categorias de conforto e a proibição de entrada de bebidas e alimentos, que não sejam vendidos no estabelecimento, dividem, ainda mais, a sociedade. Isso pode ser explicado pelo teórico Pierre Bourdieu, o qual afirma que todas as minúcias de um indivíduo constituem simbologias que são constantemente analisadas pelo corpo social, isto é, o poder de compra, as características pessoais e o acesso a bens e serviços refletem quem é o homem para outrem. Dessa forma, o alto custo praticado pelas redes cinematográficas violenta simbolicamente aqueles que não conseguem contemplar as grandes telas e aumenta a desigualdade.
Note que no desenvolvimento ou argumentação, a autora defende a sua tese utilizando dois bons argumentos de autoridade, confirmando que os problemas apresentados por ela no começo da redação, concordam com o que dizem um geógrafo e um sociólogo.
3. Conclusão
Portanto, cabe à iniciativa privada, em parceria com os estados e municípios, promover a interiorização das salas de teledramaturgia, por meio da construção de novos empreendimentos em áreas distantes dos pólos econômicos e da redução dos custos para o consumidor de baixa renda, incentivando, então, a cultura mais democrática. Além disso, é responsabilidade da Ancine, Agência Nacional de Cinema, estabelecer um canal de comunicação mais efetivo com o telespectador, por intermédio de aplicativos e das redes sociais interativas, para que denúncias e reclamações sobre preços abusivos possam ser realizadas. Como efeito social, a democratização do cinema no Brasil será uma realidade, destruindo, assim, barreiras e “feudos” sociais“.
Já na conclusão, a autora sugere, com detalhes, duas ações para o problema exposto: apresentando quais agentes podem promover essa solução, de que maneira e com qual objetivo. Assim, ela sugere a ampliação das salas de cinema em regiões distantes, pelas empresas de cinema, e o estabelecimento de um controle dos preços dos ingressos, cabendo à Ancine. Para ela, dessa forma, é possível obter uma real democratização do cinema no Brasil.
Por fim, observe no exemplo de uma boa redação, como a autora também:
- apresentou bom uso da gramática e da norma-padrão da língua portuguesa;
- fez bom uso do seu repertório vocabular;
- utilizou bem os elementos de coesão e coerência textual;
- respeitou os direitos humanos, estabelecidos na Declaração Universal redigida pela ONU.
Portanto, ela conseguiu aplicar todas as cinco competências exigidas no Enem, que são:
- demonstrar domínio da norma culta da língua portuguesa
- compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo
- selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
- demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
- elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Viu como ler o exemplo de uma boa redação pode ajudar você a conquistar melhores notas no Enem? Agora, para ficar de boa na hora de escrever, leia nosso próximo artigo e veja como desenvolver uma boa redação e conquiste sua nota 1000!